Palco do duelo de quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), contra a Universidad de Chile, o Estádio Nacional de Santiago tem importância histórica para o Cruzeiro. Foi lá, em 30 de julho de 1976, que o clube celeste conquistou a sua primeira Copa Libertadores.
O título sobre o River Plate da Argentina, após a vitória por 3 a 2 no duelo de desempate, em campo neutro, colocou o Cruzeiro em outro patamar no cenário internacional. Àquela altura, apenas o Santos de Pelé (1962 e 1963) havia conquistado a Copa Libertadores entre os clubes brasileiros.
Após título de 1976, o Cruzeiro conquistou outras seis taças internacionais: a Libertadores de 1997; a Supercopa dos Campeões da Libertadores, em 1991 e 1992; a Recopa Sul-Americana de 1998; a Copa Ouro de 1995; e a Copa Master da Supercopa, também em 1995.
Para os cruzeirenses, a expectativa é que a história do clube em Santiago se converta em motivação para os jogadores do atual elenco. O time é lanterna do Grupo 5 da Copa Libertadores, com um ponto em dois jogos, e precisa da vitória sobre La U, nesta quinta-feira, para seguir vivo na briga pela classificação às oitavas de final.
Para os cruzeirenses, a expectativa é que a história do clube em Santiago se converta em motivação para os jogadores do atual elenco. O time é lanterna do Grupo 5 da Copa Libertadores, com um ponto em dois jogos, e precisa da vitória sobre La U, nesta quinta-feira, para seguir vivo na briga pela classificação às oitavas de final.
A decisão
A final contra o River Plate teve três jogos. O Cruzeiro venceu a primeira partida no Mineirão, por 4 a 1, em 21 de julho, com gols de Palhinha (2), Nelinho e Valdo. Em Buenos Aires, a Raposa não segurou os argentinos e acabou sofrendo sua primeira derrota no torneio, por 2 a 1.
Mesmo com saldo de gols favorável nos jogos da decisão, o clube mineiro precisou fazer uma terceira partida, em campo neutro, conforme exigência do regulamento da competição daquele ano. A disputa no estádio Nacional de Santiago foi vencida pelo Cruzeiro, por 3 a 2.
Nelinho marcou os dois primeiros tentos, um deles de pênalti. No segundo tempo, o River chegou ao empate com um lance polêmico. Enquanto jogadores das duas equipes discutiam a formação da barreira, em falta próxima à área de Raul, os argentinos cobraram, antes da autorização do juiz, e marcaram. O árbitro chileno Alberto Martinez validou o gol.
Mas, aos 43 minutos da etapa final, o Cruzeiro tirou a igualdade do placar. Em uma falta próxima à área, Nelinho ajeitou a bola para marcar o seu terceiro gol na partida. Enquanto o lateral tomava distância para a cobrança, o ponta Joãozinho correu à sua frente e marcou um belo gol, selando a vitória e garantindo a taça para o Cruzeiro.
Relatos históricos
Relatos históricos
”Eu tive a maior sorte do mundo, sou um predestinado por Deus. Ninguém esperava que eu batesse aquela falta. Mas eu estava ligado no jogo. Eles tinham empatado batendo uma falta sem que o juiz apitasse. Reclamamos e ele deu o gol mesmo assim. Quando vi todo mundo preocupado com o Nelinho, o goleiro olhando dele para a barreira, o juiz também, (…) não tive dúvidas. O Nelinho tinha me falado que se passasse por cima da cabeça do terceiro homem da barreira, era praticamente gol. Acho que, mesmo que o goleiro estivesse preparado, teria sido gol de qualquer forma”, contou Joãozinho ao Superesportes no especial 40 anos da Libertadores de 1976, produzido em 2016.
O craque recordou também a bronca que levou no vestiário do técnico Zezé Moreira, mesmo tendo sido o herói daquela final. “Vibramos, demos volta olímpica, rezamos e o Piazza ofereceu a conquista para o Roberto Batata (que morreu durante a campanha). Dentro do vestiário, o Zezé veio pra cima de mim. Tudo para ele era muito certinho, nos mínimos detalhes. Me chamou de moleque, irresponsável, falou que eu não poderia ter feito aquilo, que nunca tinha treinado e que era o Nelinho quem deveria bater a falta. Disse que eu não ia voltar com a delegação, que não poderia ter feito aquilo e então outros jogadores e o Furletti entraram no meio. No hotel a gente conversou e ele, mais calmo, aceitou e ficou tudo bem”.
