
Para apimentar o confronto, o jornal Estado de Minas resolveu convidar jogadores do clube celeste para comentar o jogo num jantar, às vésperas do duelo decisivo. Marcelo Ramos, Roberto Gaúcho, Cleison e Uéslei aceitaram a proposta. Como prato principal, uma leitoa - em referência ao porco, mascote do Palmeiras. A ‘provocação’, publicada na capa do jornal do dia da partida (14/06/1996), não caiu bem entre paulistas.
“Fizemos a foto dos quatro jogadores simulando a degustação da leitoa. Era para colocar lenha na fogueira, motivar a torcida do Cruzeiro. Só que a mídia de São Paulo entendeu que estávamos menosprezando o Palmeiras. Aí a coisa chegou a Belo Horizonte com outro sentido… E os cruzeirenses ficaram preocupados, dizendo que tínhamos acirrado os ânimos do Palmeiras”, relembra o então editor de esportes Arnaldo Viana, que sugeriu a matéria, produzida pela repórter Vilma Coelho.
“Isso aí foi um vacilo gigante da gente. Demos uma arma para o Palmeiras”, afirma o ex-meio-campista Cleison, titular do Cruzeiro na decisão e um dos presentes no jantar.
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Relembre, nas páginas do Estado de Minas, o título do Cruzeiro na Copa do Brasil de 1996 Assista aos lances da decisão da Copa do Brasil de 1996, conquistada pelo Cruzeiro Campeões da Copa do Brasil de 1996 relembram chegada do Cruzeiro a BH: 'Parou a cidade toda' Levir exalta feito do Cruzeiro em 1996 sobre Palmeiras e lembra choro: 'Orgasmo espiritual' 20 anos de uma página heroica: Cruzeiro comemora aniversário de título da Copa do Brasil
E foi justamente dessa maneira que a polêmica foto foi recebida pela torcida e por parte do elenco alviverde. Apesar disso, Roberto Gaúcho diz não se arrepender de ter posado para a foto. Autor de um gol e duas assistências nas partidas decisivas, o ex-atacante se defendeu.
“A gente fez sem maldade. (A matéria) Promoveu o jogo, e fiz isso outras vezes. Isso aí o torcedor gosta. Hoje, a falta disso está tirando o pessoal do estádio. Quando chegamos lá em São Paulo, a torcida do Palmeiras queria nos matar. Até hoje tem palmeirense que lembra isso aí”, contou.
A brincadeira, no entanto, foi repreendida por Levir Culpi. Hoje no Fluminense, o vitorioso treinador conquistou o primeiro título nacional de sua carreira naquele ano.
“Não gostei da matéria, porque aqui no Brasil a gente é muito movido pela emoção. Você acaba motivando seu adversário, falando besteira. Nessas horas, a gente tem que procurar evitar ao máximo de falar algo que pode ser usado contra você. Lembro que cobrei sim dos jogadores”, afirma o comandante.
Enquanto em São Paulo a capa do jornal soou como menosprezo, em Belo Horizonte ela quase trouxe consequências indesejáveis a quem elaborou a pauta.
“Pipocou telefonema de cruzeirense no jornal, falando que ia cancelar a assinatura, que o jornal tinha feito uma brincadeira de mau gosto. E um diretor do jornal da época mandou um recado pra mim, dizendo que, se o Cruzeiro perdesse, eu estaria demitido”, conta Arnaldo Viana.
No jogo de ida, empate por 1 a 1. Vantagem para o Palmeiras, que teria a chance de decidir o título em casa. Para a sorte do jornalista e a alegria dos cruzeirenses, a equipe celeste surpreendeu a ‘seleção palmeirense’. Numa das maiores atuações das carreira de Dida, Marcelo Ramos e Roberto Gaúcho, a Raposa venceu por 2 a 1, de virada, e garantiu o segundo título da Copa do Brasil da história do clube.
“No fim das contas, o leitão estava é muito bom (risos)”, brinca Cleison.
Leia a reportagem do Estado de Minas, publicada em 14/06/1996: