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TRAGÉDIA

Crianças não arredam o pé da arena, estreitam laços e são a garantia de que Chape viverá

Vários jovens fazem vigília na Arena Condá, em Chapecó

Rodrigo Fonseca
Desde o dia do acidente, jovens chapecoenses fazem vigília na arena e ficam horas na arquibancada - Foto: LEANDRO COURI / EM DA PRESS

Rodrigo Fonseca
Enviado especial a Chapecó

Encostado no parapeito da arquibancada da Arena Condá, Jamir Júnior, de 10 anos, olha para o gramado: “Estava me lembrando das vitórias”, dizO garotinho já chorou muitoMas o brilho nos olhos é o primeiro sinal dos planos de criança“Quando eu crescer, já falei para minha mãe, quero ser goleiro da ChapecoenseÉ um dos meus sonhos”.

Outro desejo era entrar no campo da ArenaFoi realizadoAo lado da reportagem do Estado de Minas/Superesportes, Jamir Júnior, aluno da escolinha da Chape, pisou no gramado, caminhou imaginando um dia vestir a camisa verdeFoi até a área onde brilhou o ídolo Danilo, onde se forjou um heróiFez pose para fotosLembrou-se do irmão mais velho: “Ele também é goleiroFalei com ele para se candidatar a ser goleiro da Chapecoense".

O sonho de Jamir Júnior retrata o desejo de milhares de jovens em Chapecó, ainda abalada com o desastre aéreo que pôs fim à equipe que era orgulho da cidade
E essa juventude é a garantia de que a Chape continuará vivaCada criança de Chapecó tenta imaginar como pode ajudar a reerguer não só uma equipe, mas uma família

Outro que quer seguir os passos do goleiro Danilo é o garoto Bernardo Luiz Tonelli, também de 10 anosEle ganhou as luvas do ídolo um dia antes do jogo contra o San Lorenzo, pelas semifinais da Copa Sul-AmericanaE as guardará não só como uma lembrança, mas como um incentivo para seguir a carreira do ídolo.

Até quem não era muito ligado ao futebol agora começa apensar de forma diferente“A Chapecoense é o único time da cidadeÉ uma dor muito grande, mas o time não vai acabar, porque o amor vai ser mais forte do que esse acidenteFoi triste ver as homenagensQueria que não fosse verdadePretendo ir mais aos jogos para que eles se recuperem logo e para que a gente volte a ter o time da Chapecoense aqui na Arena”, diz Fernanda Luiza Costela, de 12, que foi uma única vez ao estádio ver uma partida de futebol


Discípulos de Danilo, Bernardo quer ser goleiro - Foto: E esse sentimento não toca apenas os jovensAté mesmo aqueles mais velhos, e que não acompanhavam a Chapecoense, já repensam sua relação com o clubeAo lado da esposa Fernanda, o técnico de informática Carlos Eduardo Schimit, de 36, levou os filhos Pedro Henrique, Luiz Otávio e Laura Isabela, todos uniformizados, à Arena CondáEle tenta suportar a dor e buscar forças para o futuro.

“Nunca fui muito adepto do futebolMeus pequenos já vieram ao estádio, mas com minha irmãE hoje senti a necessidade de virIsso vai despertar em todos nós um novo sentimento”, afirma.

Relação mais especial Alcançar esses sonhos vai exigir que os jovens vençam a herança da tragédiaSegundo o psicólogo e professor universitário em Chapecó, Jairo César Lunardi, de 45, “é importante que as famílias consigam auxiliar seus filhos, que têm pouco entendimento sobre perdas, para compreender aquele que não está mais aqui, mas que deixou lembranças, e que existem coisas que estão fora do nosso domínioTeremos outros Danilos”, diz.

Ele não tem dúvida de que a relação do time com a cidade será ainda mais especial: “Esse é um momento difícil, não há dúvidaMas, é preciso olhar para o futuro.  O principal é resgatar a continuidade, que a Chapecoense não encerra por aquiPerdemos jogadores, equipe técnica, dirigentes, pessoas importantes para nossa comunidade, porque temos proximidade com esses jogadores, mas precisamos reconstruir esse espaçoAs pessoas não podem desacreditar nissoTemos de repensar a identidade da população em relação ao time que fica e ao time que vai ressurgir", diz Jairo.