Tão logo saiu vitorioso da eleição presidencial, em 2 de novembro, Wagner Pires de Sá definiu dois homens de confiança para caminhar ao seu lado no próximo triênio à frente do Cruzeiro: Itair Machado, responsável pelo futebol, e Marco Antônio Lage, vice-presidente executivo. Funcionário de carreira da Fiat, o jornalista mineiro, de 53 anos, natural de Itabira, será responsável por fazer uma “grande integração das áreas de comunicação, TI (tecnologia da informação), marketing e comercial”, como ele mesmo explicou ao Superesportes/Estado de Minas.
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Em longa entrevista, o novo dirigente comentou o momento político turbulento e a importância de limpar o nome do clube depois de uma série de polêmicas públicas. Lage detalhou suas ambições no cargo, revelou planos para tornar o Cruzeiro o clube mais digital do país e na terceira maior força do futebol brasileiro, atrás de Flamengo e Corinthians. Por fim, anunciou renovações próximas com os atuais patrocinadores e os projetos para administração do Mineirão e para a criação de um memorial do Cruzeiro já em 2019, dois anos antes do centenário. Leia a entrevista na íntegra.
Conte um pouco da sua trajetória profissional, o trabalho na Fiat... Tudo muito diferente do esporte, não é?
Trabalho na Fiat foi muito rico. Foram 25 anos, período em que nós trabalhamos muito com desenvolvimento e gestão de marca. Comecei como assessor de imprensa, trabalhei antes no jornalismo em Belo Horizonte e em São Paulo. Depois, o trabalho de comunicação empresário me envolveu muito, sobretudo, no aspecto estratégico. Estratégico e de marca. A Fiat era, quando entrei, em 1992, a quarta colocada do mercado e com alto índice de rejeição do brasileiro a marca. A grande missão na Fiat foi recuperar a marca. E isso funcionou, trabalhamos com comunicação bastante agressiva nos anos todos. Trabalhamos um projeto de reputação para a marca. A Fiat saiu do quarto lugar para o primeiro durante 14 anos. Foi um período gratificante e de muitas vitórias.
Quando você saiu da Fiat, deu depoimentos de que queria aproveitar a família, acompanhar o crescimento dos filhos. Esse cargo, vice-presidente executivo, demanda muito tempo. Como pretende conciliar?
Tem uma grande diferença. Quando você se dedica a uma multinacional e cuidava de toda comunicação da Fiat para a América Latina inteira, então a rotina de viagens é muito intensa. Eu não ficava em Belo Horizonte. Eu morava no avião. Isso, realmente, comprometia o convívio com a família. Eu estou no meu segundo casamento. No meu primeiro casamento tenho dois filhos e dois no segundo. E com os meus dois primeiros, embora eu tenha uma relação maravilhosa com eles, são duas pessoas fantásticas, mas ainda sim a convivência foi muito comprometida pelo excesso de viagens. Fiz uma opção, de fato, depois de 25 anos, de ficar mais. Viver mais, participar mais do crescimento deles. É um outro estilo de vida que procurava e chegou a proposta do Cruzeiro. A pegada é outra. O envolvimento, embora seja tão intenso quanto trabalhar na Fiat, é mais local, ele não é tão internacional, embora tenhamos o projeto da internacionalização do clube. É uma rotina um pouco diferente. É mais em Belo Horizonte. Viagens mais planejadas. Mesmo trabalhando muito, poderia ficar mais com a família.
Como surgiu o convite para você assumir os departamentos do Cruzeiro e qual o tamanho desse desafio? E sua ligação com o Cruzeiro, de onde vem?
Sou torcedor do Cruzeiro desde criança. Eu vivi em Itabira, no interior, meu pai tem uma fazenda na zona rural de Itabira. O Wilson Piazza frequentava a fazenda. Ele tinha uma relação familiar com aquela região. Ele frenquentou a fazenda muito para pescar. Depois da Copa de 1970 o Piazza, aquele monstro, campeão mundial frequentando minha casa e a fazenda do meu pai... Ele levava brindes do Cruzeiro, camisetas e, a partir daquele momento, me identifiquei muito com ele e com o clube. Desde então, a família toda é de cruzeirenses. Sempre frequentei o Mineirão, sou sócio-torcedor, acompanhando diariamente as notícias do Cruzeiro, inclusive no Superesportes. Tenho relação, como cruzeirense, muito próxima do clube.
