Justamente por conta das regras estatutárias, Vicintin evita falar como candidato a presidente na eleição a ser realizada no fim do ano. Entretanto, o empresário do ramo metalúrgico e pecuarista não esconde o desejo de ser presidente, desde que seja apoiado por seu grupo político e, claro, as normas do clube passem por revisão.
“Eu não posso falar que sou candidato, até porque o estatuto não deixa. Caso o estatuto do Cruzeiro mude e eu tenha o apoio do doutor Gilvan (de Pinho Tavares, presidente) e do doutor Lemos (José Francisco, vice-presidente), eu pretendo, sim, me candidatar. Se o estatuto não mudar, eu vou escolher o candidato que eu acho que vai administrar melhor o Cruzeiro nos próximos anos.”, declara, em entrevista exclusiva ao Superesportes.
O associado conselheiro que suprirá uma eventual ausência entre os conselheiros natos não é escolhido de forma aleatória. O estatuto exige três mandatos consecutivos ininterruptos ou no mínimo cinco mandatos alternados. O associado ainda precisa ter a situação regularizada no clube, além de requerer, em carta escrita, a candidatura ao presidente do Conselho Deliberativo – posto atualmente ocupado pelo advogado João Carlos Gontijo de Amorim.
Para Bruno Vicintin, as burocracias do documento limitam as alternativas no Cruzeiro. Por isso, ele defende modificações em vários pontos, como a criação de uma condição mais simples para se tornar conselheiro nato e ter direito à candidatura. “Tenho 12 anos de associado, nove anos de conselheiro, seis anos de diretoria, trabalhando para o Cruzeiro e não posso me candidatar a conselheiro nato. Essas travas todas deixam o clube muito engessado. Se for uma mudança para não tirar o direito de ninguém e sim para permitir que outras pessoas concorram, eu acho que não tem problema nenhum”.
Um dos grandes opositores à mudança do texto do estatuto é o ex-presidente e atual senador da República Zezé Perrella. Segundo o político, essa manobra é ilegítima. De maneira crítica, Vicintin discorda do antigo mandatário celeste e lembra que ele foi beneficiado com ajustes no regimento quando se lançou na disputa pela primeira vez, em 1994.
“Eu acho que, para quem conhece a história do Cruzeiro, historicamente quando o Cruzeiro precisou, houve mudanças de estatuto. Até achei estranho o Zezé falar isso, porque, em 1996, em seu primeiro mandato, faltando dois meses para acabar, salvo engano, o estatuto foi mudado, mudando de dois para três anos e permitindo a reeleição. Isso é público, vocês podem procurar a ata. Quer dizer, naquele ano o Conselho entendeu que era melhor mudar. E realmente deu certo. Caso o Conselho afirme que é importante mudar o estatuto... eu acho que tem que ser alterado. É uma opinião pessoal minha”.
Desatualizado?
Zezé Perrella seguiu à frente do Cruzeiro no decorrer da década de 1990 e levou o clube a várias conquistas: duas Copas do Brasil (1996 e 2000), uma Copa Libertadores (1997), uma Recopa Sul-Americana (1998), duas Copas Sul-Minas (2001 e 2002) e três edições do Campeonato Mineiro (1996, 1997 e 1998). Eleito deputado estadual em 1998 pelo PFL (atual DEM), o então empresário no ramo de frigoríficos concorreu ao cargo de senador, mas ficou em quarto lugar na disputa, com 18,35% dos votos – Eduardo Azeredo, do PSDB (25,91%), e Hélio Costa, do PMDB (22,24%), foram eleitos. Entre 2003 e 2008, a presidência do Cruzeiro ficou nas mãos de Alvimar de Oliveira Costa, irmão de Perrella, que, por sua vez, passou a ser vice.
Zezé retornou à presidência do Cruzeiro em 2009 e ficou até dezembro de 2011. Em julho do seu último ano de mandato, o presidente se afastou de suas obrigações no clube para assumir uma das cadeiras de Minas Gerais no Senado Federal, já que o titular Itamar Franco havia falecido aos 81 anos em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC).
Com a ausência de Perrella no dia a dia de treinos na Toca II, o Cruzeiro caiu significativamente de produção e por pouco não foi rebaixado à Série B do Brasileiro. Terminou o torneio em 16º lugar, com 43 pontos, a dois do Atlético-PR, primeiro entre os que caíram de divisão. Tal situação foi lembrada por Bruno Vicintin, que ressaltou a importância de estar junto de atletas, comissão técnica, funcionários e outros diretores.
“Eu acho que a gente tem que ver a história do Cruzeiro. Em 2011, a ausência do Zezé foi muito prejudicial no último ano de gestão dele. Eu não conheço nenhuma empresa em que o presidente só trabalha sexta-feira. Ainda mais uma empresa do tamanho do Cruzeiro. Eu acho que, caso ele venha a ser presidente do Cruzeiro, que ele abra mão do mandato (de senador). Ele mesmo já falou no Whatsapp que estava cansado de política e por isso queria voltar ao Cruzeiro... Às vezes ele abre mão do mandato. Hoje, doutor Gilvan vai ao Cruzeiro todos os dias. Eu, vocês estão acompanhando, vou à Toca II quase todos os dias, Toninho (Antônio Assunção, da base) vem todos os dias à Toca I. Eu acho muito difícil, por mais que você faça uma equipe, que ela consiga administrar o clube com o presidente tão ausente assim”.
O vice do Cruzeiro disse que ainda teme uma eventual desatualização por parte de Perella, que ficou por tanto tempo afastado das transformações pelas quais o futebol passou. Dois exemplos foram citados: Eurico Miranda, no Vasco, e Vitorio Píffero, no Internacional. Os dirigentes foram bem em suas primeiras passagens pelos clubes, mas acabaram amargando rebaixamentos em seus retornos. “A prova que o futebol mudou foram as voltas do Eurico e do Píffero, muito vitoriosos, e não tiveram voltas felizes. E com certeza eles estavam presentes nos clubes. Acho que uma volta, até se adaptar de novo ao futebol, estando ausente, eu como torcedor vejo com preocupação”, declarou Bruno Vicintin.
Recomendações
Perguntado a respeito do caminho que o próximo presidente do Cruzeiro precisa tomar para conseguir sucesso no clube, Vicintin não titubeia e declara a necessidade de manter o atual trabalho. Ele destaca as participações de Klauss Câmara (diretor de futebol), Paulo César Tinga (gerente de futebol) e Eduardo Freeland (diretor da base) e torce por suas respectivaes permanências na Raposa.
“Se eu puder dar um conselho, seria a manutenção da equipe que finalmente conseguimos formar. Essa é uma coisa que acho que finalmente, com o Klauss (diretor de futebol), com o Tinga (gerente de futebol), finalmente conseguimos uma equipe que tem me aliviado muito na Toca da Raposa II. Com o trabalho que eles estão realizando esse ano, não terão dificuldade nenhuma em serem contratados por outros clubes. Já tivemos experiência de formar executivos bons e perdê-los. Acho que precisamos segurar esses executivos e dar continuidade ao trabalho. O Eduardo Freeland é um exemplo disso: todos no Brasil queriam, ele veio para o Cruzeiro, eu acho que, seja o presidente que for, mudar a diretoria toda é muito arriscado”.