Uma discussão acalorada entre o presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Zezé Perrella, e o ex-presidente do clube, Gilvan de Pinho Tavares, marcou a reunião entre membros do conselho na noite desta quarta-feira, no Salão Nobre do Parque Esportivo do Barro Preto, em Belo Horizonte. Houve versões diferentes a respeito do balanço financeiro referente a 2017. Enquanto Perrella defendeu o adiamento da votação, o que acabou sendo confirmado neste encontro, Gilvan queria a imediata apreciação por considerar que houve tempo hábil para a divulgação dos números aos conselheiros.
Na saída do local da assembleia, Zezé Perrella atribuiu o adiamento da deliberação ao fato de os conselheiros não terem tomado conhecimento sobre as demonstrações financeiras do Cruzeiro.
“A votação foi suspensa cumprindo um pré-requisito legal. Os conselheiros têm de receber o balanço no mínimo com 15 dias de antecedência, e isso não foi feito. A diretoria não entregou esse balanço em tempo hábil em função da auditoria que contrataram. Não me senti confortável para colocar em votação correndo o risco de amanhã um conselheiro qualquer que não concordasse colocasse a questão na Justiça dizendo que não cumprimos o prazo legal. Esse prazo não foi cumprido porque a diretoria executiva infelizmente demorou a entregar os balanços. E os conselheiros não podem aprovar um balanço ao qual não tiveram acesso ainda. Então achei por bem suspender”.
De acordo com o presidente do Conselho, o balanço financeiro pode ser divulgado mesmo que não tenha passado pelo consentimento dos conselheiros. Por conta do prazo apertado e o risco de sofrer sanções, como o afastamento do presidente em exercício Wagner Pires de Sá, o clube publicará sua contabilidade até sexta-feira em jornais de grande circulação do estado.
Depois da entrevista de Perrella, Gilvan foi procurado pela reportagem do Superesportes e contradisse a versão de seu antecessor na presidência do Cruzeiro. O ex-dirigente garantiu que o documento com todas as movimentações financeiras do clube foi disponibilizado para distribuição ao conselho no dia 3 de abril. Ele ainda acusou o senador da República de nem sequer comparecer à sede para tratar de assuntos de interesse do órgão fiscalizador da agremiação.
“A responsabilidade de passar o balanço aos conselheiros com antecedência era dele, presidente do Conselho Deliberativo.
Conforme o relato de Gilvan Tavares, Zezé passaria a maior parte de seu tempo em Brasília e seria representado no Barro Preto por um funcionário particular denominado Rogerinho. “Ele colocou um funcionário dele do Senado, um tal de Rogerinho, para tomar conta do cargo para o qual ele foi eleito no Conselho. O Perrella nunca veio aqui, hoje foi a primeira vez, e ainda veio conversar fiado dizendo que não teve tempo para votar o balanço”.
Superávit de R$ 30 milhões
O balanço das contas da gestão de Gilvan de Pinho Tavares apontou um superávit de R$ 30 milhões em 2017. Zezé Perrella atribuiu o lucro no ano passado a um suposto adiantamento de R$ 96 milhões em receitas referentes a direitos de transmissão de TV.
Para Zezé, não haverá problema por parte do conselho em validar a contabilidade de Gilvan, desde que exista um conhecimento amplo de todos os envolvidos. “Acho que o balanço será aprovado, tem tudo para ser. Não está se discutindo se a diretoria foi ou não foi competente, mas sim se os números estão corretos. E hoje eu digo: a dívida do Cruzeiro é de R$ 380 milhões. Ficou bem explicitado no balanço”.
À reportagem, no entanto, Gilvan de Pinho Tavares voltou a dar versão diferente, assegurando uma antecipação de 'apenas' R$ 9 milhões.
À reportagem, no entanto, Gilvan de Pinho Tavares voltou a dar versão diferente, assegurando uma antecipação de 'apenas' R$ 9 milhões.
“Mentira dele (sobre antecipação de R$ 100 milhões). Está no balanço. O que foi antecipado foram R$ 9 milhões de cota de pay-per-view, porque o Cruzeiro teve boa administração na minha gestão, foi o quinto clube que mais vendeu pay-per-view. Só isso foi antecipado, R$ 9 milhões, só isso. O Cruzeiro não tinha superávit há cinco anos. E não ganhava título. Só na minha gestão o Cruzeiro tem dois Brasileiros, uma Copa do Brasil, e todo torcedor do Cruzeiro ficou feliz de ter ver que eu investi time e não vendi todo mundo, como ele fazia. Quando assumi o Cruzeiro, quando ele deixou a direção, não tinha jogador, ele vendeu todo mundo. Eu tive que arregaçar as mangas para não deixar o time cair, e sem jogador, sem receita, com muita dívida para pagar. Paguei divida dele na minha gestão toda, e nunca fiz uma baixaria como essa. Ele só pode estar fazendo isso porque perdeu a eleição, está com raiva. Tivemos superávit depois de muitos anos, e porque consegui ter boas receitas de bilheteria, sócio-torcedor, recuperamos patrocínio da Caixa, não tínhamos patrocinador como eles e sem vender os jogadores. Deixei um elenco de primeira para a nova diretoria sem vender nenhum jogador”.
. Conselheiros terão acesso a balanço nesta quinta
Os conselheiros do Cruzeiro terão acesso às contas do clube nesta quinta-feira. A votação, contudo, só deve acontecer em no mínimo duas semanas. Perrella disse que a dívida total do Cruzeiro é de R$ 380 milhões. Já Gilvan atentou para o patrimônio intangível do clube, uma vez que não realizou grandes vendas em 2017. De fato, o elenco conta com atletas de valores consideráveis no mercado, casos do meia Arrascaeta, do volante Lucas Romero e do zagueiro Murilo. O site alemão Transfermarkt avalia o grupo cruzeirense em 55 milhões de euros (R$ 233 milhões).