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CRUZEIRO

Discurso moderno, prática arcaica: contradições da diretoria do Cruzeiro no caso Paulo Bento

Últimos posicionamentos públicos eram de compreensão e apoio ao português

Bruno Furtado Thiago Madureira
Bruno Vicintin, Gilvan Tavares e Thiago Scuro: diretoria demonstra incoerência entre discruso e prática - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
O Cruzeiro dos últimos meses se resume pela contradiçãoDe um lado, o discurso da diretoria é articulado em palavras bem colocadas, sustentado em métodos modernos e novas concepções de trabalhoDe outro, a prática antiga e ultrapassada de demissões sucessivas de treinadores conforme os resultados, sem avaliação real do que vem sendo realizadoA consequência disso são os muitos traumas acumulados, que levaram o time à penúltima posição do Campeonato Brasileiro.

A incoerência da cúpula celeste passa pela falta de convicção nas principais decisõesConfirmado na manhã desta terça-feira, Mano Menezes será o terceiro treinador a comandar o Cruzeiro neste anoSão cinco trocas (Marcelo Oliveira / Vanderlei Luxemburgo / Mano Menezes / Deivid / Paulo Bento / Mano Menezes) nos últimos treze mesesComo consequência, o clube arca com multas milionárias e põe em risco o ajuste nas contas previsto pelo Profut - a exceção foi a saída do próprio Mano, no fim de 2015, que rendeu R$ 7 milhões aos cofres da RaposaIsso no que tange apenas aos comandantes, sem passar pelas contratações equivocadasOs atletas que chegaram em janeiro como solução agora estão em segundo plano diante das aquisições recentes, que serviram para tentar corrigir os erros.

Ídolo do Cruzeiro, Nelinho comenta demissão de Paulo Bento: "Falta de convicção da diretoria"

Em entrevista à TV BH News, no último dia 14, o diretor de futebol do clube, Thiago Scuro, disse tudo o que não tem feito nos últimos mesesAfirmou que a diretoria tinha confiança e passava segurança a Paulo Bento, explicou que os trabalhos vitoriosos no Brasil exigem tempo e que os últimos times campeões tiveram médio e longo prazo para resultadoEle ainda considerou a instabilidade dos treinadores como muito nociva ao planejamento traçado
Tudo na contramão da ação do próprio diretor no comando do departamento de futebol.

“Nós sabemos que aqueles 15 dias (tempo em que o Cruzeiro ficou sem treinador, quando demitiu Devid) seriam importantes para uma intertemporada e uma reorganização, mas não foi possível encontrar um profissional com capacidade de dirigir o Cruzeiro pelo médio prazo pelo menosÉ esse modelo que dá resultado, o Cruzeiro foi campeão com uma relação de médio prazo com um treinador, o Corinthians da mesma formaEntão, está cada vez mais comprovado de que os clubes precisam identificar o treinador que ele quer para o seu trabalho e dar condições, proteger, para construir esta consistência. A instabilidade do treinador, considerando a importância que ele tem para o clube de futebol, é extremamente nociva para o dia a dia”, destacou Scuro.

A demissão de Paulo Bento foi tomada após mais um revés do Cruzeiro no Mineirão, desta vez contra o Sport, por 2 a 1, no último domingoEmbora os resultados não fossem favoráveis, o técnico confiava na diretoriaScuro chegou a dizer que a direção estava “comprometida com o trabalho que estava sendo feito”O baque do treinador foi grande com a saídaTanto que o agente dele, Carlos Gonçalves, em entrevista ao Superesportes, admitiu a decepção de Bento com a interrupção do trabalho após ouvir da cúpula celeste, em Lisboa, na época do acordo, que o projeto seria de longo prazo.

Ainda de acordo com a entrevista à BH News, no último dia 14, Scuro ressaltou que a pressão externa não modificaria as crenças da direção“A pressão externa é algo em todos os lugares do mundoUma coisa que ele (Paulo Bento) está vendo positivamente é o quanto a direção está comprometida com ele e com o trabalho que está sendo feitoAcho que é um aspecto importante e dá segurança
O que chama mais atenção deles é o calendário e a logística, e eles estão se adaptando a esses aspectos no trabalho do dia a dia”, disse.

