'Ladrão', 'vergonha', 'vagabundo'. Essas foram algumas das palavras ouvidas pelo uruguaio Andrés Cunha e seus assistentes, responsáveis pelo apito em Cruzeiro 1x1 Boca Juniors, jogo de volta das quartas de final da Copa Libertadores disputado nesta quinta-feira, no Mineirão. Diferentemente dos torcedores e do presidente Wagner Pires de Sá, o técnico Mano Menezes não usou nenhum tipo de xingamento para se referir à arbitragem. Só que o tom áspero das respostas em determinadas perguntas evidenciaram a grande insatisfação do comandante com o juiz, mais do que com própria eliminação.
Na visão de Mano Menezes, não houve falta de Dedé no lance que originou o gol anulado de Barcos, aos 46 minutos do primeiro tempo, quando o placar indicava 0 a 0. Andrés Cunha marcou infração por entender que o zagueiro cruzeirense praticou jogada perigosa ao levantar o pé próximo ao rosto do goleiro Agustín Rossi. No segundo tempo, outro lance polêmico: o juiz chegou a apontar pênalti de Olaza em Arrascaeta, porém voltou atrás ao ser avisado por um assistente que Barcos, responsável pelo passe para o camisa 10, encontrava-se em posição de impedimento. A parte disciplinar de Cunha e até mesmo a péssima atuação do paraguaio Eber Aquino no confronto de ida – expulsou Dedé por uma cabeçada acidental no goleiro Esteban Andrada – também foram citadas pelo treinador.
“Quando nos tocou enfrentar o Boca nas quartas de final, sabíamos que seriam dois jogos grandes e difíceis pela qualidade do adversário, mas que também tínhamos condição de passar. Quando dois grandes se enfrentam, um passa e outro fica. Gostaria que fosse apenas o jogo dentro de campo que determinasse a passagem. Porque aí estaríamos parabenizando o adversário como sempre fizemos em todas as situações em que perdemos, pois no futebol há de se saber perder quando se perde. Mas não foi isso que vimos nos 180 minutos. O fato foi tão absurdo que, numa decisão inusitada, a Conmebol liberou o Dedé para o segundo jogo. Isso é assumir o erro grosseiro que aconteceu lá. O jogo naquele momento (quando Eber Aquino expulsou Dedé na Bombonera) era 1 a 0 para o adversário, já era um placar diferente em relação ao que seria aqui, aí acabamos tomando o segundo gol. Viemos aqui para um jogo de superação, pois reverter 2 a 0 contra uma grande equipe é difícil. Nós nos entregamos, fizemos um jogo não de muitas oportunidades, mas de oportunidades para vencer. Mas, para nossa surpresa, desde o início houve faltinhas aqui, condescendência com paralisações, e na minha opinião fizemos um gol legal na primeira parte do jogo. Um gol mal anulado. E saímos dessa forma. É isso que me deixa chateado. Não tenho nada que reclamar da equipe, a equipe se entregou, tem suas limitações porque todos tempos. Mas mesmo tendo essas limitações, poderíamos ter passado do adversário se as coisas tivessem transcorrido dentro da normalidade. Mas vamos tocar a vida depois disso”.
Para Mano Menezes, é difícil fazer qualquer tipo de avaliação técnica sobre a equipe quando há interferência externa. “Sempre falta algo, senão teríamos passado. Mas hoje poderíamos ter feito mais que não teríamos passado. O problema está aí. Não se pode tirar coisas tão graves em 180 minutos para fazer de conta que elas não aconteceram e discutiram parte técnica. Temos que discutir parte técnica quando as coisas forem normais. As coisas não foram normais. Você sabe que não foi normal. Então não dá para discutir normal”.
Eliminado na Copa Libertadores, o Cruzeiro se concentra agora na final da Copa do Brasil. Na quarta-feira (10/10), às 21h45, no Mineirão, haverá o primeiro jogo da decisão, contra o Corinthians. Ao elogiar o comportamento dos torcedores, que aplaudiram os atletas após a eliminação para o Boca, Mano vê o grupo fortalecido para ir em busca do hexa na competição nacional e garantir vaga na fase de grupos da Libertadores de 2019.
“Torcedor do Cruzeiro foi brilhante no estádio. Não temos nada a reclamar, somente elogiar. Ele nos ajudou muito e até entendeu as dificuldades que tínhamos. E a entrega dos jogadores foi na mesma proporção. Foi por isso que ele aplaudiu a equipe na final. O torcedor não comemorou, porque quando se perde, time grande não comemora. E torcedor de time grande sabe que não se comemora. Mas aquilo ali foi um gesto de carinho. E esse gesto vai nos dar força no primeiro jogo da final (da Copa do Brasil) para tentarmos fazer o resultado aqui em casa, que é importante para a gente”.