A cena de Ivana Knoll, 30, descendo as escadas de um estádio da Copa do Mundo enquanto dois homens árabes a fotografavam viralizou nas redes sociais. A modelo vestia um top decotado com as cores da bandeira croata e protagonizou uma imagem que simboliza um verdadeiro choque cultural num país tão conservador como é o Catar. Em entrevista ao Superesportes (leia a íntegra ao final do texto), ela diz que, até agora, nenhum catari a confrontou sobre as roupas que usa.
"Eu nunca tive problemas. Todo mundo é muito legal, a Copa do Mundo é legal. Até as pessoas do Catar e os árabes estão vindo para pedir fotos quando estou vestida assim. Se nós respeitamos um ao outro e as diferenças culturais, religiosas e tudo mais, é a coisa mais linda", diz a influenciadora, que chegou ao país com cerca de 500 mil seguidores no Instagram e agora soma quase 2 milhões.
O Catar tem menos de 3 milhões de habitantes, dos quais apenas cerca de 350 mil são nativos. Em um país formado majoritariamente por imigrantes, os papéis histórica e socialmente atribuídos às mulheres são uma grande área cinzenta. Há desde as famílias mais liberais, com regras menos rígidas, até aquelas ditas tradicionais, em que a religião cumpre função impositiva que vai muito além da vestimenta.
A sharia, lei islâmica, tem interpretações e aplicações variadas em diferentes locais. O Wahhabismo Sunita é o fundamentalismo mais representativo no Catar, onde vigora um sistema de tutela masculina. Em resumo, as mulheres submetidas a essa regra precisam de uma autorização formal de um homem para inúmeras decisões, como casamento, divórcio, viagens, estudo no exterior. Também é exigida aprovação para exames ginecológicos e tratamento de saúde reprodutiva. O tutor pode ser pai, irmão, tio, padrinho ou marido.
Há também um grande número de imigrantes ocidentais, não submetidas ao sistema. Durante a Copa do Mundo, o governo local e a própria população em geral têm se mostrado ligeiramente mais abertos às diferentes formas de se vestir. Questionada se a escolha das roupas vai além do desejo pessoal e passa também por uma espécie de ato político, Ivana entende que não.
"Eu não acho que seja uma ato político. Outras coisas são atos políticos. Eu acho que eles estão apenas tentando fazer com que a Copa do Mundo seja a melhor possível para o país deles e para os visitantes. É difícil, porque nós não somos iguais, mas acho que eles fizeram um trabalho muito bom", disse.
Revanche contra o Brasil
Ivana nasceu na Alemanha em 1992, mas se mudou ainda nova para a Croácia com os pais. No país, tornou-se miss. Atualmente, trabalha como influenciadora digital, modelo, atriz e empresária.
Esta é a terceira Copa do Mundo de Ivana, que também esteve no Brasil em 2014 e na Rússia em 2018. A croata, que se divide entre trabalhos nos EUA e na Europa, lembra com saudade a visita ao Rio de Janeiro e a São Paulo, há oito anos.
"Foi sensacional no Brasil. Foi a minha primeira Copa do Mundo. Nós abrimos a Copa em um jogo contra vocês e foi incrível", diz, em referência à vitória brasileira por 3 a 1 na Neo Química Arena.
O reencontro entre os países será nesta sexta-feira (9), às 12h (de Brasília), no Estádio Cidade da Educação, em Al Rayyan, pelas quartas de final. Para Ivana, é a hora da "vingança" croata.
"Sim, claro que estou confiante, porque nós fomos vice-campeões na última Copa do Mundo. Tenho certeza que vai ser um jogo muito duro, mas acho que agora é a hora de a gente vencer, porque vocês ganharam da gente na abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e agora é hora da vingança (risos)", brincou.
Mas e se a Croácia for eliminada? Ela já tem uma segunda opção. Ou melhor, terceira. "Infelizmente, meu segundo time é a Alemanha, que não está mais na Copa do Mundo (risos). Mas acho que eu torceria para a Inglaterra", concluiu.
Leia a entrevista completa de Ivana Knoll
Superesportes: Ivana, por favor, apresente-se para quem não te conhece.
