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Fisiologistas explicam que Cruzeiro jogará pela segunda vez em período de "pico de desgaste"

Com marcação de clássico para domingo, time celeste, novamente, disputará dois jogos com intervalo de descanso inferior ao determinado em regulamento da CBF

postado em 16/04/2015 08:00 / atualizado em 15/04/2015 20:51

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Dois dias depois de empatar com o Atlético, no primeiro jogo da semifinal do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro voltou a campo. Em Buenos Aires, a equipe foi derrotada pelo Huracán, na Copa Libertadores. A disputa de duas partidas em intervalo de pouco mais de 48 horas será repetida, já que a Raposa enfrentará o arquirrival novamente no domingo e terá duelo decisivo para suas pretensões na competição internacional na terça-feira, com o Universitario de Sucre, no Mineirão. A sequência de jogos gerou muitas reclamações e apelo judicial, que não foi atendido. Para entender os efeitos do desgaste físico para os atletas com a sequência de partidas em curto período, o Superesportes ouviu fisiologistas.

Os profissionais explicaram que a disputa de dois jogos em intervalo de 48 horas acontece no momento em que o jogador está mais desgastado. “Após uma partida, principalmente com o desgaste emocional de um clássico, em que a intensidade é mais alta, o atleta não está apto a jogar nova partida em 48 horas. É o período em que ele tem a maior sensação de cansaço. Nas 48 horas após uma partida, é quando o atleta tem maior dor muscular e maior cansaço. Existe queda de rendimento maior nesse período, porque não são recuperados os parâmetros físicos. O atleta não consegue recuperar força e velocidade”, salientou o fisiologista do Palmeiras, Alessandro Fromer.

Um dos indicadores de desgaste físico, a análise do volume sanguíneo de CK (proteína celular denominada creatinoquinase) atinge o ápice justamente 48 horas após a disputa de uma partida. “Alguns marcadores de dano muscular são mais elevados após 48 horas. Isso significa que o dano continua a acontecer. O fato de a creatinoquinase estar elevada 48 depois de um jogo significa que o dano muscular continua progredindo”, ratificou Emerson Silami, que foi o fisiologista da Seleção Brasileira na última Copa do Mundo.

Após uma partida e um treinamento, o atleta sofre microlesões musculares. A CK é uma proteína que quantifica o quanto o jogador sofreu de microlesões. Esse indicador é detectado através de uma pequena gota de sangue coletada do dedo do atleta em até 40 horas após a disputa de uma partida. O volume dessa proteína no sangue é comparado com parâmetro de exames realizados com o jogador no início da temporada. Caso o percentual supere 50%, a probabilidade de lesão já se torna preocupante.

A probabilidade de lesão será ainda maior com duas sequências de jogos em intervalo de pouco mais de 48 horas, como acontecerá com o Cruzeiro pela segunda vez. “Esse segundo jogo em 48 horas já é um tempo curto de recuperação para atletas profissionais. Somada essa sequência em duas semanas, elas têm acumulo de carga que com certeza terá interferência no quarto jogo (contra o Universitario de Sucre), e aumentará a possibilidade de lesão”, destacou Fromer.

Ambos os fisiologistas ouvidos destacaram que as viagens, como aconteceu com o Cruzeiro em ida e volta da Argentina, contribuem para o desgaste ser ainda maior. “A gente ouve pessoas falando que os jogadores viajam nos melhores aviões, comem nos melhores restaurantes, mas não funciona assim. A recuperação acontece durante o sono para todo o ser humano. O repouso é muito importante, assim como a alimentação. E o repouso do atleta é diferente, sentado, seja num ônibus ou num avião, ele não relaxa. E a alimentação já não é a mesma. Quando o atleta viaja, a comida é diferente. Tudo isso faz com que atleta não tenha recuperação adequada”, ressaltou Silami.

Prazo ideal para recuperação

Embora o Regulamento Geral de Competições da CBF determine prazo mínimo de 60 horas entre dois jogos, os fisiologistas apontam que 72 horas seria o período mínimo necessário para que a recuperação completa do jogador. “Os estudos que existem hoje apontam que 72 horas é suficiente para recuperar parâmetros físicos, mas o maior desgaste é gerado no acúmulo de jogos da temporada”, observou Alessandro Fromer.

Emerson Silami destacou que o prazo determinado em regulamento visa atender interesses comerciais do futebol. “Se colocassem 72 horas de prazo para recuperação, não seria possível viabilizar as competições, porque também há as viagens. O ideal mesmo seria um jogo por semana, mas, comercialmente, o futebol quebraria”, disse.

Tags: fisiologia cruzeiro desgaste muscular