Na madrugada desta quarta-feira, faixas foram afixadas na região do Barro Preto, onde se localiza a sede administrativa do Cruzeiro, com mensagens críticas ao presidente do conselho do clube, João Carlos Gontijo, que até então tinha evitado se manifestar publicamente sobre o escândalo de corrupção da JBS envolvendo nomes de conselheiros do clube (clique aqui e entenda o caso).
Gontijo, contudo, atendeu o telefone nesta quarta e conversou com o Superesportes. Ele minimizou os protestos por causa do anonimato. As faixas não são assinadas por nenhuma torcida ou grupo de cruzeirenses. O presidente do conselho também defendeu o direito de defesa dos acusados e disse que não vai agir como na Inquisição, tribunal sumário da Igreja Católica que não aceitava o contraditório.
Inicialmente, acreditava-se que eram seis os conselheiros do Cruzeiro envolvidos. Mas este número cresceu. Ao todo, são sete os conselheiros citados na investigação: os senadores Aécio Neves (PSDB) e Zezé Perrella (PMDB), o assessor de Perrella, Mendherson Souza Lima, o primo de Aécio Frederico Pacheco e o secretário nacional de futebol e defesa dos direitos do torcedor e filho de Perrella, Gustavo Perrella, além de Euler Nogueira Mendes, ex-auditor fiscal do clube, e Tostão, funcionário de Perrella, que obviamente não se trata do ex-jogador do Cruzeiro.
Gontijo estava em viagem e recebeu a informação das manifestações "com tranquilidade". Segundo ele, vários conselheiros já mandaram mensagem se solidarizando com o episódio."Aquelas faixas, faixas anônimas, não têm valor. Um documento, qualquer que seja, tem que ser subscrito para que possa dar oportunidade de dialogar em um princípio democrático. Acabei de chegar de uma viagem, fiquei sabendo sim o que aconteceu, e te digo que tenho o apoio de muitos. Recebi mensagens e ligações de apoio de mais de 30 conselheiros", afirmou.
Em seguida, Gontijo defendeu sua trajetória como advogado e conselheiro do Cruzeiro, frisando ter sido eleito presidente do conselho por aclamação. "Antes, fui advogado do clube, sempre de forma voluntária", afirmou.
Gontijo diz que os acusados têm o direito da defesa antes de qualquer punição. Ele descartou qualquer tipo de sanção antes que os casos sejam julgados. "É preciso deixar claro que tem que predominar o direito de defesa. Estamos em um estado democrático de direito, precisamos do contraditório, da defesa, não podemos, ainda mais como advogado e presidente do conselho do clube, fazer juízo de valor como em uma inquisição, não podemos resolver por atropelo", frisou.
O presidente do conselho avisa que os conselheiros que pensarem de outra forma podem apresentar um pedido formal, documentado, solicitando algum tipo de punição que o mesmo será analisado.
"Se tem algum conselheiro que não está satisfeito, digo que o conselho age por provocação, por motivação. Não nos furtaremos de analisar nenhum pedido desde que seja protocolado. Estamos abertos a qualquer tipo de sugestão", destacou Gontijo.
Gontijo é um velho amigo de Perrella, sempre visto com o ex-presidente em eventos em Belo Horizonte e Brasília. Perrella é acusado de ter recebido dinheiro de propina repassado pelo grupo JBS ao senador Aécio Neves (PSDB). O presidente da JBS, Joesley Batista, entregou ao Ministério Público gravação na qual o ex-governador de Minas Gerais é flagrado pedindo R$ 2 milhões para custear sua defesa na operação Lava Jato. A revelação foi feita pelo jornal O Globo.
O dinheiro foi entregue a um primo de Aécio, segundo a Polícia Federal. E, ao rastrear o caminho dos recursos, descobriu-se que o montante foi depositado em uma empresa de Perrella, que negou ter recebido “um real sequer” da JBS. Gustavo Perrella, filho de Zezé e secretário nacional de futebol e defesa dos direitos do torcedor, que por pouco tempo já foi o homem forte do futebol do Cruzeiro, também está envolvido, já que a empresa que recebeu os recursos, Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, está em nome dele.