2

Histórica, Croácia incomoda gigantes e perturba ordem do futebol mundial

Bronze é reconhecimento para uma seleção que protagonizou as duas últimas Copas do Mundo e terá de se reinventar sem Luka Modric, o maior do país

17/12/2022 15:37 / atualizado em 17/12/2022 16:03
compartilhe
Festa dos jogadores da Croácia com a terceira colocação na Copa do Mundo de 2022, no Catar
foto: JACK GUEZ / AFP

Festa dos jogadores da Croácia com a terceira colocação na Copa do Mundo de 2022, no Catar


No futebol de clubes, é comum o surgimento de potências. Chelsea, Manchester City e PSG são os exemplos mais célebres de equipes que mudaram radicalmente suas histórias a partir de investimentos bilionários. Com seleções, a ascensão e consolidação de novos protagonistas é raridade. Não à toa, são apenas oito campeões em 22 edições de Copa do Mundo. À Croácia, ainda falta a glória máxima. Mas o rótulo de 'intrusa' talvez não se encaixe mais.

Festa e premiação da Croácia por terceiro lugar na Copa do Mundo



E a vitória deste sábado (17) por 2 a 1 sobre Marrocos, no Estádio Internacional Khalifa, em Doha, é mais um argumento para isso. Com o resultado - que teve gols de Gvardiol e Orsic para os croatas, e Dari para os marroquinos -, a seleção europeia fica com o terceiro lugar no Catar e escreve mais um capítulo marcante na trajetória da sua melhor geração.

A Croácia é uma nação nova, originada da cisão da antiga Iugoslávia. Declarou independência em 1991 e disputou a Copa do Mundo pela primeira vez em 1998. Embalada por Davor Suker, artilheiro do Mundial com seis gols, surpreendeu o planeja ao conseguir a medalha de bronze, atrás apenas dos tradicionais França e Brasil.

Passou um tempo longe dos holofotes, é verdade, mas retomou o protagonismo com o vice-campeonato em 2018 e o terceiro lugar de 2022. Em seis edições disputadas (ficou fora em 2010), foi ao pódio em metade - frequência que muitos dos gigantes, como Argentina, Brasil, Itália, Espanha e Uruguai, não alcançaram no mesmo período de tempo.

O país tem consciência do tamanho do feito. A minutos do apito final no Internacional Khalifa (17), os jogadores se aglomeraram à beira do gramado, ansiosos pelo término do jogo. Nas ruas da capital Zagreb, vários pontos registraram comemoração dos torcedores.

Jogadores celebram momento histórico do futebol croata
foto: Odd ANDERSEN / AFP

Jogadores celebram momento histórico do futebol croata



Festa da torcida croata em Zagreb com o terceiro lugar na Copa



Cenas que podem parecer estranhas para a cultura futebolística brasileira, que valoriza unicamente o campeão. Na Croácia, nação com menos de quatro milhões de habitantes no meio dos Bálcãs, o que para alguns poderia ser mero prêmio de consolação vira o reconhecimento merecido a uma equipe que tem desafiado gigantes e eliminou o pentacampeão Brasil nas quartas de final.

"Nós realmente nos esforçamos muito. Todos os jogadores entre titulares e banco deram tudo de si. No final, fomos recompensados. A medalha de bronze para nós vale ouro, e de fato é muito importante para a nossa nação, grande feito", comemorou o técnico Zlatko Dalic, em declaração que sintetiza o significado do terceiro lugar.

É difícil assegurar que a ascensão croata continuará nos próximos anos. Afinal, trata-se de uma geração parcialmente envelhecida e que tem os dias contados. O grande maestro Luka Modric, um dos principais jogadores do século, tem 37 anos e disputou o último jogo de Copa da carreira. Deve ficar ao menos até a Eurocopa de 2024 para auxiliar o mentor dessa equipe, Zlatko Dalic, no desafiador processo de renovação.

Lovren (33), Perisic (33), Brozovic (30) e Kramaric (31), outros pilares da equipe que eliminou o Brasil, já não são garotos. Por outro lado, Livakovic (27), o ótimo Gvardiol (20) e Kovacic (28) serão muito importantes na caminhada até 2026.

O sarrafo subiu. Depois de dois Mundiais como os de 2018 e 2022, a Croácia deixa de ser surpresa. Mas, a partir de 2026, terá de se virar sem o maior jogador da história do país. Modric se despede das Copas do Mundo após quatro participações (2006, 2014, 2018 e 2022).

No Catar, faltaram gol e assistência. Mas o legado de Luka - intimamente saudado pelo primeiro pela torcida nas arquibancadas - é muito maior do que os números individuais. Com ele, os croatas alcançaram o protagonismo.

Compartilhe