Não é uma miragem. A paisagem deslumbrante fica em Khor al Adaid, extremo Sul do Catar, a 80 quilômetros da capital Doha. O raríssimo encontro entre as dunas desérticas e o oceano simboliza como o país que sedia a Copa do Mundo se transformou em um oásis para as quase 3 milhões de pessoas que vivem ali.
Rodeado pelo Golfo Árabe, o Catar fica no meio do deserto e tem acesso limitado à água naturalmente doce. A solução encontrada foi a mesma dos vizinhos peninsulares: o caro e tecnológico processo de dessalinização marítima.
A princípio, parece uma saída sofisticada para um problema imposto pela pela natureza. Mas, na prática, trata-se de um método extremamente poluente e que deve aumentar 37% nos países da região nos próximos cinco anos.
A princípio, parece uma saída sofisticada para um problema imposto pela pela natureza. Mas, na prática, trata-se de um método extremamente poluente e que deve aumentar 37% nos países da região nos próximos cinco anos.
A dessalinização da água do mar é feita a partir de combustíveis como o gás natural e o petróleo. O Catar projeta aumentar o uso de energia solar, ainda minoritário. Nesse sentido, um relatório recente do Carbon Market Watch, que monitora a emissão de poluentes na natureza, contestou as propagandas da organização local de que a Copa do Mundo seria o primeiro torneio neutro em emissões de carbono da história. De acordo com a organização, trata-se de "contabilidade criativa" e "enganosa" por ignorar "fontes majoritárias de emissão".
Pelas ruas do Catar, o sol forte pela manhã, os ventos noturnos, a falta de árvores e de chuvas (que não passam de dez por ano) talvez sejam os principais sinais de que os tantos arranha-céus das tecnológicas cidades foram construídos sobre a areia do deserto. A escassez hídrica não é um problema. Pelo contrário: o país é um dos maiores consumidores de água per capita do mundo. A média é de mais de 500 litros de água por pessoa a cada dia, mais de 50% acima da média global.
O número é tão elevado especialmente por conta do uso em instalações públicas, como parques e praças, por exemplo. Durante a Copa do Mundo, um show aquático é exibido várias vezes por dia em Corniche, avenida beira-mar que se estende por quase sete quilômetros na região central de Doha. Em frente a quase todas as arenas, há fontes de água com fins decorativos. O consumo diário nos oito estádios, aliás, chega a 80 mil litros - 10 mil por sede.
Durante os jogos, a água é gratuita e disponibilizada livremente em bebedouros espalhados pelos corredores das arenas. Mas também há a venda nos bares oficiais da Fifa, ao preço de 10 riais catarenses (R$ 14,76 na cotação atual) por 500 ml. Pelos restaurantes e ruas, o custo varia muito, mas acompanha os valores altos dos demais produtos, especialmente os alimentícios. Há desde garrafinhas de meio litro por R$ 4,43 às de dois litros por quase R$ 50 em estabelecimentos de padrão mais elevado.
Os volumosos recursos naturais que impulsionam a economia catari indiretamente suprem a falta do mais importante de todos. Em meio ao deserto, água parece mesmo uma riqueza interminável - custe o que custar.