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Conheça o estilo durão e a personalidade de Paulo Bento, novo comandante do Cruzeiro

Fora do mercado há quase dois anos, quando deixou a Seleção Portuguesa, lisboeta de 46 anos é visto como disciplinador, organizado e adepto dos esquemas 4-4-2 e 4-3-3

postado em 11/05/2016 15:50 / atualizado em 11/05/2016 22:02

AFP PHOTO/ FRANCISCO LEONG
O Cruzeiro contratou o português Paulo Bento, de 46 anos, para assumir o comando do time. Conhecido como disciplinador, ele só dirigiu o Sporting de Lisboa, entre 2005 e 2009, e a Seleção Portuguesa, entre 2010 e 2014, inclusive na Copa do Mundo do Brasil.

No Sporting, Paulo Bento conquistou títulos de menor expressão, duas Taças de Portugal e uma Supertaça Cândido de Oliveira, mas teve uma passagem valorizada por conseguir montar uma equipe competitiva em tempos de crise financeira no clube. Ele ajudou, por exemplo, na formação e no desenvolvimento de jogadores como Nani e João Moutinho, estrelas do futebol português. Em relação ao esquema tático, o técnico tem predileção pelo 4-4-2, com losango no meio-campo, com dois volantes e dois meias jogando abertos.

O estilo durão e inflexível de Paulo Bento é comprovado, por exemplo, por ter afastado Liedson de dois jogos no Sporting pelo simples fato de o brasileiro querer treinar de calça no inverno e não de calção, como os demais atletas.

Bento deixou o Sporting em novembro de 2009. Em setembro da temporada seguinte, assumiu a Seleção Portuguesa e a comandou na Eurocopa de 2012, chegando à semifinal. Apesar da boa campanha na competição de seleções do Velho Continente, o jovem treinador fracassou na Copa do Mundo de 2014. Os lusitanos caíram na primeira fase, com quatro pontos no Grupo G. Alemanha e Estados Unidos se classificaram na chave.

Paulo Bento tinha contrato com a Seleção até 2016, mas uma derrota para a Albânia, por 1 a 0, na cidade portuguesa de Aveiro, na primeira partida das eliminatórias da Eurocopa, em setembro de 2014, resultou em sua demissão. Desde então, não voltou ao mercado.

AFP PHOTO/ MIGUEL RIOPA


Jornalistas portugueses procurados pelo Superesportes traçaram um perfil de Paulo Bento:


José Manuel Freitas, TVI

Ele é muito disciplinador, organizado, exige muito dos jogadores. Não sei se os jogadores no Brasil o aceitariam bem. Se estiverem dispostos a trabalhar, com seriedade, terão uma pessoa espetacular a seu lado. Se for com muita descontração, não dará certo. Ele é muito profissional, muito sério, organizado. Muito direto no tratamento das questões. Ele tem uma frase que o define perfeitamente: “Diz-me como treinas, e te direi como jogas”. Para ele, o trabalho diário é fundamental. Quem não der o máximo nos treinos terá grandes dificuldades. Paulo Bento é adepto do 4-4-2, apesar de ter armado o time no 4-3-3 na Seleção Portuguesa. Mas é adepto ao losango no meio-campo. Gosta de jogar com um meia e dois atacantes, um mais fixo na área e outro flutuando. Deivid (ex-técnico do Cruzeiro) foi seu jogador e atuou nesse esquema, sendo o mais fixo e tendo Liedson ao seu lado, saindo mais. Em outro período, armou o time do Sporting com Liedson mais fixo e Derlei mais solto. Um fato curioso de seu período no Sporting mostra como é disciplinador. Era um período frio e o brasileiro Liedson queria treinar de calças, de agasalho. Mas o treinador insistiu que todos deveriam trabalhar de calção. Houve um desentendimento e, por esse motivo, o jogador foi afastado por dois jogos.
AFP PHOTO/ FRANCISCO LEONG


Sérgio Pereira, portal Mais Futebol

Paulo Bento é um treinador disciplinador. As principais características dele são estas: a personalidade forte, o rigor e a intransigência. Não admite falhas comportamentais, faltas de respeito, individualismos. Para ele o grupo está acima de tudo. Não é, ele próprio, um treinador-estrela, que goste de dar nas vistas ou de se promover. É um trabalhador, sério e austero. Fez um excelente trabalho no Sporting, mesmo sem ser campeão, lançando vários jogadores como Nani, Miguel Veloso e João Moutinho, e projetando outros como Liedson, Polga, Derlei ou Deivid. Na seleção nacional também fez um bom trabalho, recuperando um grupo desacreditado e desmotivado. Com ele, Portugal só não ganhou a Eurocopa porque foi eliminado pela Espanha nas semifinais, nos pênaltis. Dentro de campo, gosta de jogar no chamado 4-4-2 losango, com dois atacantes na frente, sendo as equipes geralmente muito focadas no rigor tático e na ocupação da zona central do terreno. Não centra o seu futebol nas transições rápidas, nem na posse de bola, misturando as duas coisas, e gosta de desequilibrar pelas alas.