O convite partiu do próprio Wagner. Eu não o conhecia. Eu conhecia o Itair Machado profissionalmente, da época que era do Ipatinga. Negociei muito com ele os patrocínios que negociava com os clubes de futebol na época. Houve a indicação do meu nome dentro dos objetivos da nova diretoria de profissionalizar mais a gestão do clube, integrar marketing, comercial, trazer uma plataforma digital para o Cruzeiro. Eles identificaram no meu nome, que estava disponível no mercado, talvez adequado para essa função. Para esse momento do Cruzeiro.
O Wagner confirmou que você será o vice-presidente executivo do Cruzeiro. É um cargo novo, até aqui o clube nunca teve esse profissional. Explique qual é, exatamente, sua função.
O Wagner está definindo na sua gestão cinco macro-áreas estratégicas para esse projeto de profissionalização de gestão do clube. Uma vice-presidência financeira, que ele está trazendo o Divino, profissional do mercado; o Itair Machado como vice-presidente de futebol; o vice-presidente jurídico que é o Fabiano de Oliveira Costa; Hermínio Lemos, que é um torcedor tradicional, conselheiro, com vasta experiência administrativa. A vice-presidência executiva, que estou ocupando, com esse grande papel de fazer a fusão e a grande integração dessas áreas de comunicação, TI, marketing, comercial e uma integração com todas as outras áreas. Dar um suporte mais inteligente possível e profissional para que o futebol do Cruzeiro, o Itair como vice-presidente de futebol, tenha condição de formar grandes times sempre. Tenha condição de trabalhar com uma grande equipe de futebol, organizada. Sistemas organizados na área do futebol. Isso é o grande valor de um clube de futebol. Ganhar títulos cada vez mais, criar valor através da valorização do elenco e isso, conseqüentemente, vai tornando o clube cada vez mais sustentável.
Até que ponto toda essa turbulência política do Cruzeiro, que se tornou pública, atrapalha seu trabalho? E como transformar tudo isso numa agenda positiva? Imagino que essa seja uma das suas funções, ‘limpar’ tudo que se colocou nos últimos meses
Tem uma agenda política e um clube, como associação democrática, não é muito diferente. Infelizmente, essa campanha causou alguns ruídos nesse sentido. Uma disputa aconteceu e que é saudável. O que não é saudável é quando baixa o nível, vai para um outro nível de debate. O debate quando é o clube, a disputa, a oposição, a concorrência é sempre saudável. Desperta, inclusive, questionamentos e desafios para quem vence, sobretudo. Talvez o presidente Wagner já comentou, o Cruzeiro vinha sempre em composições e nunca houve uma disputa tão acirrada como houve agora. Acho positivo. A disputa acirrada desperta, também, maior interesse e vontade de construir. Quem ganha tem desafio de superar suas propostas para tornar sua gestão mais vitoriosa. Até para demonstrar que quem elegeu a chapa vitoriosa apostou nas pessoas certas.
Além da turbulência política, os números da dívida do Cruzeiro se tornaram públicos. Atrasos de salários, problemas na Fifa e outros escândalos. Como convencer os investidores de que vale a pena se alinhar ao Cruzeiro?
Na verdade, de dívidas. Escândalos não. Felizmente, estamos num clube em que a conduta ética não é colocada em xeque. Nada que aponte para isso. As dívidas dos clubes de futebol são uma realidade do futebol brasileiro. Infelizmente, o futebol brasileiro, com essa potência toda, esse envolvimento de público que existe, essa paixão que existe, esse entretenimento de todas as classes sociais, é bonito no Brasil. O futebol, também como negócio no Brasil, é ilimitado. O Cruzeiro sofre problemas de gestão como a maioria dos clubes sofre. O que a gente precisa de notar é que a marca Cruzeiro é muito forte. O clube é de uma trajetória centenária. Daqui a três anos o Cruzeiro fará cem anos e é uma trajetória de vitórias, de construção, conquistas, de aumento de torcedores. O que a gente precisa fazer é mostrar esse outro lado do Cruzeiro acima de política, de disputas. Tem essa característica, uma associação como o Cruzeiro, quando a bola começa a rolar, quando passa o período eleitoral, as pessoas tendem a se unir. Haverá uma união num projeto comum assim que iniciar a gestão do Wagner. Os propósitos são os melhores possíveis, no caminho da profissionalização, da valorização da imagem do Cruzeiro, da marca Cruzeiro. Vamos formar mais torcedores, conquistar mais títulos.
