Nesta sexta-feira (18), não teve Fan Festival em Doha. Foi um dia comum, reservado à oração para os muçulmanos. Muitas lojas, aliás, estavam fechadas. Mas o calor do deserto é pretexto para um brasileiro tentar encontrar uma cerveja gelada - e, quem sabe, menos cara - para fechar o expediente corrido da cobertura da Copa do Mundo.
Num dia como este, a única possibilidade de achar a bebida é em bares licenciados. Mas são poucos. E caros. Depois de uma pesquisa rápida na internet, decidi onde ir. Deixei o centro de imprensa decidido a cumprir o propósito. Para começar a 'saga', andei quase dois quilômetros até o metrô - uns 20 minutos, mais ou menos.
Nesta tarde, encontrei a estação lotada pela primeira vez. Peguei o trem, fiz baldeação e segui viagem. Tudo isso em mais uns 40 minutos. Continuei andando por aproximadamente 1,5 quilômetro até avistar uma multidão bem em frente ao bar. Mas calma. Não era happy hour.
Era melhor do que isso. Centenas de ganeses dançavam e vibravam ali, na rua mesmo, para receber a seleção. Tinha até um deles com a camisa do Atlético. Sim, isso mesmo. Mas essa história eu conto aqui.
Depois da farra, era a hora de entrar no bar, que fica dentro do hotel onde a Seleção de Gana está hospedada. Não parecia tão fácil, já que dezenas de seguranças protegiam o local. Não desisti. Bati um papo com eles, que me liberaram por conta da credencial de jornalista. Passei por um detector de metais, apresentei meu passaporte e entrei.
Enfim, uns 20 quilômetros e quase duas horas depois, eu estava no bar. De presente, recebi uma pipoquinha salgada de cortesia como entrada. Então, pedi a cerveja mais barata do estabelecimento - "míseros" 39 riais catarenses (uns R$ 57). Para acompanhar, um camarão (porque ninguém é de ferro).
No final das contas, minha aventura custou R$ 138. A moral da história? Não beba no Catar.
Venda proibida nos arredores dos estádios da Copa
A venda de bebidas alcoólicas é extremamente limitada no Catar, país muçulmano conservador. Em tempos normais, o consumo só é permitido nos espaços licenciados - em geral, bares e restaurantes localizados em hotéis de luxo.
Para o Mundial, o governo local acenou com a flexibilização das normas ao liberar a comercialização no Fifa Fan Festival, nas áreas VIP e no entorno dos estádios em dias de jogos. Porém, nesta sexta-feira (18) - dia da semana mais importante para o islamismo -, o país voltou atrás e vetou o álcool nos arredores das arenas.
A decisão às vésperas do primeiro jogo irritou os patrocinadores do Mundial, em especial a Budweiser, marca de cerveja oficial da competição. A AB-Inbev paga 75 milhões de dólares (R$ 403 milhões) à Fifa a cada ciclo que quatro anos pelo patrocínio.
Publicamente, a Bud pouco fez até a última atualização desta reportagem. Logo após a decisão das autoridades locais, a empresa estadunidense tuitou: "Bem, isso é embaraçoso...", sem fazer referência clara à proibição.
Pouco tempo depois, a mensagem foi apagada. A versão sem álcool continua liberada, mas quase não foi procurada no evento-teste do Fan Festival na quarta-feira, antes do veto.
Já a Fifa não tardou a se posicionar. Em nota publicada nas redes sociais, a entidade agradeceu à patrocinadora pela "compreensão".
"Após discussões entre as autoridades do país e da Fifa, uma decisão foi tomada sobre a venda de bebidas alcoólicas no Fifa Fan Festival, outros destinos de fãs e locais licenciados, retirando pontos de vendas de cerveja no perímetro dos estádios da Copa do Mundo de 2022. As autoridades do país e a Fifa continuarão a assegurar que os estádios e as áreas em volta apresentem uma experiência participativa, respeitosa e prazerosa para todos os fãs", lê-se.
A princípio, era permitida a venda de cervejas no entorno dos estádios a partir de três horas antes de a bola rolar para cada jogo. A comercialização se encerraria 40 minutos antes das partidas. Agora, isso está proibido.
No Fan Festival, o copo de 500 ml da versão com álcool custa quase R$ 75 - com a limitação de quatro unidades por torcedor. Já a sem álcool sai a aproximadamente R$ 45.
"Esta é minha quarta Copa do Mundo. Infelizmente, fomos pegos de surpresa. Geralmente, a pessoa que frequenta a Copa é cervejeira, gosta de ir ao estádio de futebol. A gente chegar aqui e ter uma surpresa dessas acaba sendo um pouco triste, mas isso não vai nos impedir de fazer nossa festa", comentou o engenheiro brasileiro Marcelo Vasallo Grande, de 43 anos.
Ele está com três amigos no Catar. Juntos, conseguiram driblar os impeditivos e compraram cerveja em uma das regiões mais caras de Doha. "A gente foi conhecer The Pearl, que é uma ilha artificial e tem restaurantes. Tomamos uma cerveja lá por 40 riais catarinenses, que dá uns R$ 60", disse o também engenheiro Fábio Vassallo Grande, de 47 anos.