Dois dias depois de empatar com o Atlético, no primeiro jogo da semifinal do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro voltou a campo. Em Buenos Aires, a equipe foi derrotada pelo Huracán, na Copa Libertadores. A disputa de duas partidas em intervalo de pouco mais de 48 horas será repetida, já que a Raposa enfrentará o arquirrival novamente no domingo e terá duelo decisivo para suas pretensões na competição internacional na terça-feira, com o Universitario de Sucre, no Mineirão. A sequência de jogos gerou muitas reclamações e apelo judicial, que não foi atendido. Para entender os efeitos do desgaste físico para os atletas com a sequência de partidas em curto período, o Superesportes ouviu fisiologistas.
Os profissionais explicaram que a disputa de dois jogos em intervalo de 48 horas acontece no momento em que o jogador está mais desgastado. “Após uma partida, principalmente com o desgaste emocional de um clássico, em que a intensidade é mais alta, o atleta não está apto a jogar nova partida em 48 horas. É o período em que ele tem a maior sensação de cansaço. Nas 48 horas após uma partida, é quando o atleta tem maior dor muscular e maior cansaço. Existe queda de rendimento maior nesse período, porque não são recuperados os parâmetros físicos. O atleta não consegue recuperar força e velocidade”, salientou o fisiologista do Palmeiras, Alessandro Fromer.
Um dos indicadores de desgaste físico, a análise do volume sanguíneo de CK (proteína celular denominada creatinoquinase) atinge o ápice justamente 48 horas após a disputa de uma partida. “Alguns marcadores de dano muscular são mais elevados após 48 horas. Isso significa que o dano continua a acontecer. O fato de a creatinoquinase estar elevada 48 depois de um jogo significa que o dano muscular continua progredindo”, ratificou Emerson Silami, que foi o fisiologista da Seleção Brasileira na última Copa do Mundo.
Após uma partida e um treinamento, o atleta sofre microlesões musculares. A CK é uma proteína que quantifica o quanto o jogador sofreu de microlesões. Esse indicador é detectado através de uma pequena gota de sangue coletada do dedo do atleta em até 40 horas após a disputa de uma partida. O volume dessa proteína no sangue é comparado com parâmetro de exames realizados com o jogador no início da temporada. Caso o percentual supere 50%, a probabilidade de lesão já se torna preocupante.
A probabilidade de lesão será ainda maior com duas sequências de jogos em intervalo de pouco mais de 48 horas, como acontecerá com o Cruzeiro pela segunda vez. “Esse segundo jogo em 48 horas já é um tempo curto de recuperação para atletas profissionais. Somada essa sequência em duas semanas, elas têm acumulo de carga que com certeza terá interferência no quarto jogo (contra o Universitario de Sucre), e aumentará a possibilidade de lesão”, destacou Fromer.
Ambos os fisiologistas ouvidos destacaram que as viagens, como aconteceu com o Cruzeiro em ida e volta da Argentina, contribuem para o desgaste ser ainda maior. “A gente ouve pessoas falando que os jogadores viajam nos melhores aviões, comem nos melhores restaurantes, mas não funciona assim. A recuperação acontece durante o sono para todo o ser humano. O repouso é muito importante, assim como a alimentação. E o repouso do atleta é diferente, sentado, seja num ônibus ou num avião, ele não relaxa. E a alimentação já não é a mesma. Quando o atleta viaja, a comida é diferente. Tudo isso faz com que atleta não tenha recuperação adequada”, ressaltou Silami.
Prazo ideal para recuperação
Embora o Regulamento Geral de Competições da CBF determine prazo mínimo de 60 horas entre dois jogos, os fisiologistas apontam que 72 horas seria o período mínimo necessário para que a recuperação completa do jogador. “Os estudos que existem hoje apontam que 72 horas é suficiente para recuperar parâmetros físicos, mas o maior desgaste é gerado no acúmulo de jogos da temporada”, observou Alessandro Fromer.
Emerson Silami destacou que o prazo determinado em regulamento visa atender interesses comerciais do futebol. “Se colocassem 72 horas de prazo para recuperação, não seria possível viabilizar as competições, porque também há as viagens. O ideal mesmo seria um jogo por semana, mas, comercialmente, o futebol quebraria”, disse.