O Cruzeiro terá a oportunidade de se consolidar como a terceira força do futebol brasileiro. Acho que essa é uma meta ousada, sem dúvida nenhuma ousada, mas Minas Gerais já é um estado de força política e econômica, o Cruzeiro já soma entre 8 e 9 milhões de torcedores, clubes queridos para as gerações que estão chegando. O objetivo, então, é transformar o Cruzeiro em médio-longo prazo na terceira força do futebol brasileiro. Acho que é possível, sobretudo, com a união dos torcedores nesse projeto.
Nesses mais de dois meses trabalhando, já deu pra fazer muita coisa?
É uma fase de transição. De diagnostico, sobretudo. O que estamos fazendo nesse período é conversar com as pessoas, conhecer as pessoas, explicar o projeto de integração que é necessário. A partir de janeiro nós temos esse diagnóstico na mão e vamos fazer esse grupo de gestores, fazer um workshop de trabalho, trazer uma consultoria externa para nos ajudar com uma boa metodologia na elaboração de um mapa estratégico para o Cruzeiro, um mapa administrativo e de gestão. Sabendo onde queremos chegar, que é neste objetivo ousado de ser a terceira força do futebol brasileiro, o que a gente precisa fazer para chegar lá? Em todos os aspectos. Administrativo, financeiro, de gestão mesmo. Futebol, claro, precisamos ganhar títulos e mais títulos. Todos precisam trabalhar para que o futebol ganhe títulos. Essa é a essência do futebol. Se a bola não entrar, nenhuma excelência de gestão vai funcionar em curto prazo. Futebol, diferentemente de uma montadora de automóveis, você não tem esse tempo. Você tem que abastecer a aeronave em pleno voo. No futebol tem que sair ganhando.
Queria te dar a oportunidade, sei que isso é muito amplo, de você contar seus principais planos e projetos para o Cruzeiro
É um plano meio óbvio, mas que no futebol ainda não é tão óbvio assim. É transformar o clube, criar uma plataforma digital eficiente e importante. Nosso objetivo aqui, uma das prioridades, é fazer com que o Cruzeiro seja um dos clubes mais digitais do Brasil. O que significa isso? Se temos nove milhões de torcedores, nós temos que ter a propriedade de ter comunicação permanente e eficiente com esse público. Isso vai nos dar condição e a proximidade, seja do ponto de vista do entretenimento do torcedor, da proximidade dele com o clube, além de ir aos jogos, ir ao Mineirão, ouvir os jogos pelas rádios... Além disso, ter uma comunicação permanente. E do ponto de vista de mercado, isso é importantíssimo. Nossos parceiros de mercado, as marcas, empresas que vão se aliar ao Cruzeiro, também visam negócio. Muitas vezes elas investem para ter visibilidade. Essa visibilidade é garantida pelo Cruzeiro. Mas é preciso que o Cruzeiro contribua com o negócio desse parceiro. O Cruzeiro digital, conhecendo mais seu torcedor, seu sócio, tendo esse nível de conhecimento, é um Cruzeiro que vai ajudar o mercado e o negócio do parceiro a vender mais. Rapidamente, vamos chegar nesse nível para que o Cruzeiro possa atrair mais e mais parceiros mercadológicos.
O Cruzeiro terá um novo diretor de marketing com a ida do Marcone para a comunicação?
Estou buscando no mercado. A ideia é justamente essa, são áreas técnicas. O Cruzeiro tem essa postura na nova gestão. Fazer uma avaliação técnica para que as áreas funcionem. Temos nomes sendo avaliados. Torcedor do Cruzeiro pode ter a certeza que todo o time, não só no marketing, vai trabalhar muito fortemente, com muito afinco, para construir esse objetivo comum de todos.
Sobre os patrocinadores: Caixa, Cemil, Vilma, Uber e Supermercados BH seguem na camisa do Cruzeiro em 2018?
