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Souq Waqif: histórico mercado virou ponto de encontro das nações na Copa

Torcedores das 32 seleções passaram fase de grupos frequentando diariamente o local, que fica no Centro de Doha

03/12/2022 11:30 / atualizado em 03/12/2022 11:30
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Torcidas se encontram no mercado Souq Waqif, no Catar
foto: João Vítor Marques/EM/D.A Press

Torcidas se encontram no mercado Souq Waqif, no Catar

 
O aroma de especiarias preenche o ambiente nem tão escuro, nem tão claro. Os corredores apertados com belos tapetes, louça colorida e as típicas lembrancinhas têm ficado mais cheios do que de costume. De um lado para o outro, europeus, asiáticos, sul-americanos, africanos e povos de todas as partes do planeta se misturam à tradição e ao simbolismo árabe, marca maior de Souq Waqif - histórico mercado na região central de Doha, capital do Catar. Por aqui, torcedores das 32 seleções da Copa do Mundo se reúnem para festejar, comer, beber e viver a cultura catari. Desde cedo ao anoitecer, o espaço fica cheio, ainda que metade dos times já tenha se despedido do Mundial nessa sexta-feira (2).
 

Encontro das torcidas da Copa do Mundo no mercado Souq Waqif


 
O Souq Waqif está na região que atrai mais turistas na capital catari. A alguns minutos de caminhada dali, fica Al Corniche, calçadão de seis quilômetros que oferece uma belíssima vista da Baía de Doha e do horizonte de prédios (skyline) da cidade.

Não muito longe, fica o Parque Al Bidda, onde diariamente milhares de torcedores se juntam para assistir aos jogos do Mundial e aproveitar atrações musicais no Fifa Fan Festival. 

Na área externa de Souq Waqif, os corredores são mais largos. As fachadas foram restauradas em 2006 com o objetivo de restaurar o belíssimo estilo arquitetônico original do mercado, que data do início do século passado.

Ali, os beduínos se encontravam para trocar mercadorias até o boom da economia catari nos anos 1990, com a exploração de petróleo e gás natural. Em 2003, um incêndio destruiu parte do local e incentivou o governo a buscar formas de reconstruí-lo e preservar a herança histórica.

As obras terminaram em 2008, dois anos depois de terem começado. Do lado de fora, restaurantes marroquinos, sauditas, indianos e de diferentes partes do Norte da África, do Oriente Médio e do Sudeste Asiático simbolizam a verdadeira mistura de nacionalidades que constitui o Catar, cuja população de quase 3 milhões de habitantes é formada por 70% de imigrantes.

Há desde estabelecimentos caros, com opções ocidentais, àqueles mais tradicionais, frequentados majoritariamente por quem vive no país. Nestes, os preços variam de 5 a 20 riais catarenses (R$ 7 a R$ 29, aproximadamente) por comidas típicas, como o warak enab, que é carne bovina ou de cordeiro envolto por folhas de parreira, ou os majboos, prato nacional catari composto por arroz e frango cozidos em baixíssimas temperaturas e temperados com muito curry e pimenta do reino.

Basta caminhar uns poucos passos para que os aromas típicos da culinária do Golfo Pérsico dêem lugar ao cheiro ainda suave de suor. São duas da tarde, e o sol desértico não dá trégua.

Na parte mais movimentada do mercado, centenas de pessoas dançam, pulam, entoam cantos nacionalistas e desfilam apertados com camisas e bandeiras de seus países. O olfato e o paladar são ofuscados pelo tato, em um país onde o toque é raridade, a visão, pela multiplicidade de cores, e principalmente pela audição.
 

O batuque ritmado é característico. A roda de oito, dez pessoas rapidamente se transforma em uma multidão de curiosos que se juntam às danças animadas dos senegaleses, eufóricos pela classificação às oitavas de final da Copa do Mundo - algo que não ocorria há duas décadas. Em alto e bom tom, entoam, em francês, as músicas características que os acompanham nas ruas e nos estádios.

"Esta energia está incrível. Tem gente de todo o mundo vindo para cá, todos os países, todos com as camisas das seleções. As pessoas de Senegal, as pessoas do Equador. Vamos, vamos, vamos", disse um equatoriano, que confraternizava ao lado de um senegalês, justamente a nação que dias antes eliminou o Equador da Copa. Sem tempo para dizer o nome em meio ao alvoroço, sorriu, seguiu o caminho e foi dançar ao lado dos algozes.

Atrás dele, marroquinos e croatas pulavam sem parar, em uma espécie de comemoração antecipada pela classificação às oitavas de final, que só seria confirmada horas depois e com uma boa dose de drama - especialmente para os europeus. "Eu acabei de chegar, e esta energia está maravilhosa", disse um alemão, entre um passo e outro de uma dança meio desengonçada naquele momento de alegria genuína antes da dura eliminação.

Perto das 16h, o sol vai baixando e, aos poucos, o entra e sai de gente fica mais intenso. Quem estava ali desde cedo resolve sair para acompanhar os jogos que começam dali a algumas horas em estádios facilmente acessíveis pelo metrô.

No caminho até a saída, dezenas de pombos voam em sincronia para gritos de euforias das crianças, acostumadas com aquela cena que causaria aflição em muitos adultos. Mais calmos, falcões são levados nos braços dos trabalhadores em direção a um hospital especializado que fica no próprio Souq Waqif.

Enquanto isso, vendedores disparam um árabe acelerado, em tom persuasivo, possivelmente para convencer quem passa a comprar uma última lembrança a um parente distante, como ocorre em qualquer mercado. A energia quase caótica de um lugar que se tornou o ponto de encontro dos povos no Catar.

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