Quando o cidadão se vê exposto a situações de risco, tais como desastres naturais, deslizamentos de terra ou vazamentos de produtos tóxicos ele deve acionar a Defesa Civil, chamando o telefone 199. Foi o que fez a diretoria do Clube Atlético Mineiro ao contratar o experiente treinador Luiz Felipe Scolari, o Felipão.
O Galo flerta com tragédias pela forma com que conduz seu departamento de futebol. Além do desastre financeiro apontado por relatórios alarmantes sobre a bilionária dívida do clube, a falta de rumo para um elenco caro e farto de jogadores consagrados clamava por uma medida de impacto para evitar algo pior.
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Discordo de quem considera Felipão um treinador ultrapassado, com ideias antigas de futebol. Também condeno aqueles que sentenciaram o fim de sua carreira em virtude dos 7 a 1 da Alemanha. Felipão foi campeão brasileiro com o Palmeiras em 2018, com o time jogando bem. No ano passado conduziu o Athletico Paranaense a uma final de Libertadores na qual a bobagem que contribui para a derrota não foi dele. Terminou o Brasileirão em sexto lugar e levou o time à fase de grupos da Libertadores.
Quem contrata Felipão não está preocupado com estética de jogo ou esquemas táticos revolucionários. A busca é por um conceito de futebol e uma imagem. Felipão monta, sim, bons times, e sabe armar estratégias de jogo. Felipão é uma marca, uma grife. Quando chega, dificilmente encontra alguém maior que ele no vestiário, o que já implanta uma aura de comando. É prático e direto, não promete espetáculo, mas geralmente entrega organização.
De certa forma, dirigentes que contratam treinadores com as trajetórias de Felipão ou Vanderlei Luxemburgo transferem a responsabilidade para profissionais desse tamanho. É como chamar o torcedor e dizer: “contratei o Felipão, que ganhou tudo. Não tem mais o que eu possa fazer”.
Discar 199 e chamar Felipão não é apostar numa viagem ao passado. É acreditar num tipo de liderança e num estilo de jogo, além de ter alguém com as costas suficientemente largas para servir de proteção aos atletas em momentos difíceis. Uma coisa é falar o Galo de Coudet. Outra o Galo de Felipão.
Por que Felipão repensou a aposentadoria?
Não faço ideia dos motivos que levaram o campeão mundial de 2002 a repensar a aposentadoria como treinador. Talvez ele queira mudar o final de sua história com Belo Horizonte, palco dos 7 a 1. Há um roteiro interessante que pode ser adaptado. Um elenco poderoso, jogadores que ele conhece e bancou, como Hulk, um novo estádio. O Atlético era o time de Bernard, sua escolha mais controversa e criticada para o jogo com a Alemanha.
Vá lá que eu não sirva para roteirista em Hollywood. Mas e se os elementos oferecem um desafio para alguém que não depende mais deles para completar sua biografia?
Sucesso ou fracasso de clubes de futebol não dependem apenas dos currículos dos treinadores.
Se o chamado ao 199 feito pelo Galo evitará um desastre saberemos em algumas semanas. Mas que o chefe da Defesa Civil que atendeu ao chamado sabe trabalhar, não se discute. Ele pode até não atuar mais na linha de frente, mas tem experiência suficiente para comandar uma operação de alto risco.