Em entrevista ao Superesportes na noite de quarta-feira, logo após saber da quebra do vínculo pelo diretor de futebol Dimas Fonseca, o volante disse entender a posição do clube, que vive uma crise econômica financeira a ponto de atrasar o pagamento de direitos de imagem de vários jogadores durante toda a temporada passada. A alegação da direção para a dispensa foi a necessidade de enxugar a folha de pagamento e reorganizar as finanças este ano.
“O clube vinha passando por alguns apertos. O clube vem passando por um momento financeiro que não é legal, e foi o que foi exposto pra mim. Eles estão enxugando a folha, foi colocado que se não tomar conta o Cruzeiro vai seguir pelo caminho de muitos clubes. Acho isso legal o clube ter essa preocupação. Deixei claro para o dirigente, nós temos algumas questões para acertar e tem o pra frente. O Dimas está fazendo um trabalho de prevenção. Ele tem jogadores como Fabinho, Gilberto, Roger, Caçapa. Quer dizer, são jogadores que vieram de fora, com uma realidade de fora do futebol brasileiro, o salário. O clube bateu na trave da Libertadores, não chegou e é como eu digo: o planejamento de um time é de três anos. Não ganhou nada, joga todo mundo fora e traz outros. Essa é a minha concepção. O Dimas está fazendo certo, porque no ano passado teve que pedir empréstimo”, disse.
Fabinho também chegou à conclusão de que não tinha mais o perfil desejado pelo clube. Em sua maioria, os titulares são atletas com possibilidade de transferência para o exterior. Aos 30 anos, ele só poderia oferecer benefício técnico no Mineiro, na Libertadores e no Brasileiro.
“Muitas vezes eu não entendia o que acontecia, mas hoje vendo friamente, o Cruzeiro vive de negócios, como me passaram, e eles estão com dificuldade para vender alguns atletas. (...) Eu não joguei porque o Cruzeiro investiu em alguns jogadores e, com o tempo, eu passei a entender que o Cruzeiro tinha que contar com esses jogadores no time para fazer caixa, para poder manter o grupo. E nossa conversa (para rescindir) foi em função disso”, explicou.
Adílson Batista
Fabinho contou que sua contratação foi bancada pelo presidente Zezé Perrella, o que pôde não ter agradado o então técnico Adílson Batista, que queria a manutenção do “trio de ferro” com Henrique, Fabrício e Marquinhos Paraná. “Não vou falar da qualidade de ninguém, mas eu tenho uma história. Eu venho como jogador de peso para o clube, só que eu fui contratado pelo presidente, não pelo treinador. O Zezé tem essa situação, ele contrata e depois o treinador tem que dar um jeito. É assim”.
Sob o comando de Adílson Batista, Fabinho alega ter vivido maus momentos no Cruzeiro. Embora tenha sido uma espécie de coringa, ao atuar na zaga e no meio-campo, ele teria sido usado como exemplo negativo pelo treinador em preleções. “O que me incomodava no Cruzeiro é que eu fui contratado para fazer parte e com o Adílson eu tive um problema até mesmo de exclusão, não de humilhação, mas eu passei com o Adílson algumas coisas que nunca passei na minha vida. Saíram umas conversas extra-campo que me irritaram muito. Numa coletiva, me perguntaram o que eu esperava do treinador e eu disse que não esperava nada, porque ele trabalhava de uma forma e na hora de definir o time, algumas horas antes, ele mudava. E sempre mudava para o meu lado. Ele me usou algumas vezes como exemplo pejorativo, coisa que me irritou profundamente, e eu conversei na época com o Maluf. O cara só nota coisa de errado e eu batia pau a pau com os caras que ele trouxe, era o que eu sentia. Ele exaltava demais alguns jogadores e às vezes você fazia até mais e não era citado”.
Na versão de Fabinho, Adílson preferia escalar um titular em más condições clínicas a optar por um suplente inteiro. “Eu cheguei e o Cruzeiro estava montado com o trio de ferro. O que me incomoda é o treinador às vezes esperar o jogador quatro dias no DM e não mexer no time sabendo que tem peça, que tem condição de repor. Eu aprendi muito com o Adílson e ele vai aprender muito na carreira dele como treinador. É um cara que tem muita vontade. Ele pode ter os erros dele, mas tem brio. Ele banca até o fim os atletas dele”.
Cuca
Dos 55 jogos que fez pelo Cruzeiro, Fabinho foi aproveitado por Cuca em 12, quatro como titular. Segundo ele, pouca coisa mudou com a chegada do novo treinador. “O Cuca eu não entendi também, porque eu estava para sair, foi conversado que ele ia dar oportunidade, realmente quem estava melhor ia jogar e não aconteceu. E aí começou a incomodar a situação porque muito torcedor me via na rua, perguntava se eu estava machucado. Com o Cuca eu estive muito presente nas viagens, concentrações e não jogava”.
A maior decepção do jogador com Cuca foi na reapresentação de quarta-feira. “Eu cheguei lá, o Cuca me deu um abraço, me desejou feliz Ano Novo, e pra mim a situação estava tranqüila. Depois me chamaram lá e me colocaram essa situação. Eu fiquei chateado porque acho que o treinador tem de ter uma postura diferente. Tenho certeza que essa decisão do clube, de enxugar, de dispensar os salários mais altos, teve o consentimento dele. Ele deveria chegar e conversar comigo. Mas ninguém faz isso. Tenho certeza que seu eu tivesse jogado mais e quisesse sair agora, ia ser o oposto, o Cruzeiro ia barrar, com certeza ia tentar fazer acordo comigo, porque tem salário, tem algumas coisas que estão em aberto”.
Alto investimento
Fabinho admite que acertou um contrato com o Cruzeiro com bases salariais de Europa. Por isso, seu desejo era sair por cima. “Não posso avaliar por treinador, o que posso falar é que sempre que fui solicitado, eu correspondi. Nas minhas estatísticas, eu não tenho tantas partidas como outros volantes, mas em termos de eficiência, se você pegar os meus números no ano inteiro, eu tenho a mesma quantidade de gols do que o Henrique, o que mais jogou. Não era minha função fazer gols, mas é uma característica minha. Acredito que quem perdeu nesse tempo todo foi o clube, porque foi um investimento caro, era um investimento caro, e isso foi o maior fator da minha saída. Eu já estava me sentindo envergonhado pelo investimento que o clube fez e pelo retorno que não teve”. (UAI)