O dia 19 de junho de 1996 marcou a conquista de uma das principais páginas heroicas e imortais da história do Cruzeiro. A vitória por 2 a 1 sobre o Palmeiras, em pleno Palestra Itália, em São Paulo, garantiu ao clube celeste o segundo caneco da Copa do Brasil e consagrou uma campanha de triunfos expressivos contra Vasco (oitavas), Corinthians (quartas) e Flamengo (semifinal). No domingo, a conquista azul completará 20 anos, embora a memória ainda esteja bastante viva na cabeça dos torcedores e dos protagonistas daquele jogo. “Parece que foi ontem”, brincou Marcelo Ramos, autor do gol do título.
Cafu, Rivaldo, Djalminha e Luizão eram só algumas peças do poderoso Palmeiras de 1996, esquadrão que recebeu em sua formação grandes investimentos da Parmalat, empresa italiana de produtos alimentícios. Tida como principal equipe do país naquele ano, o alviverde entrou em campo “quase campeão”, precisando de um empate sem gols para levantar a Copa do Brasil diante de sua torcida depois do 1 a 1 no Minierão. “Chegamos em São Paulo, no estádio, todo mundo gritando campeão. Você fica com medo, claro”, lembrou Ricardinho, que levantou seu primeiro caneco em âmbito nacional.
O fim da história, porém, superou qualquer expectativa. O Cruzeiro saiu atrás do marcador: sofreu o primeiro gol aos 5’ da primeira etapa, e superou uma pressão sem precedentes do Palmeiras. “O Dida é monstro. Além de ser um grande goleiro, consagrado, deu muita segurança. O Dida ali foi um gigante, tomamos muita pressão”, confirma o lateral Vitor, peça importante daquele time.
Mas, ainda no primeiro tempo, Roberto Gaúcho começou a mudar o enredo da história ao empatar a partida aos 25 minutos.
“Nunca gostei de jogar jogo fácil, gosto de estádio cheio, sou jogador de decisão. Fiz gols e passes em seis decisões”, destacou o atacante, que disse imaginar, naquele momento, que a Copa do Brasil seria decidida nos pênaltis. “Achava que iria para os pênaltis, mas no futebol tudo é ate os 49’. Nesse caso, foi até os 37’. Arranquei do meio-de-campo, com muita velocidade, controle da bola, e o zagueiro me acompanhado. Bola molhada, Velloso não foi na curva e soltou a bola. O Marcelo não perdoava dentro da área. Ali soubemos que seriamos campeões”, lembra, ao contar o lance do gol do título.
A vitória por 2 a 1 sobre a seleção do Palmeiras em São Paulo foi só o primeiro tempo da festa. Já durante a noite e a madrugada, a torcida cruzeirense tomou as ruas de Belo Horizonte. No dia seguinte, a capital mineira ficou ainda mais azul com a chegada dos campeões.
“Quando a gente desceu no aeroporto, em Belo Horizonte, uma multidão nos aguardava. Subimos no caminhão do corpo de bombeiros e fomos abraçados por todo mundo. Parecia carnaval fora de época ou feriado. Todo mundo que é cruzeirense ganhou ‘folga’ naquele dia”, lembra Marcelo Ramos, emocionado 20 anos depois.
A campanha
Não só a vitória épica na decisão contra o Palmeiras marcou a conquista do Cruzeiro na Copa do Brasil. O clube celeste entrou na competição já na segunda fase, quando enfrentou o Atlético Clube Juventus, de Rio Branco, no Acre. A primeira partida acabou empatada em 1 a 1, mas o Cruzeiro garantiu a classificação com um sonoro 4 a 0 na volta, no Independência. Da fase seguinte em diante, todos os compromissos foram diante de grandes equipes brasileiras. Contra o Vasco, porém, nas oitavas de final, o time de Levir Culpi começou a mostrar seu real valor: 6 a 2 no cruz-maltino de Antônio Lopes em pleno São Januário. A partida da volta, em Belo Horizonte, acabou empatada em 1 a 1.