Todos já acenaram para a permanência no Cruzeiro. É claro que existe uma negociação com todos eles para melhorar o valor, até porque o Cruzeiro disputa um campeonato internacional no ano que vem, a Libertadores. Também essa plataforma digital, que a gente espera, em três meses, já estar estruturada dentro do Cruzeiro ou pelo menos iniciar a estruturação. Esperamos que isso contribua mais para a comunicação desses parceiros com seus consumidores, com nossos torcedores, isso é um valor que a gente vai agregar a esses parceiros todos. Vamos ajudar esses parceiros a vender mais, de uma certa forma é isso, melhorar a imagem desses parceiros. Então todos esses patrocinadores já estão confirmados como patrocinadores do Cruzeiro, então a negociação é de ajuste neste momento.
Existe uma meta de arrecadação com patrocinadores? A gente sabe que a marca do Cruzeiro na Libertadores valoriza muito, não é?
Vamos ter uma meta de, pelo menos, nesses primeiros três anos de gestão do presidente Wagner, dessa nova diretoria, que o Cruzeiro dobre o seu faturamento. Acho que o Cruzeiro tem capacidade para isso. Vamos dotar o clube de tecnologias exatamente para isso, é estratégico isso, ajudar mais o parceiro comercial é estratégico nesse aspecto, porque o Cruzeiro fatura entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões no ano atualmente e isso é um número mais ou menos que vem se repetindo nos últimos anos, mas o potencial do Cruzeiro é de dobrar esses números e chegar no nível dos maiores clubes de São Paulo e Rio. Acho que há uma distância muito grande dos clubes de São Paulo e Rio com relação ao Cruzeiro, e é uma distância irreal. Acho que o Cruzeiro tem potencial e deverá estar num patamar superior. Então, temos que diminuir a cada ano essa distância e esse é o nosso objetivo.
A cota de televisão é que faz essa distância aumentar tanto? Vê possibilidade de o Cruzeiro renegociar, diminuir esse abismo?
Esse é um trabalho que precisa ser feito, mas os contratos já estão firmados, são contratos de longo prazo, mas essa é uma das fontes de receita importantes. Mas temos que trabalhar por outras. Televisão é um aspecto, mas a gente precisa trabalhar para ampliar as fontes de receita do clube. O digital vai ajuda nisso. Há possibilidade não de negociar os valores com a televisão, mas mais do que isso de propor novas plataformas, novas parcerias com a própria televisão, com a mídia que domina hoje o entretenimento do futebol. Temos que valorizar o Cruzeiro, trazer o torcedor para mais perto. E o Cruzeiro ter mais audiência, esse é o nosso trabalho. O Cruzeiro precisa aumentar a sua audiência em todos os aspectos. Quanto mais audiência, assim como um veículo de comunicação, assim como um programa de TV, quanto mais audiência você tiver, mais você vai valer. O Cruzeiro vai aumentar sua audiência para valer mais no mercado.
Você já está trazendo novos investidores para o Cruzeiro?
O futebol precisa contar com esses investidores, o futebol é muito caro. E a estrutura do futebol é muito cara. E não tem como ser diferente, pois o Cruzeiro quer ser maior. Isso significa ser mais caro ainda. Mas a gente está trazendo, tem conversas para trazer investidores, claro, investidores que acreditem, que apostem no Cruzeiro. O aspecto principal de um clube como o Cruzeiro é credibilidade. É o investidor entender que, ao investir no Cruzeiro, ele terá um resultado do seu investimento, terá o dinheiro de volta. Isso se faz com títulos, fazendo times bons. E se faz também com credibilidade, com reputação. O Cruzeiro, cada vez mais, vai ser um clube de alta reputação, de grande confiança no mercado. E o Itair vai fazer esse trabalho na outra ponta, que é o trabalho mais importante num clube de futebol. É a gestão do futebol, do esporte. Acho que o Cruzeiro escolheu, sem dúvida, pela minha sensibilidade, pelo que conheço de pessoas, e acho que ele (Itair) é um dos maiores conhecedores de futebol do Brasil. O Cruzeiro está bem servido. E é um homem de uma inteligência privilegiada também. Ele vai desenvolver no Cruzeiro um trabalho espetacular na área do futebol.
