O presidente Gilvan de Pinho Tavares deu entrevista em tom de desabafo sobre o tumultuado ambiente político pelo qual atravessa o Cruzeiro. Em declaração à Rádio Itatiaia depois da conquista da Supercopa Sub-20 pela Raposa, no Independência, o atual mandatário disparou contra o seu sucessor, Wagner Pires de Sá, e o futuro vice-presidente de futebol, Itair Machado.
Contrário à contratação de Itair para chefiar o departamento de futebol, Gilvan deu a entender que foi traído por Wagner Pires, a quem prestou apoio nas eleições de 2 de outubro. Segundo ele, integrantes importantes do conselho do Cruzeiro, como os empresários Pedro Lourenço (Supermercados BH) e Emílio Brandi (distribuidora de alimentos Nova Safra), aconselharam Wagner a desistir da ideia de incorporar o ex-dirigente do Ipatinga à direção do clube celeste.
“Eu nunca apoiei o Itair. Pelo contrário. Chamei atenção dele quando ele entrou na sala falando mal de dirigente do Cruzeiro. Chamei o nosso candidato (Wagner Pires de Sá) e fizemos dois encontros com pessoas das mais ilustres do Conselho do Cruzeiro, como o Pedro, do Supermercados BH, o Emílio Brandi e vários outros. Fizemos um café da manhã no qual eles, preocupados com a presença do Itair no Cruzeiro, chamaram o nosso candidato e falam: ‘Olha, Wagner. O senhor está recebendo o apoio do Itair, que inclusive está custeando as suas despesas de campanha. O senhor vai colocar esse homem para tomar conta do futebol? Se for colocar, nós não vamos apoiar’. Ele deu a mão para cada um deles e disse que não iria colocar. ‘Inclusive, o senhor Itair já me disse que a esposa dele não o deixa mexer com futebol mais’. Não satisfeitos, os outros conselheiros que não participaram daquele encontro fizeram um almoço e chamaram o Wagner para que ele confirmasse isso e ele tornou a confirmar dizendo que o Itair não iria mexer com futebol na gestão dele. Dois dias depois da eleição, ele anunciou que o Itair iria chefiar o futebol do Cruzeiro”.
Gilvan afirmou que Bruno Vicintin, ex-vice-presidente de futebol, também conversou com Wagner Pires de Sá. Os dois ouviram da boca do mandatário eleito que Itair não integraria a diretoria cruzeirense.
“Chamei o Wagner, sentei com ele e o Bruno Vicintin – porque Bruno e eu nos empenhamos e conseguimos elegê-lo – e perguntamos: ‘Você vai fazer isso?’ Ele disse que não e que iria conversar com o Itair. Então voltei a dizer para ele que eu e o Bruno, vice de futebol do Cruzeiro, só o apoiaríamos com esta condição. Inclusive prometemos que o Bruno continuaria na vice-presidência de futebol e eu, mesmo sem tirar férias há muito tempo do Cruzeiro, estaria disposto a arregaçar as mangas até ele pegar o embalo no Cruzeiro. Perguntei ao Wagner: ‘Por que você não liga agora para o Itair?’. O Wagner disse que não poderia ligar para o Itair porque ele estava nos Estados Unidos. Porém, na mesma tarde ele foi para um programa de rádio com o Itair e anunciou que o Itair era o condutor do futebol do Cruzeiro. Diante disso, me senti desobrigado de apoiá-lo, e o Bruno também. Criou-se uma animosidade do Itair contra o Bruno que surgiu até ameaça de morte e eu mesmo fui ameaçado”.
Em tom bastante crítico, o presidente afirmou que a nova diretoria tem a intenção de mudar inclusive o quadro de integrantes do Conselho Deliberativo. “Até o absurdo de querer tirar 150 conselheiros eles estão querendo tirar. É uma coisa que nunca vi na vida. Isso nos obrigou a apoiar um candidato, eleger um candidato e montar uma nova chapa para não deixar esse candidato fazer o que está fazendo com o Cruzeiro. Mas as pessoas de bem no Cruzeiro estão nos apoiando e eu acredito que não haverá eleição”.
Gilvan disse também que está preocupado com o trabalho de Itair Machado e Wagner Pires de Sá à frente do Cruzeiro. “Sim. E muito. Inclusive com o que falam que (Itair) vai ganhar de luvas para assumir (a vice-presidência de futebol), o que eu nunca ouvi falar, um diretor de futebol ganhar luvas. Acho que o mandato dele (Wagner Pires de Sá) vai ser sempre questionado por isso (pelo convite ao Itair Machado para ser o homem forte do futebol do clube) e não sei como ele vai conduzir esse mandato. E eu vou estar lá sempre, vigilante, como sempre estive no meu Cruzeiro".