Confira a entrevista de Roberto Gaúcho ao Superesportes:
Lembranças do jogo do título de 1996
O primeiro jogo foi no Mineirão lotado. Saímos perdendo e empatamos. O Palmeiras era um timão, Luxemburgo estava na melhor fase da carreira. Nosso time era bem montado. Sem craques, mas com jogadores de qualidade. A união foi o segredo do título. E isso não existe mais no futebol. Cada um tinha seu papel em campo, e amizade fora dele também. Depois do primeiro jogo, a imprensa paulista e carioca já dava o título para o Palmeiras. Saímos perdendo no segundo jogo, mas conseguimos a virada no finalzinho. Eu, Marcelo Ramos e Dida jogamos muito. Todas as rádios de São Paulo me elegeram o melhor jogador da partida. O Dida também estava numa noite iluminada. O time todo jogou muita bola. Foi o grupo. Levir soube comandar, liderar. Até hoje, o título é comentado em todo lugar que vou, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Santa Catarina. Já tínhamos ganhado a de 1993 contra o Grêmio, mas essa do Palmeiras aí foi muito especial… era uma seleção. Ficou marcado no meu coração, assim como no de todos os cruzeirenses.
A importância de Levir Culpi
O Levir soube motivar a gente, assim como faz até hoje. Isso é um dom. Ele foi campeão em tudo que é clube. Soube escalar, mantinha um padrão de jogo, com quatro jogadores no meio e eu e o Marcelo (Ramos) na frente. Cleison ficou em cima do Rivaldo, que era o melhor jogador em atividade no Brasil. E ele não conseguiu jogar. Levir pediu para eu marcar o Cafu pelo lado direito. Falou que eu devia marcar e jogar. E o Cafu não jogou. Apesar de marcar, joguei muito em cima dele. O Dida também é uma pessoa maravilhosa, não abria a boca, mas era um líder positivo. No fim, o segredo é o treinador. Sabia cobrar, o jogador entendia e cada um fazia sua parte dentro de campo. Time era muito unido, tinha uma amizade bacana dentro e fora de campo. Isso faz a diferença. Hoje, ninguém joga mais por amor à camisa.
Duelo com Cafu
Eu queria jogar, mas o Cafu era a válvula de escape do Palmeiras e da Seleção. Depois do jogo, já no vestiário, ele disse para mim que eu e o Dida fomos os grandes responsáveis pelo título, que eu não tinha deixado ele jogar. Mas o Levir é que armou a estratégia de jogo, com quatro no meio, o Palhinha encostando na gente lá da frente, duas linhas de quatro. Foi uma noite iluminada, pois o Palmeiras era o melhor time do Brasil. Foi um título especial, diferente dos outros.
Palmeiras menosprezou o Cruzeiro?
O Djalminha deu uma entrevista para o Sorín há pouco tempo. Eu estava vendo em casa. Ele disse que nunca imaginava que ia perder aquele título. Não menosprezando, mas achavam que iam ganhar a hora que quisessem. O Cruzeiro era forte, bem montado. E tínhamos jogadores técnicos. Eles foram surpreendidos. Tinham festa programada, premiação. Eles empataram no Mineirão e achavam que estavam com o título nas mãos.
Achou que a decisão iria para os pênaltis?
Tu não pensa, mas vem isso na cabeça. Achava que iria para os pênaltis. Mas, no futebol, tudo é até os 45. Aí, aos 38, arranquei do meio de campo. Estava correndo, com muita velocidade e o controle da bola próximo ao meu pé e o zagueiro me acompanhando. Cruzei. A bola estava molhada, e o Velloso não foi na curva dela e soltou. Aí o Marcelo, um dos melhores amigos que fiz no futebol, fez o gol. Dentro da área ele não perdoava. Ali eu soube que seríamos campeões.
Feliz em jogos decisivos
Verdade, isso aí todo mundo sabe. Nunca gostei de jogar jogo fácil. Gostava de estádio cheio, eu era jogador de decisão. Fiz gols e passes em seis decisões. Contra o Grêmio, na Copa do Brasil de 1993, fui em cima do treinador adversário depois do gol. Contra o Palmeiras, fui no Luxemburgo no banco logo depois do segundo gol. Ele me provocava, dizendo que eu corria muito porque eu era maconheiro, estava dopado, me xingou de tudo. Aí eu cheguei, bati no peito e disse: ‘Respeita esse escudo aqui, que tem muito valor’. Eu dei meu sangue, gostava de jogo difícil. Na final da Libertadores era para eu ter feito o gol, se não estivesse machucado.
Festa em Belo Horizonte
Foi uma loucura, nunca vi na minha vida algo parecido. Gente no aeroporto, em cima de árvore, milhões no centro da cidade. Coisa linda. Isso ninguém apaga. Essas coisas boas que não fazem mais no futebol de hoje. Atleta e empresario só visam ao dinheiro. Eu sou cruzeirense, filho e esposa também são. Passei por dez clubes no Brasil, mas o Cruzeiro ficou por causa dos títulos e da torcida, que é imensa, e não tem explicação para o que o atleta sente.
Aquele Cruzeiro de 1996 seria o que hoje?
Chegaríamos em todas as finais. Tínhamos um elenco forte, muita união, treinador, preparador e presidente competentes, o Benecy (Queiroz) também. Fiz de tudo no futebol e sei que a amizade e a união fazem, sim, a diferença. Na minha época tinha amizade, carinho. Quando um casava, todos eram convidados. Hoje você não vê isso. Jogadores só pensam neles mesmos. Querem ir para a Europa, não estão nem aí para o clube.