O Cruzeiro tinha um parceiro financeiro histórico que é o Pedrinho, do BH. Agora, parece que ele distanciou. Como está essa relação?
Já conversei com o Pedrinho, não só com ele, mas estou procurando os grandes cruzeirenses. É como eu disse: o Cruzeiro para ser grande, ainda maior, ele tem que se aproximar de todos os cruzeirenses, dos nove milhões de cruzeirenses. É claro que você não consegue fazer isso de maneira presencial, você consegue fazer isso de maneira digital e ter uma identificação ainda maior com o torcedor. Agora, grandes torcedores, mais que torcedores, são grandes investidores no futebol e o Pedrinho é um deles. Como ele, há vários outros que estão investindo, que já investiram, que não investem mais. O trabalho que estamos fazendo é identificar esses grandes torcedores do Cruzeiro, homens de negócio, investidores, para que eles se aproximem, voltem ao Cruzeiro, para entender que o Cruzeiro é uma plataforma de investimento também importante, para o negócio deles, e não só como uma paixão, porque a paixão tem limite, mas também como investidor. Então não tenho dúvida de que tanto o Pedrinho como outros grandes cruzeirenses vão estar próximos do Cruzeiro nessa jornada que se inicia agora para fazer o Cruzeiro ainda maior.
Vai existir o cuidado por parte da sua equipe de tratar o Cruzeiro como se fosse uma empresa? Esse discurso é antigo, todos os clubes têm, mas na prática não costuma ser executado. Como vai ser no Cruzeiro?
O Cruzeiro não é uma empresa. A gente não pode confundir. O Cruzeiro continuará sendo uma associação com todas as suas diretrizes, respeitando o seu estatuto de uma associação, de um clube de futebol. A gente não pode confundir um clube-empresa, um clube que um investidor comprou e transformou e criou um modelo de gestão integral, 100% empresa. O Cruzeiro continuará como clube, como associação, mas os princípios de gestão de empresa é que tem que ser introduzidos no Cruzeiro. Criar e desenvolver uma cultura organizacional, de associação, mas com princípios de uma empresa, que é a excelência. Toda empresa, seja de indústria, seja de prestação de serviço, tem que buscar excelência para que se sustente no mercado. O Cruzeiro precisa buscar excelência na sua gestão, ou seja, não gastar mais do que recebe, precisa trabalhar com as pessoas, ter desenvolvimento de pessoas, um grupo de funcionários que saiba o seu papel, que reconheça o seu papel nesse projeto, com plano de cargos e salários, com trajetória profissional que lhe dê satisfação, que tenha felicidade no trabalho. Tem que ter conduta ética, isso é fundamental, é por isso é que faz parte do presidente Wagner introduzir uma área de compliance dentro do Cruzeiro, para que a conduta ética também reja os movimentos administrativos dentro do Cruzeiro, que não tenha desperdício de nada, ou seja, que tenha bom relacionamento com seus parceiros comerciais, com seus fornecedores. Um clube que respeite o meio ambiente, que tenha uma área de sustentabilidade também aqui dentro, que trabalhe com educação. Para isso, o Cruzeiro vai criar o instituto de cidadania, o Instituto Cinco Estrelas, para que trabalhe com uma plataforma de educação, que a gente trabalhe com o tema educação dentro do Cruzeiro. Esse é um tema riquíssimo, importantíssimo num cenário como o Brasil, sobretudo no futebol, desde uma escolinha de base até as crianças da periferia, todas as crianças de uma maneira geral, que adoram futebol e que se inserem no universo no futebol, acho que o clube pode trazer influências importantes sobre conceitos, sobre a importância da educação para eles. Falta isso no futebol brasileiro. O clube pode exercer esse papel fundamental para ajudar nesse processo todo. São procedimentos, é uma visão 360 graus, uma visão que uma empresa moderna precisa ter. E o Cruzeiro, como clube moderno que quer ser, tem que ter essa visão e aplicar isso no seu dia a dia, no seu modelo de gestão, mas não deixará de ser um clube, ele visa lucro. Como visa lucro, tem que sobrar dinheiro em caixa para o gestor do futebol usufruir dessa gestão eficiente e ir lá, comprar outro jogador e reforçar a equipe para o ano seguinte, não desfalcar a equipe por falta de dinheiro. Isso é que é importante, essa conexão que é importante fazer entre a gestão do todo com o futebol.