Irmão de Aymoré Moreira, antigo treinador da Seleção Brasileira, Zezé era descrito pelos jogadores como linha-dura, bruto, bravo e até carrancudo. Mesmo com o título em mãos.
Um dos grandes nomes daquela conquista, o ex-lateral-direito Nelinho admite que, em 1976, os jogadores não tinham noção da façanha. “A noção do título? Não tínhamos nenhuma naquele momento. A noção que nós tínhamos, quando terminou o jogo, era a de que conquistamos um título importante, e era felicidade total. Mas, naquele momento, não tínhamos como ter noção exata do que seria isso para a nossa vida, que repercutiria para o resto das nossas vidas, mesmo quando nós parássemos de jogar futebol. É o que está acontecendo até hoje, esse título é lembrado, a jogada do Joãozinho é lembrada e isso, para quem participou como eu, é muito bom".
Titular da meta celeste nas 13 partidas da campanha, o goleiro Raul lembra que o título continental em 1976 confirmou o sucesso de uma geração cruzeirense. "Outro dia me perguntaram qual foi o momento em que o Cruzeiro despontou para o mundo. Eu falei: ‘não teve um momento específico’. Em 1966, vencemos o Santos duas vezes e colocamos Minas Gerais no topo. Aí, depois de algumas tentativas, conseguimos vencer a Libertadores de 1976. Foi uma conquista importante até mesmo para o Brasil, que só tinha o Santos de campeão. Foi bacana, contra argentinos, o que valoriza muito mais".
Além de levantar o troféu da Copa Libertadores de 1976, o atacante Palhinha deixou Santiago em 30 de julho comemorando outro grande êxito. Com impressionantes 13 gols em 11 jogos disputados, ele se tornou artilheiro da campanha. “Era um time muito bom, marcava gol atrás de gol. O título é inesquecível para o torcedor e para nós profissionais da época. O troféu nos marcou muito, é lembrado por todos até hoje. Encontro até hoje jogadores daquele elenco, eu e Piazza encontramos muitos, o próprio Dirceu. Profissionalmente é muito importante para todos que integravam aquele elenco, é um título de Libertadores”.
Reserva de luxo daquele time, Ronaldo Drumond teve a missão de substituir Jairzinho na finalíssima. Saiu-se tão bem, a ponto de participar dos três gols da vitória sobre o River no Estádio Nacional. “No primeiro, disputei a bola com o defensor que colocou a mão e cometeu pênalti. No segundo, driblei o adversário e dei o passe para o Eduardo marcar. E no terceiro, sofri a falta que o Joãozinho entrou na frente do Nelinho e fez o gol”, lembrou-se, bastante orgulhoso, da sofrida vitória por 3 a 2.
A campanha de 1976 foi a melhor do Cruzeiro em Copas Libertadores. Em 13 partidas disputadas, foram 11 vitórias, um empate e uma derrota. A Raposa marcou 46 gols e sofreu 17, somando um saldo de 29. Além do título, o Cruzeiro fez o artilheiro da competição daquele ano: Palhinha, com 13 gols.
Mais sobre o Estádio Nacional
O nome oficial é Estádio Nacional Julio Martínez Prádanos. Ele foi inaugurado em 1938 e tem capacidade para 55 mil pessoas. Na ditadura do general Augusto Pinochet, o local serviu de prisão para cidadãos chilenos e estrangeiros perseguidos pelo governo.
Para que a história não seja esquecida, um espaço da arquibancada preserva os assentos originais e estampa a mensagem: “Um povo sem memória é um povo sem futuro”.
Em 2003, o estádio se tornou Monumento Histórico do Chile. No ano seguinte, foi inaugurado o “Memorial Grécia - Homenagem a ex-prisioneiros e prisioneiras políticas”.
Em 2003, o estádio se tornou Monumento Histórico do Chile. No ano seguinte, foi inaugurado o “Memorial Grécia - Homenagem a ex-prisioneiros e prisioneiras políticas”.
O principal estádio de Santiago também é histórico para a Seleção Brasileira. Nesse palco, o escrete canarinho conquistou o bicampeonato mundial em 1962 ao derrotar a Tchecoslováquia na final por 3 a 1.