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Injustiça reparada

Capitão e ídolo celeste, goleiro dá a resposta às críticas de ser pé-frio e sem título

postado em 14/11/2013 09:13


Fábio Deivison Lopes Maciel. Talvez nenhum jogador do Cruzeiro mereça tanto este título brasileiro quanto ele. O caneco faz justiça ao goleiro. Tachado por alguns de pé-frio, por “nunca ter ganhado nada”, o camisa 1 provou, em quase todas as partidas (é o único a ter jogado todas), sua imensa categoria e competência. A cada defesa, a cada lance importante, a cada bola salva, o atleta ajudou a equipe a consolidar um tricampeonado construído desde a primeira rodada. Verdadeiro paredão, alicerce fundamental, consolidando a base sólida de um grande setor defensivo.

Não por acaso, aos 33 anos, Fábio é hoje o grande ídolo da torcida celeste. Sétimo jogador que mais vestiu a camisa do clube, é o segundo goleiro (533), atrás somente do mítico Raul (557). “Não existe time campeão com um goleiro mais ou menos. Todo campeão tem um goleiro de expressão e de qualidade. O Cruzeiro está muito bem servido”, elogiou recentemente o recordista.

Fábio estreou no Cruzeiro em 4 de março de 2000, na vitória sobre o Universal-RJ por 2 a 0, em amistoso no Mineirão, ainda com o técnico Levir Culpi. Disputou somente mais três jogos. Reserva de André, viu do banco a conquista da Copa do Brasil. Então emprestado pelo União Bandeirante-PR, acabou não ficando e se transferiu para o Vasco. Pelo cruz-maltino, cujo titular era Hélton, foi campeão brasileiro naquele mesmo ano. Com a venda do titular ao futebol português, assumiu a posição. Em 2005, aí em definitivo, retornou à Toca da Raposa. Sua reestreia foi em 29 de janeiro, na vitória sobre o Democrata-SL por 2 a 0, pelo Estadual, no Mineirão.

SUPERANDO OBSTÁCULOS Antes de se firmar de vez, tornar-se o capitão do time, um dos líderes do elenco, admirado pela torcida, respeitado pelos companheiros e dirigentes, Fábio passou por atribulações, principalmente na relação com alguns torcedores em momentos marcantes, como na eliminação nas semifinais da Copa do Brasil de 2005 pelo Paulista, em pleno Mineirão, ao ser acusado de falhar em dois gols dos visitantes; ou como na goleada sofrida para o Atlético na primeira partida decisiva do Mineiro de 2007, quando sofreu o último gol, do atacante Vanderlei, enquanto caminhava para sua meta, de costas para o jogo.

Mas nada baixou a guarda do goleiro. Aliás, pelo contrário. Ele pareceu ter tirado forças de onde tinha e de onde não tinha, de todos os episódios em que foi criticado. E passou a ser comum fazer milagres, salvando a equipe sobretudo nos anos em que ela não esteve bem, como em 2011 e 2012, evitando um rebaixamento quase certo. O fato de ser seguidamente esquecido pelos técnicos da Seleção Brasileira nas convocações é pauta constante nas discussões entre torcedores, até mesmo não cruzeirenses. É senso comum que não dá para entender como um atleta de tal categoria não tenha uma chance real com a camisa amarela.

“O título concretiza uma história dentro do Cruzeiro, que ninguém pode tirar, pela quantidade de jogos, pelos anos no Cruzeiro, com muita dedicação e muito trabalho”, avaliou o camisa 1, antes mesmo do fim do campeonato. “Em cada momento que tenho oportunidade de estar no Cruzeiro, meu coração fica feliz, porque sei as dificuldades pelas quais passei, os obstáculos rompidos. Meu coração está feliz pelo tempo em que estou aqui.” É o prêmio por todos os anos de profissionalismo, respeito aos torcedores e, principalmente, à camisa celeste, de tantas glórias e tradições. A coroação a um profissional como poucos no Brasil, que aprendeu a gostar do clube, um dos que mais treinam e cobram. Profissional exemplar, dedicado à família e distante das badalações habituais em seu meio.

Sem sombra de dúvida, o nome de Fábio já está mais do que gravado na história e registrado no coração dos cruzeirenses. E hoje a meta celeste, que já teve debaixo das traves nomes como Geraldo II, Dida, Gomes e, claro, Raul, tem uma certeza: Fábio, a bola da vez, promete que sua trajetória no clube não para por aqui.


A CARREIRA

Além da Copa do Brasil e do Brasileiro de 2000, ambos como reserva, Fábio faturou vários prêmios individuais, entre eles o de melhor goleiro do Brasileiro de 2010; Troféu Telê Santana, da TV Alterosa, como melhor goleiro de Minas em 2006, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012, e craque do ano em 2006, 2008 e 2010. Foi campeão carioca em 2003, mineiro em 2006, 2008, 2009 e 2011 e vice da Libertadores de 2009, tornando-se o goleiro com mais jogos na competição pelo clube (42). É um dos três da posição com as mãos gravadas na calçada da fama do Memorial do Futebol Mineiro, ao lado de Raul e do atleticano João Leite.