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Catar rebate críticas, relembra Copas passadas e sobe nível de aberturas

Cerimônia deste domingo (20/11) fez menção às 32 seleções participantes, a mascotes e músicas de edições anteriores e teve discursos sobre inclusão

20/11/2022 12:29 / atualizado em 20/11/2022 17:14
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Ator Morgan Freeman foi a voz da celebração e conduziu boa parte da festa, que também teve participação de Ghanim Al Muftah, catari com síndrome de regressão caudal
foto: AFP

Ator Morgan Freeman foi a voz da celebração e conduziu boa parte da festa, que também teve participação de Ghanim Al Muftah, catari com síndrome de regressão caudal


Quem chegava ao Estádio Al Bayt neste domingo (20/11) era saudado por um pelotão de camelos, alinhados sob o sol desértico. À medida que os minutos passavam, o céu assumia tom alaranjado e dava àquela cena a dramaticidade de um filme iraniano. Mas, na verdade, o cenário ganhava vida em Al Khor, cidade a cerca de 50 quilômetros de Doha. E aquele não era um longa-metragem, mas as boas-vindas a quem chegava para a tão aguardada Cerimônia de Abertura da Copa do Mundo de 2022.

Fotos da cerimônia de abertura da Copa do Mundo do Catar



Os camelos foram uma espécie de convite para os estrangeiros conhecerem a cultura e as tradições locais. Poucos passos à frente, seis dançarinos - três homens e três mulheres - atraíam os olhares curiosos dos que passavam.

Celulares apontados à frente para capturar os primeiros instantes de um Mundial cercado de expectativas, investimentos e críticas ferrenhas aos organizadores.

Em 2010, a escolha pelo Catar - e não os EUA - como sede do principal evento do futebol internacional foi cercada por acusações de compras de votos.

A partir daí, o país ampliou os já crescentes investimentos em infraestrutura. O custo total da Copa chegou a 220 milhões de dólares (quase R$ 1,2 trilhão), recorde histórico da competição. E o avanço das obras veio acompanhado de denúncias de trabalho análogo à escravidão.

Mulheres e a população LGBTQIA+ têm direitos suprimidos no país. Esse cenário fez com que o número de visitantes durante o evento fosse consideravelmente reduzido.

“Eu chamei a minha esposa para vir, mas ela achou que é um país meio complicado para mulher… Ela queria vir, mas acho melhor não”, conta o mineiro Denilson Ribeiro de Santana, de 48 anos. O comerciante mora em Itaúna, Região Metropolitana de Belo Horizonte, e viajou sozinho ao Oriente Médio.

O contexto fez com que a maioria masculina nos estádios de futebol se fizesse ainda mais perceptível. Nos arredores do estádio e nas arquibancadas, eram poucas as mulheres em uma arena que recebeu 67.372 torcedores.

A Fifa não explicou como coube tanta gente no local, que oficialmente tem capacidade para 60 mil pessoas - o número será reduzido para 32 mil ao fim do Mundial.

Quem estava lá viu um espetáculo que tentou a todo custo descolar a imagem catari dos tantos problemas envolvidos no evento. Do início ao fim, a Cerimônia de Abertura repetiu o foco em inclusão, seja em discursos de personalidades do Ocidente e do Oriente Médio, seja nas bonitas apresentações de dança e música.

“Todos são bem-vindos”, disse Ghanim Al Muftah, influencer catari com síndrome de regressão caudal, uma má-formação rara que afeta o desenvolvimento da parte de baixo do corpo.

O discurso que se descola da realidade guiou uma cerimônia dinâmica, que teve protagonismo masculino. A cantora catari Dana Al Fardan foi a única mulher com holofotes voltados para si durante o evento.

O ator estadunidense Morgan Freeman foi a voz da celebração. Ele conduziu boa parte da festa e reiterou o discurso de união.

“Dessa terra ouvimos um chamado para o mundo, para reconectar, para retornar apenas por um momento para o que nos agrupa, para o que nos junta nessa jornada do leste para o oeste. Nós nos movemos juntos buscando um objetivo”, pontuou.

Entre um discurso e outro, o ponto alto da cerimônia foi mesmo o futebol. Tudo começou quando Marcel Desailly, zagueiro da França no título de 1998, levou o troféu ao gramado.

Mascotes dos Mundiais passados apareceram no gramado para dar boas-vindas a La'eeb, inspirado nos lenços utilizados pelos homens árabes. Em outro momento, torcedores e bandeiras dos 32 países participantes entraram em campo ao som de músicas das torcidas.

Depois, o show em ritmo olímpico foi embalado por músicas de Copas passadas: de The Cup Of Live (1998) e We Are One (2014) à histórica Waka Waka (2010), eternizada na voz de Shakira.

A cantora colombiana, aliás, recusou-se a cantar na abertura justamente por conta do histórico do Catar contra a comunidade LGBTQIA+.

A performance musical ficou a cargo do cantor sul-coreano Jung Kook, da banda de k-pop BTS, e do cantor catari Fahad Al-Kubaisi. Eles apresentaram a música ‘Dreamers’, mais uma da larga lista de canções produzidas para a Copa do Mundo de 2022.

Sentado ao lado do presidente da Fifa Gianni Infantino, o emir Tamim bin Hamad Al Thani foi o último a discursar e recebeu muitos aplausos das arquibancadas.

“As pessoas, por mais que sejam de culturas, nacionalidades e orientações diferentes, vão se reunir aqui no Catar. Que beleza juntar todas essas diferenças”, disse, antes do show pirotécnico que encerrou uma Cerimônia de Abertura de nível claramente superior ao costumeiro em Copas do Mundo.



Jogo destoa


As luzes do Estádio Al Bayt voltaram a se acender depois de uma das cerimônias de abertura mais bonitas da história. Minutos após da festa, era a hora de a bola finalmente rolar para a Copa do Mundo do Catar.

A seleção local desafiaria o Equador, pelo Grupo A, com a responsabilidade de atuar sob os olhares do emir Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani - criticado pelo Ocidente, mas amado no Oriente Médio. No entanto, o show se limitou à abertura. Os sul-americanos dominaram um jogo pouco movimentado e venceram por 2 a 0, com gols do atacante Enner Valencia.

Nas arquibancadas, reinou o silêncio em boa parte do tempo. Os cantos tímidos de incentivo partiam de parcelas pequenas dos presentes. Atrás de um dos gols, animados torcedores do Catar, vestidos de vinho, pularam e incentivaram a seleção local. Do lado oposto, equatorianos, em bom número na arena, respondiam.

Mas grande parte do estádio permaneceu sentada durante a partida. Houve momentos, inclusive, em que os equatorianos começaram uma “ola”, que não continuava quando chegava aos árabes. Muita gente, aliás, nem voltou para o segundo tempo ou foi embora antes do fim da partida.

No fim das contas, o momento de maior empolgação do primeiro dia de Copa do Mundo foi mesmo a cerimônia. Em campo, Equador e Catar fizeram o que deles se esperava. Nesta segunda-feira, a partir das 13h, Senegal e Holanda completam a rodada de abertura da chave, no Estádio Al Thumama.



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