O Botafogo passa mais uma vez por um ano de sobressaltos. Com dívidas estimadas em mais de R$ 700 milhões, o clube carioca aposta em uma revolução no seu sistema de gestão e numa espécie de renascimento em 2020. Para isso, joga suas fichas no projeto de se transformar em empresa.
A ideia surgiu antes mesmo de o Congresso Nacional se movimentar para criar uma lei específica para isso. Os irmãos Moreira Salles, torcedores botafoguenses, encomendaram um estudo no início do ano para avaliar a viabilidade de o Botafogo virar uma sociedade anônima. A proposta foi bem recebida no clube e até o fim do mês deverá ser batido o martelo para criar a "Botafogo S/A" a partir do próximo ano, o que, se espera, irá ajudar a prospectar investidores.
Na segunda-feira, o clube divulgou nota oficial na qual afirma que vai dar início nesta terça-feira à revisão do Plano de Negócios, em mais um passo no projeto clube-empresa. "O clube revisará o Plano de Negócios proposto em conjunto com as empresas especializadas contratadas e, uma vez chancelado por suas lideranças, o mesmo deverá ser apresentado a investidores profissionais e potenciais interessados no projeto. Este Plano de Negócios definirá as ações e os recursos necessários ao crescimento esportivo do Botafogo e maximização de sua marca, bem como metas realistas e desafiadoras de desempenho esportivo".
Como costuma ocorrer em clubes com problemas financeiros, o desempenho ruim nas finanças tem se refletido em campo. Os salários e os direitos de imagem dos atletas têm sofrido atrasos constantes ao longo deste ano. O resultado é uma temporada marcada por derrotas doloridas - como a que causou a eliminação na Copa do Brasil para o Juventude ainda em abril -, sequência de jogos com exibições ruins, protestos de torcedores e até mesmo do elenco.
O time ainda não corre risco de rebaixamento, mas o sinal de alerta foi ligado. A equipe ocupa a 13ª colocação, com 30 pontos O Botafogo está mais próximo da zona do descenso do que do G6, que dá vaga à Copa Libertadores. Cinco pontos afastam a equipe carioca da zona da degola.
Os resultados ruins, principalmente após a parada para a Copa América, despertaram a ira de parte da torcida. Uma semana antes da demissão do técnico Eduardo Barroca, um grupo de botafoguenses invadiu o treino para cobrar dos jogadores. O fato quase se repetiu na semana passada, mas policiais militares que faziam ronda pela região impediram a ação.
O próprio elenco tem protestado. Houve até uma "greve de marketing", com jogadores se negando a dar entrevistas na sala de imprensa a fim de se evitar a exposição dos patrocinadores do clube. A medida causou constrangimento entre os dirigentes.
"Vocês sabem que os jogadores protestaram de não fazer entrevistas nessa sala (de imprensa) por conta de atrasos de remuneração, situação que a gente está trabalhando muito para resolver", disse o vice-presidente de futebol, Gustavo Noronha, na entrevista em que anunciou a saída de Eduardo Barroca. "Mas sou dirigente do clube e tenho obrigação de expor os nossos patrocinadores em todo o momento. Por isso a escolha de falar nesse ambiente em respeito aos patrocinadores."
A contratação do técnico Alberto Valentim passou principalmente pela questão financeira. Noronha foi enfático ao afirmar a chegada de um técnico dentro das condições financeiras do clube é uma maneira de mostrar a potenciais investidores do projeto Botafogo S/A que o trabalho para tentar ajustar as finanças, ao menos, está sendo feito. E voltar a vencer jogos em sequência no Brasileirão seria outra importante vitrine.