Falou-se muito em auditoria durante a campanha. Ela vai acontecer?
Auditoria está prevista no estatuto do clube, acho que isso... Talvez sejam informações utilizadas durante a campanha, no calor da política, mas são procedimentos já estatutários. Então, a auditoria já existe, vai existir sempre, seja para a gestão A, B ou C.
Qual seu pensamento do projeto sócio-torcedor. Existem planos para ampliá-lo?
O sócio-torcedor tem um grande potencial. A gente precisa de mergulhar mais no projeto. O que vamos fazer é transformar o sócio-torcedor numa plataforma de negócio. O sócio-torcedor precisa de um plano de negócios muito mais amplo para a gente entender o resultado dele para o Cruzeiro. É muito mais do que simplesmente vender a cadeira cativa para o torcedor. Ele é muito mais do que isso. É uma série de benefícios para o torcedor e que possa garantir uma receita formal para o clube. Então, o sócio-torcedor será ampliado seguramente, será mais agressivo nesse mercado, será reestruturado para melhor, trazendo novidades, seja do ponto de vista de comunicação, do ponto de vista de vantagens para o torcedor. Aproveitando, inclusive, que o Cruzeiro terá mais um campeonato no seu calendário, a Libertadores, e isso é um valor a mais, isso vai fortalecer a plataforma do sócio-torcedor.
Chegará algum profissional do mercado para fortalecer o projeto sócio-torcedor?
Não está definido. Nós já tivemos algumas conversas iniciais, mas o que vai ser feito com esse programa é um diagnóstico completo, já no início de janeiro, para que ele se fortaleça. O potencial desse projeto é enorme. E ele representa talvez o principal negócio do Cruzeiro hoje e, como tal, ele tem que estar muito olhado, muito bem estruturado, muito profissionalizado. E, para isso, vamos desenvolver todas as áreas do sócio-torcedor, a área financeira, a área de tecnologia – tem que fazer uma grande revisão nesse projeto de tecnologia do sócio-torcedor para ver quais oportunidades têm que melhorar. Isso faz parte de todo o processo de melhorar a conexão com nosso torcedor. Mas é uma das grandes plataformas de negócio do Cruzeiro, é o sócio-torcedor, e assim será tratado.
Você vê a possibilidade de o Cruzeiro passar a administrar o Mineirão?
Esse é um desejo do presidente Wagner, mas é um desejo. Como estamos dizendo que devemos ser coerentes, da responsabilidade administrativa, isso tudo depende de um grande estudo, um grande plano de negócio, para entender qual a viabilidade, qual a real oportunidade de um projeto desse. É um projeto importante. É claro que um clube como o Cruzeiro, ter o seu estádio, seu o domínio, a condição de fazer a gestão do seu estádio, abre uma série de oportunidades de negócios. A gente visita estádios de clubes internacionais, e o entretenimento, o espetáculo não se resume a 90 minutos de bola rolando, nem pode ser assim. O jogo do domingo à tarde tem que ser o programa de domingo da família, que pode começar de manhã e oferecer para a família, para o torcedor, um dia inteiro de entretenimento, de diversão, de curiosidades. Isso passa por qualidade, excelência de novo, em espetáculos paralelos, em alimentação, em shoppings, em negócios, em lojas, em museu para ter visitações. O estádio de futebol no melhor conceito de entretenimento. E cultura, entretenimento/negócio, ele tem que ser ocupado de outra maneira do que é ocupado hoje no Brasil. Isso é uma grande oportunidade. Se o Mineirão vai ser administrado pelo Cruzeiro ou não, isso depende de um estudo amplo ainda para entender responsavelmente qual é essa oportunidade em termos de negócios para o Cruzeiro.
O Cruzeiro pensa em colocar em prática o projeto do memorial, do museu do clube?
