As tensões entre os países nem sempre existiram. Há um tempo, os governos iraniano e estadunidense eram amigos.
"Nosso diálogo tem sido inestimável, nossa amizade é insubstituível", chegou a dizer em 1977 o presidente dos EUA, Jimmy Carter, sobre o xá da Pérsia Mohamed Reza Pahlevi, durante um jantar no Irã.
Aquele encontro se tratava de mais um dos sinais de aliança entre Teerã e Washington. O primeiro embate, porém, veio anos antes.
Golpe de 1953
Os EUA não tinham tanta influência no Irã até 1953. Naquele ano, convocada pelo governo britânico, a CIA interveio no governo iraniano.
A operação Ajax depôs o primeiro-ministro Mohamed Mossadeq, eleito democraticamente pela população, e promoveu o retorno da monarquia, comandada pelo xá Mohamed Reza Pahlevi.
A ação foi estratégica financeira e politicamente, já que o novo governante iraniano era favorável ao capitalismo estadunidense durante o período de Guerra Fria contra a socialista União Soviética.
Revolução de 1979
Historiadores crêem que este episódio marcou o início da rivalidade entre os países e despertou nos iranianos o sentimento anti-imperialista em relação aos EUA.
Entre 1953, ano do golpe que restaurou a monarquia no Irã, e 1979, os países mantiveram uma relação próxima. Economicamente, os EUA se beneficiavam do petróleo do iraniano.
Em janeiro de 1979, a Revolução Islâmica obrigou o xá da Pérsia a fugir do país. Na contramão, o líder religioso Ruhollah Musavi Khomeini retornou ao Irã após 15 anos de exílio.
Anti-americano, o aiatolá Khomeini se estabeleceu no poder. A partir daí, o Irã voltou a ter controle total sobre o petróleo explorado no país - o que irritou os EUA e outras potências globais.
O ápice do revide iraniano foi em novembro de 1979, quando manifestantes mantiveram diplomatas e outros civis estadunidenses reféns na embaixada dos EUA no Irã.
O sequestro durou 444 dias e fez com que Washington declarasse uma série de embargos econômicos ao país do Oriente Médio.
Irã x Iraque
Entre 1980 e 1988, os EUA apoiaram Saddam Hussein na guerra entre Irã e Iraque. O respaldo estadunidense possibilitou o governo iraquiano a usar armas químicas, que mataram rapidamente milhares de pessoas.
Em 1984, Washington declarou o Irã como país patrocinador do terrorismo e aumentou as sanções econômicas.
Momento atual
Ao longo das últimas décadas, a situação continuou tensa até que, em 2015, o governo de Barack Obama firmou um acordo nuclear entre o Irã e outros países. Os iranianos se comprometeram a parar de enriquecer urânio com finalidade bélica para ter em troca o fim das sanções econômicas.
Tudo se cumpriu por três anos até que os EUA romperam o acordo em 2018, por decisão do então presidente Donald Trump. Em 2020, a tensão atingiu níveis elevados quando Trump ordenou um bombardeio que matou dois líderes militares iranianos.
Atualmente, com os EUA sob o comando de Joe Biden, os países seguem em conflito. De tempos em tempos, ataques ou episódios diplomáticos ligam o sinal de alerta.
Em campo
No futebol, será o primeiro encontro entre Irã e EUA desde a Copa do Mundo de 1998, na França. Os iranianos venceram por 2 a 1, em partida marcada pela politização.
No Catar, a política volta à pauta, mas de maneira diferente. O Irã está no centro do debate, especialmente por conta da supressão de direitos das mulheres. Jogadores da seleção chegaram a não cantar o hino em forma de protesto.
O tema ganhou força especialmente como reação ao caso de Mahsa Amini, que apareceu morta aos 22 anos após ser presa por "uso inadequado" do véu islâmico. Cerca de 380 pessoas morreram desde que as manifestações começaram, em setembro, de acordo com a Iran Human Rights Watch.
No campo, Irã e EUA se enfrentam num duelo em que o vencedor estará classificado às oitavas de final da Copa do Mundo - o que seria uma conquista inédita para o futebol iraniano.
O Grupo B da Copa é liderado pela Inglaterra, que tem quatro pontos. Em seguida, aparecem Irã (três), EUA (dois) e País de Gales (um).