Poucos jogadores defenderam as camisas de Cruzeiro e Racing, rivais sul-americanos que se enfrentam nesta terça-feira, às 21h30, no ‘El Cilindro’, em Avellaneda, na Argentina, pela abertura do Grupo 5 da Copa Libertadores. O zagueiro argentino Perfumo, já falecido, o meia colombiano Alexander Viveros e o volante paranaense Ademir talvez sejam os únicos que vestiram o azul e branco dos dois clubes.
No caso específico de Ademir, o coração não ficará nem um pouco dividido nesta noite, quando a bola rolar na Grande Buenos Aires. Em duas passagens pela Toca da Raposa – 1986 a 1992 e 1993 a 1995 -, o volante conquistou o respeito de todos pela entrega com a camisa azul. Foi capitão, campeão oito vezes e chegou à Seleção Brasileira. Em 442 jogos, marcou nove gols. Hoje, aos 58 anos, não esconde sua paixão pelo Cruzeiro e sua gratidão à torcida.
No caso específico de Ademir, o coração não ficará nem um pouco dividido nesta noite, quando a bola rolar na Grande Buenos Aires. Em duas passagens pela Toca da Raposa – 1986 a 1992 e 1993 a 1995 -, o volante conquistou o respeito de todos pela entrega com a camisa azul. Foi capitão, campeão oito vezes e chegou à Seleção Brasileira. Em 442 jogos, marcou nove gols. Hoje, aos 58 anos, não esconde sua paixão pelo Cruzeiro e sua gratidão à torcida.
”Quem viveu o que vivi no Cruzeiro, não esquece. O Cruzeiro é tudo. Joguei no Racing dez meses, entre 1992 e 1993, contra a minha vontade, e não tem comparação. Nem 1% da minha torcida hoje vai para o Racing. É 100% do Cruzeiro. Sou Cruzeiro. Vou ver o jogo e ficar na torcida”, afirmou Ademir, que falou ao Superesportes enquanto cuidava da colheita de trigo no interior do Paraguai, onde tem uma propriedade desde que deixou o futebol, há 23 anos.
Ademir conta que a transferência para o Racing, em 1992, foi uma imposição do então presidente César Masci. “Naquela época, foi engraçado, porque renovei com o Cruzeiro por mais um ano. De repente, o presidente me liga de noite e diz que estava me vendendo para o Racing. Eu falei que não queria ir, mas a legislação não era como hoje. O presidente disse que não teve como negar, pois ele tinha dado a palavra ao Racing e ao empresário que intermediou. Eu estava empolgado com aquele timaço montado pelo Cruzeiro, com Renato Gaúcho etc, e fui à força para a Argentina. Por azar meu, naquele ano, o Cruzeiro foi bicampeão da Supercopa justamente contra o Racing. Eu estava no elenco deles e nem pude jogar, pois já tinha sido relacionado para um jogo do Cruzeiro na competição. Fiquei lá vendo o Cruzeiro comemorar e pensando: podia ter sido bi também”.
O volante tinha sido um dos heróis da conquista da primeira Supercopa do Cruzeiro, em 1991, na final contra o River Plate da Argentina. Depois de levar 2 a 0 no Monumental de Núñez, o time celeste fez 3 a 0 no Mineirão e levantou a taça inédita. Ademir abriu o placar de cabeça. O atacante Mário Tilico completou a vitória que selou a conquista.
Vida na Argentina
Vida na Argentina
Da passagem no Racing, Ademir guardar poucas recordações positivas. O clube argentino vivia uma de suas maiores crises financeiras, tinha salários atrasados, jogadores em greve e o ambiente era ruim. Além disso, ele sentiu certa rejeição por ser brasileiro. “Os jogadores faziam algumas brincadeiras, me chamavam de ‘brasileirito’, faziam algumas piadas. Mas é aquela coisa: quem vive em Belo Horizonte, Minas, conhece o povo, vai estranhar mesmo morar na Argentina. Minas tem o povo mais carinhoso. Lá eu morei num prédio e, durante todo o tempo na Argentina, não teve um bom dia, um boa tarde”.
”Em campo, era engraçado. Eu já achava que marcava muito. Mas lá eles pediam para eu entrar ainda mais duro, que eu chegasse mais. Sempre joguei firme, mas não gostava de ser desleal. Isso eu não gostava lá. Queriam que eu desse pancada mesmo (risos)”, lembra Ademir, que foi chamado para voltar ao Cruzeiro em agosto de 1993. “Quando ligaram e perguntaram se eu queria voltar, disse volto agora, volto correndo. No meu retorno, ainda tive a sorte de conquistar outros títulos importantes, como a Copa do Brasil de 1993”.
Hoje, Ademir tem residência fixa em Toledo, sua cidade natal no interior do Paraná. Em 1995, ele trocou o trabalho no campo de futebol pela agricultura e investiu na compra de terrenos, inclusive no Paraguai. Os grãos produzidos são voltados para a exportação.
Por tocar os negócios da família e estar distante de Belo Horizonte, Ademir acompanha pouco o dia a dia do Cruzeiro. “O que sei é dos nomes que chegaram recentemente, como Fred, Edílson, bom jogador e que vai acrescentar muito pela experiência. O Mano Menezes é um bom treinador e está com um time experiente nas mãos. Numa Libertadores, isso é muito importante, pois existe muita pressão. A pressão psicológica é forte e idade ajuda”.
Pressão na Argentina
Como jogador do Cruzeiro, Ademir enfrentou o Racing em três ocasiões: na final da Supercopa de 1988, vencida pelos argentinos; nas oitavas de final da Supercopa de 1990, que resultou em classificação dos ‘hermanos’; e na semifinal da Copa Máster da Supercopa, dessa vez com avanço cruzeirense. “Infelizmente, não tive o prazer de ser bicampeão da Supercopa pelo Cruzeiro sobre o Racing em 1992. Assisti aquela decisão e lamentei muito de estar do lado argentino (risos). O Cruzeiro tinha um timaço e eu queria ter feito parte dele”.
Por ter vivido a experiência de jogar contra o Racing e a favor também no El Cilindro, Ademir avisa que o Cruzeiro encontrará muita pressão esta noite na abertura da Copa Libertadores. “Antigamente, sem transmissão de TV, a coisa era muito pior. Eles tentavam intimidar mesmo. Na Argentina eles falam que brasileiro é cagão e partem para essas provocações, intimidações. Tentam criar o clima de terror. Mas a coisa hoje é mais vigiada, existem punições e eles ficam mais contidos. Mas o torcedor lá apoia muito quando o time está numa fase boa. A torcida fica perto, incentiva mesmo. Só não acho que haja uma rivalidade específica contra o Cruzeiro. Lá, o Cruzeiro é visto mais como rival do River Plate, do Boca. O Cruzeiro é respeitado pela história internacional que construiu ao longo dos anos”.
Outros jogadores que vestiram as duas camisas:
Roberto Perfumo - zagueiro argentino
Racing – 1962 a 1970 (campeão da Libertadores e Mundial em 1967) - 232 jogos e 14 gols
Cruzeiro – 1971 a 1974 (campeão mineiro em 1972, 1973 e 1974; Taça Minas Gerais, em 1973) - 141 jogos e 6 gols
Alexander Viveros - meia/volante/lateral colombiano
Cruzeiro – 2000 e 2001 (campeão da Copa do Brasil em 2000) - 63 jogos e 6 gols
Racing – 2001 e 2002 (campeão Torneio Clausura em 2001) - 30 jogos