Se o Botafogo chegar campeão lá em dezembro, haverá aquele exercício típico dos pontos corridos de se discutir os principais dias da campanha, a partida decisiva, o gol do título. E sem dúvidas muitos alvinegros terão, no 1 a 0 sobre o Palmeiras, em São Paulo, gol dele, o dia mais marcante.
Tiquinho Soares, tarde de sol e jogo em TV aberta para praticamente todo o país, venceu Weverton, e o Botafogo superou o atual campeão para abrir impressionantes sete pontos de vantagem na liderança em apenas 12 jogos. Tem muito campeonato pela frente, mas tem muito ponto de margem, também.
O paraibano de 32 anos é o melhor jogador do primeiro terço do campeonato. Entre seus parceiros de posição, vive fase iluminada, bastante coisa acima de Pedro, convocado à última Copa, Cano, artilheiro da edição passada do Brasileiro, Hulk ou Gabriel, craques de edições recentes.
E olha que o nível é muito bom. Luis Suárez tem marcado seus gols e gerado muito jogo no Grêmio, exibindo sua qualidade notável mesmo em queda física, talvez a grande unanimidade da nossa liga local, um craque incontestável de sua geração. Vitor Roque é outro que guarda e já são seis gols no Brasileiro, muito influente no Athletico-PR para apenas 18 anos. Roger Guedes, jogando menos enfiado, vive momento de refinamento técnico e tentos importantes, mesmo no cambaleante Corinthians. Mas Tiquinho é o cara e a calma do melhor time da liga, a referência de bola e também do astral, fedendo a gol sem concorrência no momento. Em dez das doze rodadas, marcou ou deu assistência. Voando.
É de saltar os olhos a concentração coletiva do Botafogo. O Palmeiras cruzou demais como de costume, errou muito nessa penúltima bola, mas o posicionamento de Adryelson esteve perto do impecável. Os lados conseguiram bloquear os cruzamentos de bico da área - Rafael segurou bem o duelo com Dudu, e Júnior Santos, depois Segovia, também não perderam o foco por um instante. Melhor fisicamente que o adversário, o time de Luís Castro teve gás nos duelos para manter o encaixe por todo o tempo, e deixou o jogo extremamente ingrato para o ataque palmeirense. Veiga, num dia bem abaixo, perdeu o pênalti, coisa rara, fruto também do desconforto causado pela aplicação do Botafogo, que não permitiu que o meia pudesse gostar do jogo um segundo sequer.
Luís Castro fica para sequência?
A dúvida fica por conta da sequência do treinador. Se o Botafogo nos prova que o longo trabalho de Luís Castro permitiu que ele encontrasse a sintonia fina desse time mesmo depois de passar por momentos bem ruins, a Arábia Saudita nos lembra que os caminhões de dinheiro estão vivendo uma renovação de frota, embicando em toda e qualquer qualidade de futebol mundo afora. Seria um golpe duro para o clube e uma tristeza para a Série A do Brasileiro.