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Cautela em Santiago e pressão em BH: as estratégias de Mano Menezes que definiram goleada do Cruzeiro

Técnico cruzeirense considerou duelos contra a Universidad de Chile como 'um jogo de 180 minutos'. Raposa sobrou em casa e marcou sete gols

Rafael Arruda
Técnico cruzeirense considerou duelos contra a Universidad de Chile como 'um jogo de 180 minutos' - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press
O técnico Mano Menezes considerou os dois jogos contra a Universidad de Chile como um confronto de 180 minutos pelo Grupo 5 da Copa Libertadores. No primeiro, em Santiago, houve empate por 0 a 0. No segundo, no Mineirão, o time celeste amassou o adversário e enlouqueceu os mais de 34 mil torcedores com sete gols. O placar histórico de 7 a 0 na noite desta quinta-feira fez a Raposa ultrapassar os chilenos na chave e subir para o segundo lugar, com cinco pontos e cinco gols de saldo.

No começo de sua resposta, Mano lembrou as cobranças em cima da equipe em virtude da igualdade no Chile e citou dois esquadrões campeões da Copa Libertadores que encontraram dificuldades para ganhar como visitante.

“Disse antes do jogo da La U, que seria um jogo de 180 minutos. Que teríamos que nos cuidar nos primeiros 90 lá. Fazer no mínimo um ponto. Disse para vocês e para os jogadores. As pessoas pensam que é fácil ganhar fora na Libertadores.
Eu penso que é difícil. O Cruzeiro foi campeão em 1997, último título do clube, ganhando uma partida fora de casa (1 a 0 sobre o Grêmio, pela fase de grupos). O Vasco foi campeão em 1998, com Antônio Lopes, e ganhou uma partida fora, a última, a final (2 a 1 diante do Barcelona-EQU, pelo jogo de volta da decisão). Isso dá uma ideia de que é uma competição de que o fator local pesa muito, inibe o jogo do visitante. Favorece a confiança de quem manda no jogo”.

Na sequência, o treinador ressaltou que era importante para o Cruzeiro garantir ao menos um ponto em Santiago. Correr o risco de sofrer um gol era desnecessário, já que o time havia perdido do Racing na estreia, por 4 a 2, e empatado com o Vasco na segunda rodada, por 0 a 0. Em Belo Horizonte, a ordem era buscar o ataque e pressionar o adversário intensamente. A vantagem elástica alcançada nesta quinta-feira devolveu a confiança ao elenco cinco estrelas. 

“Estávamos numa situação crítica antes dos primeiros 90 minutos. Poderíamos ambicionar e arriscar nos minutos finais. Criamos quatro chances e La U criou uma. Poderíamos ter vencido, mas como o futebol é muito resultado, às vezes, quando a vitória não vem, as pessoas criticam tudo junto. Mas se poderíamos tentar vencer, também poderíamos tomar um gol num contra-ataque. Como às vezes se toma e tudo tinha ido embora.
Numa competição em que cometemos um pecado só, que é não ter vencido o Vasco como mandante entre as duas finais do Mineiro. Tivemos bastante entendimento, os jogadores sabem muito bem o que pensamos. Traçamos uma estratégia pensando em fazer os quatro pontos, no mínimo. Hoje iniciamos muito bem, com a equipe bem posicionada. Apertamos um time difícil, que toca muito bem a bola. Roubamos bolas na frente. O fato de termos feito isso nos deu uma vantagem inicial de 2 a 0, que deu uma vantagem no jogo. A vitória nos deixa muito feliz por nos colocar de novo na disputa.”

Alguns aspectos apresentados pela equipe favoreceram a construção da goleada. Mano Menezes manteve o habitual 4-2-3-1, mas com Sassá sendo a referência no ataque. Com isso, Thiago Neves pôde jogar em sua função de origem, o meio-campo, enquanto Arrascaeta e Rafinha infernizaram a defesa da La U em lances de velocidade.
Além disso, o time foi orientado a encurralar a saída de bola chilena. Os desarmes no campo ofensivo proporcionaram faltas para o Cruzeiro e as expulsões dos zagueiros Vilches e Echeverría, da La U. O treinador avaliou o modelo de jogo aplicado no Mineirão.

“Do outro lado também tem um time que trabalha, com gente competente, com jogadores de qualidade. Hoje, em certo momento, eles saíram tocando bem, porque têm qualidade. Gostamos sempre de roubar a bola na frente. É muito melhor para os atacantes apertar mais lá, não ter que baixar tanto para defender. São jogadores que têm muita qualidade e muito talento, mas, às vezes, não conseguimos encaixar. Hoje conseguimos encaixar bem. Estudamos bem o adversário, também em função do primeiro jogo. Sentimos as dificuldades dentro do campo, porque, às vezes, fora é uma e lá dentro é outra. O comprometimento dos jogadores foi fundamental para que pudéssemos executar um plano bem feito. Hoje foi perfeito.”

Espaços oferecidos pela La U

O Cruzeiro fez o primeiro gol logo aos 9min, em cobrança de falta de Thiago Neves. Aos 17min, Rafinha ampliou após escorar cruzamento de Sassá. Já aos 43min, Sassá converteu pênalti sofrido por Arrascaeta. Após levar três gols, a Universidad de Chile teve o zagueiro Vilches expulso. No intervalo, o técnico interino Gustavo Flores fez uma mudança no ataque – trocou Pinila por Guerra – e tentou apenas corrigir o posicionamento defensivo da equipe com as peças do primeiro tempo. Na etapa final, mais uma expulsão, do também zagueiro Echeverría. Aí complicou de vez para os chilenos. As tentativas posteriores de reforçar a defesa não deram resultado, e a Raposa marcou mais quatro gols. Mano Menezes viu com estranhamento a postura inicialmente ousada do adversário.

“Se eu tivesse tomando 3 a 0, com dois a menos, não deixaria o meu time atacar. Porque existe uma diferença muito grande entre 3 a 0 e 7 a 0. Sete a zero é algo marcante, quase que para o resto da vida. Essa é a maior goleada da história do Cruzeiro. Um clube centenário, que é um dos maiores vencedores na Libertadores. Não é fácil de se fazer. É muito marcante. Eu não deixaria minha equipe atacar daquele jeito. Não tem sentido. Você dá muitos espaços, como tivemos, e com jogadores com qualidade como temos, invariavelmente vai terminar num placar dilatado. Tem gente que gosta de atacar sempre. Eu acho que, quando o adversário é mais do que você e você está muito mais próximo da derrota, eu não deixo o meu time atacar desse jeito. Às vezes sei que sou criticado por isso, mas é a minha filosofia, o meu entendimento sobre futebol. Eu não exponho os meus profissionais a passar por isso. Eu os respeito muito. Sei como é doloroso para um grupo de jogadores sair de campo após ter tomado um 7 a 0. Jamais deixaria, empurraria meu time para isso. Aconteceu hoje, aproveitamos os espaços do adversário. Às vezes você não tem capacidade para aproveitar. Hoje tivemos, fomos felizes”.

Na próxima quarta-feira, às 21h45, o Cruzeiro visitará o Vasco em São Januário e poderá encaminhar a classificação às oitavas da Libertadores em caso de vitória. Antes, enfrentará o Internacional no domingo, às 19h, no Beira-Rio, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro. Em dois jogos na Série A, o time mineiro perdeu para Grêmio e Fluminense, ambos por 1 a 0.



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