Memória é um negócio fundamental. É difícil você entender o presente se você não conhece o passado, e o Cruzeiro é um clube de passado de grandes vitórias, de grandes conquistas, de uma trajetória maravilhosa que o Cruzeiro Esporte Clube tem desde a sua fundação pelos italianos, como Palestra Itália em 1921, até hoje, com o último título da Copa do Brasil. É um time de grandes emoções. E isso tem que ser passado. Não só o resgate dessa memória, que essa memória esteja bem apresentada, seja bem estrutura, mas que seja bem apresentada ao público. Para isso a gente depende de um memorial, de um museu, então está no nosso projeto para já em 2018 desenvolver o melhor projeto de museu possível. A gente quer para o Cruzeiro e o Cruzeiro merece isso, todos os projetos que desenvolvermos, serão projetos que visam ser os melhores do Brasil pelo menos. Então a gente quer fazer o melhor museu do Brasil, em Belo Horizonte, dedicado ao Cruzeiro Esporte Clube. E mais recentemente as conquistas do vôlei, do futebol americano, dos esportes em geral, da memória do Cruzeiro, memória de pessoas, grandes presidentes de sua história, de Felício Brandi, Carmine Furletti, aos irmãos Masci, aos irmãos Perrella, o Zezé Perrella de grandes conquistas, como grande empreendedor que foi para o Cruzeiro, o Alvimar Perrella, que acho que foi um dos melhores presidentes da história do Cruzeiro também. Embora não fosse tão midiático assim, como outros, não apareceu tanto, mas trabalhou como bom juiz, escondido, e realizou tanto para o Cruzeiro. O Gilvan, que ganhou três títulos nacionais em três anos. Então, esse é o grande desafio do Wagner agora, de dar sequência a essa trajetória vitoriosa. Também pessoas têm que ser bem apresentadas em um museu, em um memorial deste, conquistas e atletas, a história dos grandes atletas do Cruzeiro. O cruzeirense tem que saber que o Pelé elegeu, o maior jogador de futebol do mundo, depois dele, o Dirceu Lopes. E pouca gente sabe que ele emitiu essa opinião. O melhor jogador que Pelé viu jogando foi Dirceu Lopes. Isso é um valor, isso é uma emoção para o torcedor do Cruzeiro e em algum lugar isso tem que ser mostrado. A gente quer desenvolver um projeto do museu do Cruzeiro que conte o passado, o presente e projete o futuro do Cruzeiro, essa é a essência que a gente quer para o museu do Cruzeiro. Não é só memorial, é um museu, onde também o Cruzeiro de 2050 será apresentado, com grande interatividade, um grande momento lúdico para o torcedor aproveitar. E esse projeto do museu estará dentro de uma plataforma de projetos que vamos apresentar no ano que vem, que vamos chamar de centenário. A primeira gestão do Wagner termina em 31 de dezembro de 2020. Dois dias depois, o Cruzeiro fará cem anos. Então, essa plataforma começa a ser desenvolvida agora, em 2018, 2019, 2020, para que no dia do centenário do Cruzeiro exista uma plataforma já consolidada, não que vai ser feito, mas o que foi feito em três anos, em termos de projetos, que vão fortalecer mais a imagem do Cruzeiro, a marca do Cruzeiro, e que vise essa grande aproximação do Cruzeiro com o cruzeirense. Esse é o grande objetivo com o museu do Cruzeiro, mas que poderá ter uma etapa inaugurada em 2019, pode ser feito por etapas, e até o 2 de janeiro de 2021, seja todo consolidado, todo completado, assim como outros projetos que vão entrar na plataforma centenário.
Impossível inaugurar o museu em 2018?
É difícil porque temos que usar recursos diferentes. Então, o museu, que é uma plataforma cultural incrível, ele pode ser construído 100% com recursos de renúncia fiscal, com a lei de incentivo fiscal. Então, tem que fazer bem um projeto, bem um trabalho, planejar direito, como os chineses fazem. Eles gastam dois terços do tempo planejando e um terço construindo. Então, no ano que vem, é ano de planejamento, de formatação, de estruturação do projeto, e de captação de recursos na sua primeira etapa. E será um projeto grandioso.
O museu do Cruzeiro pode ser no Mineirão?
Depende. Isso fará parte desse estudo, dessa estruturação, seja a concepção, a curadoria do projeto de um museu deste, é uma curadoria muito importante, vai envolver muita história, muita tecnologia também. Os museus modernos têm que envolver muita interatividade, mas o Mineirão é um local, sem dúvida, um estádio, mas pode ser na Savassi, no Barro Preto, pode ser na Praça da Liberdade, no circuito cultural, isso vai fazer parte do estudo.