A saída veio justamente no período em que Paulo Bento começou a contar com os novos contratadosEle não resistiu aos maus resultados e a falta de compreensão da cúpula celesteA insatisfação da torcida era grandeO momento, no entanto, era de reorganização da equipe, que ganhou novas peças: Ramón Ábila, Rafael Sobis, Rafinha, Edimar e Denílson chegaramO treinador precisava de tempo para colocar o time nos trilhos, e o diretor de futebol sabia disso: “A (fase ruim do time) se deve à transição de sair de uma metodologia de um treinador para outro, mudar a forma de treinar e jogar sem ter tempoO Cruzeiro precisa de mais semanas cheias para treinar e isso está para começar agora e, sem dúvida nenhuma, que esse aspecto, assim como os jogadores do departamento médico voltando, vai dar ao Paulo Bento uma condição maior de mostrar a sua capacidade”, frisou Scuro.

O dirigente voltou a ressaltar que em nenhum momento pensou na demissão de Paulo BentoContudo, 13 dias depois dessa entrevista, Paulo Bento foi comunicado pelo próprio Thiago Scuro da interrupção do trabalho

Anteriormente, contudo, Scuro era enfático ao garantir Bento no comando do Cruzeiro.

“Em momento nenhum (pensamos na demissão do Paulo Bento)Não tem ninguém dentro da Toca II , nem o presidente, nem o Bruno, nosso vice, e nem o presidente, nem o Paulo Bento e sua comissão, não tem ninguém satisfeito com o resultado, porque em alguns momentos parece que é omissão da diretoria não trocar o treinador, mas pelo contrário, a ação da direção está em melhorar as condições do elenco, melhorar as condições de trabalho do treinador, não temos dúvidas nenhuma de que o Paulo Bento é um grande treinador, a sua história comprova isso, é um treinador, além de ter sido competitivo e conquistado titulo no Sporting com orçamento menor dos rivais, promoveu jogadores jovens, gerou muito valor econômico, deixou uma instituição saudávelDepois dirigiu a Seleção Portuguesa, foi semifinalista da Eurocopa, e sempre em trabalhos de médio e longo prazo”, afirmou.

Outras contradições

Não só Thiago Scuro, mas também o presidente Gilvan de Pinho Tavares e o vice Bruno Vicintin têm demonstrado contradição em posicionamentos públicos

No dia 22, Vicintin chegou a falar que o treinador estava prestigiado em entrevista coletivaA boa reputação de Paulo Bento durou pouco com o vice de futebol“Ele está aí treinando a equipeClaro que no futebol profissional tem que ganhar para ter paz para trabalharO Cruzeiro só vai sair dessa situação com muito trabalhoO treinador está prestigiado, veio de classificação com duas vitóriasEsperamos que se recupere também no Campeonato Brasileiro”, disse.

Na apresentação de Paulo Bento, no dia 16 de maio, Gilvan comentou da necessidade de novas concepções no comando do CruzeiroO presidente não deu tempo para o português, que ficou apenas 75 dias à frente do clube“Como o Cruzeiro perdeu a competição, chegamos à decisão de que o Cruzeiro precisava de um técnico mais experienteTrabalhamos, entre tantos nomes, com a opção do Paulo e pedimos à nossa diretoria para conversar com eleFizemos uma sondagem inicial para saber se era viávelDepois de alguns dias de conversas, Bruno e Thiago Scuro foram para Portugal e tudo deu certoTrouxemos para o Brasil um treinador que desfruta de prestígio enormeFalamos com o Felipão, e ele nos garantiu que trazíamos um treinador de muita qualidade, que dará um avanço ao futebol mineiro e brasileiroÉ vitorioso, ainda jovem, mas com uma bagagem muito grandeTem tudo para trazer novas ideias para o Cruzeiro”.

Nelinho analisa postura da diretoria do Cruzeiro



Entrevista de Thiago Scuro à TV BH News, no dia 14Assista a partir do minuto 8