“Perdi um filho que coloquei no mundo, vi crescer, me dar orgulho e agora morreu de forma trágica.” Assim Altair Zanella resume a tragédia envolvendo o elenco da Chapecoense. Um dos fundadores do clube catarinense, o fanático torcedor ainda tenta entender o que aconteceu e não consegue se recordar dos seus “meninos” sem chorar.
“Eles não eram daqueles jogadores que vinham para a Chapecoense só pensando em dinheiro. Eles tinham mesmo amor à camisa, assim como a diretoria. Ainda bem que faço tratamento no coração, caso contrário, acho que não aguentaria”, contou o senhor de 75 anos que, ao lado de Alvadir Pelisser, Heitor Pasqualotto, Lotário Immich e Vicente Delai, formou o simpático clube de Chapecó no dia 10 de maio de 1973.
A equipe teve origem em uma fusão do Independente com o Clube Atlético de Chapecó, dois times de várzea do interior catarinense. A ideia inicial era que apenas disputasse torneios amadores. Não havia menor pretensão em transformá-lo no clube com o tamanho que tem atualmente.
Simpático e querido pelos funcionários da Chapecoense, Altair Zanella se emociona ao ver a forma carinhosa com que todo o mundo tem tratado seu “filho”. “Saber que tanta gente tem dado força para nos reerguer dá uma satisfação e um orgulho de dever cumprido muito grande. Só peço para que não abandonem a Chapecoense. Precisamos de todas as forças possíveis para nos reerguer”, pediu o fundador, com voz embargada.
Conhecedor de toda a história da Chapecoense, Altair não pensa duas vezes quando questionado sobre o momento mais feliz nos 43 anos de vida do clube. “Ver o time subir para a Série A foi o momento mais marcante. Ficou uma satisfação e vi que havia participado da construção de uma família, que hoje está abalada, mas não podemos deixar morrer”, disse, lembrando que a Chape ascendeu para a Série A do Campeonato Brasileiro em 2013, após sucessivos acessos - que tiveram início com o clube saindo da Série D.
Além de Altair, outro que participou da fundação do clube e que de vez em quando frequenta a Arena Condá é Alvadir Pelisser, um dos responsáveis pela escolha das cores verdes do uniforme.
“Eu era torcedor do Palmeiras, Juventude e Caxias, então pensamos em fazer outro time de verde e deu certo”, contou o ex-dirigente, que atualmente tem 80 anos e está se recuperando de um AVC sofrido recentemente. Por causa de sua saúde debilitada, ele não foi à arena nos últimos dias.
Ver a Chapecoense chegar a uma decisão de um torneio continental e com chances de sagrar-se campeã foi algo surpreendente e grandioso demais para seu Altair, que, ao fundar o clube, tinha planos muito menos ambiciosos.
“Nunca pensei que a Chapecoense iria crescer como cresceu. Evoluiu muito e acredito que podemos nos reerguer e evoluir mais. Tomara que a nova diretoria tenha força e ânimo para continuar e refazer um time forte e que possa chegar mais alto”, deseja.
APOIO POPULAR - Altair acredita que a tragédia pode mexer também com o crescimento da cidade de Chapecó. “Nosso objetivo era montar um time de amigos, mas a Chapecoense ajudou muito no crescimento da cidade. Basta ver como falam do clube e da cidade nos programas de TV e nos jornais. Já falavam antes mesmo da tragédia”, dá como exemplo.
CHAPECONSE
Abalado após ver time morrer, fundador pede ajuda para Chapecoense se reerguer
"Perdi um filho que coloquei no mundo", disse Altair Zanella
Agência Estado
postado em 04/12/2016 08:54 / atualizado em 04/12/2016 09:59