Chape
None

FUTEBOL DE LUTO

Desastre aconteceu no auge da Chapecoense no futebol brasileiro

Depois da classificação heroica à final da Copa Sul-Americana, quis o destino que acidente aéreo acabasse com o sonho dos guerreiros de um time e de uma cidade inteira

postado em 30/11/2016 06:00 / atualizado em 30/11/2016 11:07

Raul Arboleda/AFP
A Chape – assim mesmo, carinhosamente no feminino e abreviado –, é como uma irmã caçula do futebol brasileiro. Um clube à moda antiga, com estádio modesto, orçamento pequeno e torcida apaixonada, que cada torcedor brasileiro, independentemente da camisa, passou a chamar um pouquinho de seu nos últimos anos. A epopeia da jovem finalista da Copa Sul-Americana, fundada em 1973 e que subiu da Série D para A em apenas cinco anos (2009 a 2014), foi interrompida na madrugada de ontem em um dos maiores desastres aéreos da história do esporte mundial.

Foram 71 vítimas dos 77 passageiros a bordo – sendo 19 jogadores, 14 membros da comissão técnica, 19 jornalistas, sete tripulantes, 10 dirigentes e dois convidados. Entre as vítimas, o zagueiro Marcelo, de Juiz de Fora; o preparador de goleiros Anderson Martins, o Buião, de Pirapora; e jogadores com passagens pelo futebol mineiro, como Kempes (ex-Ipatinga e América) e Ananias (ex-Cruzeiro).

Entre os jornalistas estava Mário Sérgio, comentarista da Fox Sports, ex-treinador do Atlético. Martinuccio, ex-Cruzeiro, estava entre os oito jogadores que não viajaram. O goleiro Follmann, que brilhou na URT no primeiro semestre, sobreviveu, mas teve uma perna amputada. Além dele, os jogadores Neto e Alan Ruschel, um jornalista e dois tripulantes sobreviveram, mas estão em estado crítico.

A delegação embarcou em voo fretado da companhia LaMia às 22h18 (de Brasília), em Santa Cruz de la Sierra, depois de viajar de São Paulo até a cidade boliviana em voo comercial. À 1h15, a aeronave perdeu contato com a torre e, depois de dar duas voltas, caiu na Serra El Gordo, a 25 quilômetros da cabeceira da pista do aeroporto José Maria Córdova, próximo a Medellín, cidade da decisão contra o Atlético Nacional, que seria hoje, às 21h45. Em homenagem ao time brasileiro, os colombianos convocaram os torcedores a comparecer ao estádio hoje, no horário do jogo, todos de branco e com velas.

O jogo entre Atlético e Grêmio, decisão da Copa do Brasil, que também seria hoje à noite, em Porto Alegre, foi adiado para 7 de dezembro, bem como a última rodada do Brasileiro, que passou de domingo para o dia 10. À Conmebol, o time colombiano pediu que a Chapecoense seja reconhecida como campeã da Sul-Americana. À CBF, nove clubes brasileiros sugeriram que o clube fique imune de rebaixamento nos próximos três anos, além de emprestar gratuitamente atletas para a temporada 2017.

O Palmeiras, campeão brasileiro, pediu à entidade para jogar com o uniforme da Chape na última rodada. Clubes, federações, atletas e personalidades do mundo manifestaram pesar. O papa Francisco enviou pêsames “aos familiares e a todos que choram tão sensível perda, junto com expressões de afeto, solidariedade e consolo”. O presidente Michel Temer decretou luto oficial de três dias. Nos últimos meses, com a campanha na Sul-Americana, a Chapecoense se tornou o segundo time dos brasileiros.

Ao contrário das arenas ultramodernas da Copa do Mundo, a Arena Condá, no interior catarinense, é um charme à parte e uma viagem no tempo: arquibancada de concreto, pintada de verde e branco, com torcedores debruçados no alambrado para apoiar o time. Ontem, o estádio era palco da desolação, onde se reuniram torcedores, familiares e membros do clube à espera de informações.

A Chapecoense tem um dos orçamentos mais baixos da Série A, com cerca de R$ 45 milhões por ano – 10 vezes menor que as principais equipes do país. Isso não impediu a diretoria de montar um time guerreiro e competitivo, que se mantém na Série A há três anos, com campanhas estáveis. Conquistou o último título catarinense e, na semana passada, chegou pela primeira vez à final de um torneio internacional. O caminho até a final da Sul-Americana foi uma verdadeira saga.

A Chape eliminou os tradicionais Independiente-ARG e Junior Barranquilla-COL. Na semifinal, passou pelo San Lorenzo, time do Papa Francisco, com uma defesa milagrosa do goleiro Danilo nos últimos minutos. Essa epopeia, com contornos de realismo fantástico, foi interrompida ontem. Mas não foi o fim. O verde, que é a cor da Chapecoense, também é a cor da esperança. #ForçaChape.

Tags: avião tragédia acidente chape