Ivana Knoll: "Eu sou a Ivana Knoll, estou em Doha, no Catar, para a Copa do Mundo. Eu sou modelo, atriz e influenciadora, trabalho na Europa e agora tenho um visto de trabalho para os Estados Unidos. Estou dividida entre EUA e Europa".
SE: Esta é sua terceira Copa do Mundo. Você esperava ficar tão popular?
IK: "Eu nunca pensei que poderia ficar tão 'popular', que Piers Morgan me chamaria para participar de um programa ao vivo. Eu estive no Brasil para a Copa do Mundo. Depois, fui também à Rússia. No primeiro jogo, a Fifa tirou uma foto minha no estádio. Naquele momento, viralizou. Eu vim para o Catar com meio milhão de seguidores no Instagram, mas aqui eu explodi e tenho quase 2 milhões. Todo dia é uma loucura (risos)".
SE: Como você se sente com a fama e com tantos novos seguidores?
IK: "Não é tão novo para mim, porque eu já tinha meio milhão de seguidores, o que não é tão pouco. As pessoas já me reconheciam antes. Mas agora tudo é muito mais massivo. Para ser sincera, eu estou estressada. Todos os dias, eu tenho entrevistas e sessões de fotos, entrevistas e sessões de fotos, e aí eu vou para o jogo... Todo dia é a mesma coisa: entrevistas, sessões fotográficas e jogo. Eu ainda não conheci Doha, e estou aqui desde 21 de novembro. Você pode imaginar como é... (risos)".
SE: Como é para você vestir a roupa que você quer em um país tão conservador? Você já teve problemas por aqui?
IK: "Eu nunca tive problemas. Alguns veículos de imprensa da Europa tentaram fazer com que eu falasse algo contra o Catar, mas eu nunca tive nenhuma experiência negativa aqui. Todo mundo é muito legal, a Copa do Mundo é legal. Até as pessoas do Catar e os árabes estão vindo para pedir fotos quando estou vestida assim. Eu fico muito feliz por eles fazerem a Copa do Mundo confortável para todos, porque se nós respeitamos um ao outro e as diferenças culturais, religiosas e tudo mais, é a coisa mais linda. É por isso que eu gosto da Copa do Mundo: muitas nações, muitas culturas, e nós estamos respeitando e aceitando uns aos outros".
SE: Você crê que se vestir da forma como você quer aqui no Catar é também uma espécie de ato político?
IK: "Eu não acho que seja uma ato político. Outras coisas são atos políticos. Eu acho que eles estão apenas tentando fazer com que a Copa do Mundo seja a melhor possível para o país deles e para os visitantes. É difícil, porque nós não somos iguais, mas acho que eles fizeram um trabalho muito bom".
SE: Vamos falar de futebol. Você está confiante para o jogo da Croácia contra o Brasil?
IK: "Sim, claro que estou confiante, porque nós fomos vice-campeões na última Copa do Mundo. Para ser sincera, não vai ser fácil, porque o Brasil tem um time muito bom. Eu vi o jogo contra a Sérvia. É um time muito bom, mas nós também temos um time muito bom. Tenho certeza que vai ser um jogo muito duro, mas acho que agora é a hora de a gente vencer, porque vocês ganharam da gente na abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e agora é hora da vingança (risos)".
SE: Como foi no Brasil em 2014? Do que você mais gostou no país?
IK: "Foi sensacional no Brasil. Foi a minha primeira Copa do Mundo. Nós abrimos a Copa em um jogo contra vocês e foi incrível. Eu gostei da organização, de tudo. Eu fui ao Rio, a São Paulo. No Rio, pegamos um carro e paramos em vários lugares para ver. Não lembro bem os nomes, mas fomos em Ubatuba e outros lugares. Foi incrível. O Brasil é um país incrível e legal. Espero voltar em breve"
SE: Se a Croácia for eliminada pelo Brasil, você vai torcer para outro país? Você tem um segundo time?
IK: "Infelizmente, meu segundo time é a Alemanha, que não está mais na Copa do Mundo (risos). Mas acho que eu torceria para a Inglaterra".