Norberto Lopes, Jornal de Notícias

Paulo Bento é um pouco como (Luiz Felipe) Scolari. É um líder, tem uma personalidade forte, sabe unir o grupo e é um disciplinador. Em Portugal, fez trabalho no Sporting, onde ganhou duas Taças de Portugal, duas Supertaças e colocou a equipe a lutar pelo título de campeão. Mas também lançou bons jogadores como João Moutinho e Nani. É um treinador que privilegia o 4-4-2 losango, gosta de atuar com dois atacantes abertos, mas com ele as equipes jogam mais para o resultado do que propriamente para o espetáculo. Na Seleção Portuguesa fez uma boa Eurocopa de 2012 e falhou no Mundial de 2014 quando já era visível o desgaste de alguns jogadores em relação ao treinador. Com Paulo Bento, qualquer equipe tem um grupo forte. Um grupo de guerreiros, bem à imagem do treinador. E isso, por vezes, é muito importante para se ganharem jogos.

José Sá Guedes, A Bola TV

O Paulo Bento é um treinador sóbrio, de muito rigor e que aposta na exigência e disciplina. Tem uma experiência enorme enquanto jogador e soube transpor essas qualidades para a função de treinador. Deixou boa impressão enquanto treinador do Sporting e na seleção nacional, apesar de muitos o terem criticado por considerarem que é demasiado inflexível nas opções (é um treinador que se agarra muito às convicções e em alguns momentos pode ter-se tornado vitima dessa pouca flexibilidade) e até nos esquemas táticos. É um técnico que privilegia o estilo mais ofensivo, embora não descure o contra-ataque. Nos leões sempre apostou numa tática 4-4-2, em losango, mas na Seleção apostou mais num 4-3-3. Penso que é um treinador que pode encaixar-se nessa filosofia pretendida pelo Cruzeiro. Como jogador, Paulo Bento era bastante combativo e, agora, como treinador, gosta de ver a mesma entrega nos seus jogadores.

AFP PHOTO/ FRANCISCO LEONG


Nuno Vieira, jornal A Bola

Ele, quando treinou o Sporting, não teve resultados muito positivos, porque o Porto e o Benfica dominavam. Faltava capacidade financeira ao Sporting. Mas ele conseguiu trabalhar na formação de jogadores, como Nani e João Moutinho. Depois, foi chamado para treinar a Seleção Portuguesa. Portugal tinha uma geração muito boa, mas houve obstáculos no desenvolvimento do trabalho dele. Criou-se uma imagem de que Portugal vivia às custas de Cristiano Ronaldo. Paulo Bento tentou organizar uma equipe em torno de Cristiano Ronaldo. Foi bem na Eurocopa e mal na Copa do Mundo. É um treinador de personalidade. Sempre impôs as suas ideias. Algumas vezes gerou conflitos, houve um desentendimento com o Liedson, que acabou afastado do Sporting por dois jogos. Ele afastava quem discordava de suas convicções, era muito duro. Ele é conhecido por muitos como um treinador de potencial. Outros ressaltam que ele teve oportunidades, mas não conseguiu resultados.

António Barroso, jornal A Bola

Paulo Bento era muito cerebral como jogador. Meia de qualidade, que tranquilizava a equipe. Melhor no passe que no desarme. Já se percebia que ia ser treinador. Como treinador, sempre foi disciplinador, mas sempre amigo dos jogadores. Afinal, a maioria jogou a seu lado. Teve problema com o zagueiro Ricardo Carvalho, numa concentração da Seleção. Foi briga feia. Mas tudo está superado agora. Sempre respondeu a tudo, mas sempre de cara feia. Foi demitido da Seleção depois da derrota para a Albânia por 1 a 0 em Portugal, no primeiro jogo das Eliminatórias para a Eurocopa de 2016, na França.

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