As lágrimas, que até semana passada eram de alegria e orgulho de quem vive em Chapecó, se transformaram em tristeza que não tem dia e nem hora para acabar
O torcedor sentado na arquibancada da Arena Condá, estádio da Chapecoense, observa o gramado vazio e sonha com um gol que o seu time não levouSonha que nos acréscimos do jogo decisivo contra o San Lorenzo, o goleiro Danilo não conseguiu evitar o gol adversário e que, por consequência, a história tivesse terminado aliEle sonha até com a indignação, o palavrão e a decepção do dia seguinte.
Dores suportáveis para todos aqueles que estão acostumados com o perde e ganha do futebol“Mas Danilo fez uma defesa milagrosaNão foi golNão foi gol e a gente começou a viver um sonhoUm sonho que virou pesadelo”, disse o estudante Guilherme Batista Filho, de 18 anos.
Ao lado de Batista, Gabriel abraça o pai e choraO menino joga na escolinha da Chapecoense, meio campista habilidoso, futuro atleta
Mesmo quem viveu mais do que isso tem concordado com o menino e colocado essa dor em uma prateleira bem alta“Sou corintianaMoro aqui, mas sou corintianaA primeira vez que estive nesse estádio foi pra ver o Corinthians contra a ChapeNão consegui ingresso na torcida do meu timeEntão, fiquei no meio da torcida da ChapeNesse dia, o Corinthians ganhouMas a Chape ganhou uma torcedora apaixonadaE eu ganhei uma família”, disse dona Ivone Becker, de 70 anos.
Silencioso, bem vestido, estava outro convertido à Chapecoense, o haitiano Gueery Bassard, de 32 anos
Perto da tragédia esteve Fernando de Lima Cásper, presidente da organizada da Chapecoense“Tentei estar naquele vooEu pedi para diretoriaQuase conseguiMas tive problemas para tirar o passaporte e fiquei”, contou Lima - que também rememora a defesa milagrosa de Danilo e se emociona“Se aquela bola entra seria uma dorUma dor diferenteUma dor que iria acabar na próxima rodada ou temporada do futebolAgora, nãoEssa dor é diferenteÉ imensurável”, falou.
Muitos que foram para a arena sequer tinham qualquer relacionamento com os atletas, além de vê-los em campoMas era difícil encontrar alguém que não demonstrasse estar arrasado como se tivesse perdido um ente próximoNos vestiários, onde a Chape escreveu sua linda história, o sentimento de impotência e a necessidade de procurar os “porquês” rondavam os familiares, dirigentes e companheiros dos falecidos.
“AcabouTudo que fizemos, as nossas alegrias, amigos, foi emboraO que fizemos de errado para merecer isso?”, lamentava uma torcedora, enquanto abraçava parentes dos atletas.
No meio de tanta tristeza, duas crianças corriam pelo gramado da Arena Condá sem se darem conta do momento que viviamTalvez, pudessem servir como exemplo para os adultos de que um dia, tudo isso vai passarMas deve demorarA prefeitura de Chapecó decretou luto oficial de 30 dias, suspendeu todos os eventos programados para o fim de ano e ainda suspendeu as aulas na rede pública de ensino.