“Como a gente estava tendo pouca oportunidade, tentei guardar energia já pensando nos pênaltis. Mas, ao ver que passamos do meio-campo, dei o último pique em direção ao ataque e, no cruzamento do lado esquerdo, o Velloso soltou a bola, eu acreditei na jogada e fui feliz ao fazer o gol. O atacante sempre tem que acreditar que o goleiro ou o zagueiro vai falhar”, lembrou Marcelo Ramos, em contato com a reportagem do Superesportes. Na implacável cronologia do tempo, já se passaram mais de 7 mil dias desde a conquista. Só que para o ex-jogador, hoje aos 42 anos, a recordação é recente. “20 anos, hein?! Parece que foi ontem!”.
Naquela época, poucos acreditavam no título do Cruzeiro. Afinal, do outro lado estava o Palmeiras de Cafu, Rivaldo, Muller, Djalminha e Luisão, campeão paulista em 1996 com 102 gols marcados em apenas 30 jogos. Mas a Raposa, que assim como o Porco havia triunfado no Estadual, também contava com jogadores experientes. Pelo caminho, superou equipes como Vasco, Corinthians e Flamengo. Por isso, a confiança jamais foi abalada, segundo relato de Marcelo Ramos.
“O que marcou para a gente foi isso. Muita gente não acreditava nessa conquista, o que era até normal pela qualidade do time do Palmeiras, melhor tecnicamente que o nosso. Mas nós tínhamos grandes jogadores e havíamos eliminado grandes equipes. Realmente acreditávamos que tínhamos essa chance por ter eliminado equipes de muita qualidade. Claro que, pelo primeiro jogo, um empate por 1 a 1 em casa, e eles com um time forte, tendo marcado 102 gols no Campeonato Paulista, a imprensa desacreditou. Mas, particularmente, penso que, em momento algum, os jogadores do Palmeiras pensaram que o título viria de maneira fácil. Então ficou marcado por isso. E já são 20 anos. Todas as dificuldades, o Dida fazendo defesas no final, lances difíceis em que eles poderiam ter feito o gol.... aliás, eles fizeram o gol aos cinco minutos, né?! E nós viramos depois”.
Bronca de Levir e festa em BH
Dias antes da partida, uma imagem apimentou os ânimos daquela decisão. Num restaurante paulista, os jogadores do Cruzeiro foram fotografados durante o jantar comendo leitão assado, fato interpretado como provocação ao Palmeiras, cujo mascote é um porco. Marcelo Ramos disse que a foto foi tirada sem qualquer maldade, o que, no entanto, não livrou o elenco de uma bronca do técnico Levir Culpi.
“Fizemos uma foto com um leitão num restaurante. Não tínhamos intenção de provocar o Palmeiras, que tem o porco como mascote. Fomos jantar e, na ingenuidade, tiramos a foto. Se acontecesse de a gente perder o título, a responsabilidade sairia na gente. Então veio o Levir e, no jeitão dele, chamou atenção. Deu uma dura. Disse que a gente tinha uma responsabilidade com o torcedor e nos recolocou focados na decisão. Deu certo”.
As palavras do comandante, na época com 42 anos, deram certo e o Cruzeiro levantou o caneco da Copa do Brasil pela segunda vez. Na volta a Belo Horizonte, uma multidão aguardava ansiosamente o desembarque dos heróis no bi no Aeroporto da Pampulha.
“O Levir liberou os jogadores para sair e comemorar. Segundo o Nonato, alguns foram para o lugar onde seria a festa do Palmeiras. Eu não fui. Mas não houve polêmica, pois todos estavam ansiosos para chegarem a Belo Horizonte. Quando a gente desceu no aeroporto, no desembarque, uma multidão nos aguardava. Subimos no caminhão do corpo de bombeiros e fomos abraçados por todo mundo. Parecia carnaval fora de época ou feriado. Todo mundo que é cruzeirense ganhou ‘folga’ naquele dia”.
Importância do título
A Copa do Brasil coroou o bom ano de 1996 do Cruzeiro. O time ganhou o Campeonato Mineiro, foi finalista da Supercopa da Libertadores e chegou à semifinal do Campeonato Brasileiro. O terreno foi preparado para o título da Copa Libertadores de 1997, do qual Marcelo Ramos também participou. Contudo, para o quinto maior artilheiro da história do clube, com 162 gols em 360 jogos, o feito mais relevante de sua passagem pela Toca da Raposa foi mesmo a conquista da Copa do Brasil.
“O torcedor gosta muito desse título. É um dos mais importantes daquela geração. Sinto-me honrado de ter feito os gols do título – havia marcado no Mineirão. Dos meus 162 gols, sou mais lembrado por aquele contra o Palmeiras. Os pais sempre contam isso para os mais jovens sobre aquele título que marcou época. Sei que a Libertadores é o grande troféu da minha passagem pelo Cruzeiro, mas aquela Copa do Brasil, por todas as circunstâncias já explicadas, para mim tem destaque maior”, encerrou.
Lances de Cruzeiro 1x1 Palmeiras
Lances de Palmeiras 1x2 Cruzeiro