Pouco mais de dez meses depois de sentar em uma das cadeiras da sala de imprensa da Toca da Raposa II para ser apresentado como diretor de futebol do Cruzeiro, Klauss Câmara voltou ao mesmo local para se despedir do clube. Em pronunciamento emocionado, o dirigente agradeceu ao presidente Gilvan de Pinho Tavares e ao ex-vice de futebol, Bruno Vicintin, pela oportunidade de chefiar o departamento na Toca da Raposa I, com as categorias de base, e na Toca da Raposa II, com os profissionais. Ele deixa o cargo depois da decisão de Wagner Pires de Sá, mandatário eleito, optar pela nomeação do ex-zagueiro Marcelo Djian para a função a partir de janeiro de 2018.
O diretor de futebol ainda comentou em seu pronunciamento a transição para a nova diretoria. Ele destacou que o caminho para os novos profissionais será ‘fácil’, uma vez que “a casa está arrumada”. “O Cruzeiro é um Boeing na pista prontinho para decolar”, complementou o agora ex-dirigente da Raposa.
Klauss Câmara foi contratado por Gilvan de Pinho Tavares em junho de 2014, ao Fluminense, para assumir a diretoria das categorias de base do Cruzeiro. Em janeiro de 2017, ele foi promovido ao futebol profissional e voltou a trabalhar com Bruno Vicintin, então vice-presidente de futebol e ex-superintendente de base. Em seu pronunciamento, que você pode ler na íntegra logo abaixo, ele reiterou a honra de ‘defender’ o Cruzeiro por tanto tempo.
Pronunciamento de Klauss Câmara na íntegra
Pronunciamento de Klauss Câmara na íntegra
“Oficialmente vim aqui anunciar algo que não é surpresa para ninguém: estou deixando o cargo de diretor do Cruzeiro. Vou continuar contribuindo com a gestão do Gilvan até o fim do mandato dele, mas efetivamente, aqui no departamento de futebol, é meu último dia. Quero agradecer imensamente as mensagens que recebi de apoio de todos os amigos, colegas da imprensa e principalmente dos torcedores. Desde que houve as demissões e que foram confirmados os novos diretores, a gente sabia da não continuidade. Mas deixei para falar no fim do processo para que causasse o mínimo possível de turbulência e intervenções no clube e nos objetivos que tínhamos para a equipe durante a temporada. Conseguimos fazer, ao longo de todo o ano, de uma forma bem-sucedida.
Quero dizer que já são quase 10 anos de serviços prestados a esse clube. Foi um orgulho muito grande receber a missão de dirigir o departamento de futebol no ano de 2017. Diante do cenário que tínhamos, a gente sabia que o início dessa temporada haveria resistência até por parte de outros profissionais, porque é um ano político, e nem todo profissional está disposto a largar a cidade de origem para um desafio que poderia ter um prazo de validade curto em virtude do ano de eleições.
O cenário no qual se apresentava o início de 2017 era bastante difícil para assumir. Mas para mim não. Tive orgulho de ser o responsável pelo departamento de futebol do Cruzeiro nesta temporada. Sinto-me ainda mais honrado e privilegiado por ter sido diretor das duas Tocas da Raposa, a Toca I e a Toca II. Muitos títulos conquistados nas duas Tocas, nos dois departamentos, um trabalho realizado com excelência e contribuição de todos os profissionais, onde pudemos interferir no processo de desenvolvimento de atletas e cidadãos. Poder, ao mesmo tempo, colher os frutos disso no departamento profissional, ver atletas realizando sonhos, alcançando a maturidade profissional e como atleta e se tornar uma realidade num clube tão grande.
Apesar de todo o desafio para o futebol que se apresentava e a torcida sem esperança em função dos anos difíceis, para mim era uma missão que poderia me proporcionar um orgulho muito grande. Poder voltar a ver a torcida feliz, o clube no seu devido lugar, de novo vencedor de uma competição a nível nacional, a torcida já tratando de Libertadores e contratações na grandeza do Cruzeiro. Foi um orgulho muito grande ter representado o clube e alcançado os objetivos que a diretoria esperava de mim. A gente tem, no fim da temporada, o resultado que lá no início nós esperávamos: ter sucesso dentro e fora de campo mesmo diante de todas as dificuldades. A nossa conquista da Copa do Brasil acabou sendo bem maior, pois foi um ano de eleições, com orçamento extremamente limitado – apesar de ser um clube com a grandeza do Cruzeiro –, o nível de investimento de nossos adversários, como Flamengo e Palmeiras, e também outros adversários que vencemos ao longo da temporada. Também tivemos adversidades, como a falta de objetivos alcançados na competição estadual (Campeonato Mineiro) e a eliminação precoce na Copa Sul-Americana. Foram momentos difíceis, mas conseguimos superá-los. A gente tem convicção de que nossa conquista da Copa do Brasil foi muito maior do que realmente foi.
Volto a dizer que saio com o sentimento de dever cumprido, de ter representado um gigante do futebol mundial que é o Cruzeiro, e de ter honrado e cumprido essa missão tão difícil e desafiadora. Montamos uma equipe competitiva diante de um orçamento limitado. A gente representa um gigante como o Cruzeiro, precisamos de relacionamento de mercado, de criatividade. Pensamos na continuidade da comissão técnica, mesmo diante de tantas adversidades. Blindamos também nossos jogadores nesse ano político para que conquistassem a Copa do Brasil. Isso nos proporciona uma satisfação tão grande. Utilizamos também muitos atletas das categorias de base, dado ao fato das dificuldades financeiras pelas quais passam os clubes. Não vejo como opção o aproveitamento dos atletas da base, vejo como algo necessário. Sinto-me privilegiado de poder ver os frutos do trabalho, pois tivemos sete atletas que vieram das divisões de base e foram apresentados à nossa torcida. Isso nos traz um orgulho muito grande.
Gostaria de agradecer imensamente o presidente do Cruzeiro pela oportunidade que me deu. São quase 10 anos de serviços prestados ao Cruzeiro, 12 anos na carreira profissional do futebol, 25 anos vivendo o futebol. São mais de 50 títulos na minha carreira, sinto-me um vencedor, e no profissional do Cruzeiro não poderia ser diferente. Quero agradecer ao Bruno (Vicintin, ex-vice-presidente de futebol), que me deu a condição de estar na diretoria das duas Tocas da Raposa. Pude honrar a missão que ele me deu e atendi às expectativas de todos. Agradeço também ao parceiro Tinga, que foi um parceiro do dia a dia, das tarefas, um ser humano incrível, um profissional com o qual pude aprender. Ao Guilherme (Mendes, diretor de comunicação), ao Pedro (Moreira, supervisor de futebol), nossos parceiros em incessantes dias de trabalho. Quando os atletas e a comissão estavam de folga, nós estávamos aqui trabalhando.
Quero desejar o maior sucesso possível para a nova diretoria que assume. Que eles consigam alcançar todos os objetivos propostos e colocar o Cruzeiro em patamares ainda maiores. O caminho para eles está fácil, pois a casa está arrumada. O Cruzeiro é um Boeing na pista prontinho para decolar. Que eles consigam fazer essa aeronave decolar na grandeza de seu tamanho, que tenham seriedade, responsabilidade e compromisso com a camisa e com a torcida. É uma torcida que merece estar comemorando sempre nas arquibancadas”.