O Catar enfrenta uma "campanha sem precedentes" de críticas durante os preparativos como sede da Copa do Mundo de futebol, que começará em 26 dias, denunciou nesta terça-feira (25/10) o emir Tamim bin Hamad al Thani.
O reino conservador e rico em recursos energéticos gastou bilhões de dólares para organizar o primeiro Mundial de futebol em um país árabe, mas enfrenta várias críticas relacionadas aos direitos humanos.
Em uma demonstração pública de irritação pouco habitual, o emir Tamim bin Hamad al Thani disse que o Catar é vítima de "invenções e duplos padrões", insinuando que existem motivos ocultos por trás das críticas.
"Desde que conquistamos a honra de organizar a Copa do Mundo, o Catar é submetido a uma campanha sem precedentes que nenhum país sede jamais enfrentou", afirmou o emir em um discurso.
A Fifa atribuiu em 2010, após um processo de escolha polêmico, a sede da Copa do Mundo de 2022 ao Catar. Desde então, o país do Golfo enfrenta várias críticas pelo tratamento aos trabalhadores migrantes e pela situação dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQ.
Esta semana, o governo reagiu com indignação a um relatório da ONG Human Rights Watch que acusa a polícia de deter arbitrariamente e cometer abusos contra integrantes da comunidade LGBTQ antes da Copa do Mundo.
"Inicialmente tratamos a questão com boa-fé e, inclusive, consideramos que um pouco de crítica era algo positivo e útil, que nos ajudava a desenvolver aspectos que precisam ser desenvolvidos", disse o emir ao conselho legislativo do Catar.
"Mas rapidamente ficou claro para nós que a campanha continua, aumenta e inclui invenções e duplos padrões, até atingir uma nível de ferocidade que fez muitos questionarem, infelizmente, sobre os reais motivos por trás desta campanha", disse.
Um grande teste
O torneio deve atrair mais de um milhão de torcedores estrangeiros para a pequena península, que tem menos de três milhões de habitantes.
O evento é uma oportunidade para mostrar "quem somos, não apenas como economia e instituições, mas também a identidade de nossa civilização", afirmou o emir.
"É um grande teste para um país do tamanho do Catar que impressiona o mundo inteiro com o que conseguiu", destacou.
A homossexualidade é considerada um crime no Catar e os críticos afirmam que os direitos das mulheres são restringidos por leis de tutela masculina.
O país árabe também enfrenta acusações a respeito das condições de trabalho dos migrantes que construíram a infraestrutura que permitiu o milagre econômico do Catar.
Os estrangeiros representam mais de 2,5 milhões da população de 2,9 milhões de habitantes.
As condições nos canteiros de obras foram condenadas por sindicatos internacionais, que criticaram as normas de segurança e as longas jornadas de trabalho em elevadas.
Grupos como Human Rights Watch e Anistia Internacional insistem que o Catar e a Fifa deveriam fazer mais para compensar as famílias dos trabalhadores que morreram ou ficaram feridos nos projetos.
De modo concreto, as organizações querem que a Fifa pague uma indenização de 440 milhões de dólares, equivalente ao prêmio recebido pela seleção campeão do torneio.
Porém, os mesmos líderes sindicais que criticaram o governo também reconhecem as reformas implementadas.
Após uma visita esta semana, Luca Visentini, secretário-geral da Confederação Europeia dos Sindicatos, disse à AFP que mais progressos devem ser alcançados, mas que o Catar deve ser considerado "uma história de sucesso".
"O Mundial foi, sem dúvidas, uma oportunidade de acelerar a mudança e estas reformas podem constituir um bom exemplo a ser aplicado em outros países que recebem grandes eventos esportivos", completou.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, defendeu o Catar e afirmou que esta Copa do Mundo será "a melhor de todos os tempos".