Nova goleada marcou a passagem do Cruzeiro pelas quartas de finais da competição. A equipe celeste bateu o Corinthians por 4 a 0 na primeira partida e ganhou o direito de perder o segundo compromisso, quando sofreu revés de 3 a 2. Classificado para a semifinal, o time celeste passou pelo Flamengo graças ao gol marcado fora de casa: o primeiro jogo acabou 1 a 1, no Rio de Janeiro, e o segundo, no Mineirão, 0 a 0.
Os detalhes da campanha:
Segunda fase
Atlético Clube Juventus 1 x 1 Cruzeiro – 13/3/1996, no José de Melo, em Rio Branco (AC)
Cruzeiro 4 x 0 Atlético Clube Juventus – 20/3/1996, no Independência, em Belo Horizonte
Oitavas de final
Vasco 2 x 6 Cruzeiro – 28/3/1996, em São Januário, no Rio de Janeiro
Cruzeiro 1 x 1 Vasco – 17/4/1996, no Independência, em Belo Horizonte
Quartas de final
Cruzeiro 4 x 0 Corinthians – 24/4/1996, no Independência, em Belo Horizonte
Corinthians 3 x 2 Cruzeiro – 10/5/1996, no Pacaembu, em São Paulo
Semifinal
Flamengo 1 x 1 Cruzeiro – 28/5/1996, no Maracanã, no Rio de Janeiro
Cruzeiro 0 x 0 Flamengo – 5/6/1996, no Mineirão, em Belo Horizonte
Final
Cruzeiro 1 x 1 Palmeiras – 14/6/1996, no Mineirão, em Belo Horizonte
Palmeiras 1 x 2 Cruzeiro – 19/6/1996, no Palestra Itália, em São Paulo
Números da competição
40 participantes
70 jogos
187 gols (2,67 de média por partida)
887.180 total de público
Principais artilheiros
Luizão (oito gols, Palmeiras)
Marcelo Ramos (sete gols, Cruzeiro)
Sávio (seis gols, Flamengo)
Ficha dos dois jogos da decisão:
Cruzeiro 1 x 1 Palmeiras
Cruzeiro
Dida; Vitor, Jean, Célio Lúcio e Nonato; Fabinho, Ricardinho, Ueslei (Roberto Gaúcho) e Palhinha; Marcelo Ramos e Cleison (Luis Fernando). Técnico: Levir Culpi
Palmeiras
Veloso; Gustavo, Cláudio, Cléber e Júnior; Galeano, Amaral, Marquinhos e Elivélton (Reinaldo) (Júnior II); Rivaldo e Luizão. Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Gols: Cláudio (12’ 1ºT) e Marcelo Ramos (16’ 2ºT)
Público: 68.763 pagantes
Renda: R$966.415,00
Motivo: jogo de ida da decisão da Copa do Brasil
Data: 14 de junho de 1996
Estádio: Mineirão, em Belo Horizonte
Árbitro: Antônio Pereira da Silva (GO)
Palmeiras 1 x 2 Cruzeiro
Cruzeiro
Dida; Vítor, Gélson Baresi, Célio Lúcio e Nonato; Fabinho, Ricardinho, Palhinha (Edmundo) e Roberto Gaúcho; Marcelo Ramos e Cleisson. Técnico: Levir Culpi
Palmeiras
Velloso; Cafu, Sandro Blum, Cléber e Júnior; Cláudio (Reinaldo Rosa), Amaral, Marquinhos e Rivaldo; Luizão e Djalminha. Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Gols: Luizão (6’ 1ºT); Roberto Gaúcho (25’ 1ºT) e Marcelo Ramos (36’ 2ºT)
Público: 29.139
Renda: R$ 329.159,00
Motivo: jogo de volta da decisão da Copa do Brasil
Data: 19 de junho de 1996
Estádio: Palestra Itália, em São Paulo
Árbitro: Sidrack Marinho (SE)