O Atlético anunciou o retorno de Cuca em 5 de março. A contratação dividiu opiniões na torcida alvinegra e gerou polêmica pelo envolvimento do treinador naquele que ficou conhecido como 'Caso Berna' - relacionado a um suposto crime de violência sexual cometido por Alexi Stival quando ainda era jogador do Grêmio, em 1987.
Por problemas pessoais relacionados ao estado de saúde de sua mãe, o treinador só pôde ser apresentado oficialmente pelo clube em 16 de março. Na oportunidade, Cuca negou que tenha tido envolvimento na polêmica da década de 80. O Atlético confiou nas palavras do técnico e pôs 'panos quentes' sobre a história.
O Galo já disputou sete partidas sob o comando de Cuca. Nesse período, o clube alvinegro venceu quatro vezes, empatou uma e perdeu duas. O treinador paranaense viu a pressão sobre seu trabalho aumentar na derrota por 1 a 0 diante do rival Cruzeiro, em clássico válido pela 9ª rodada do Campeonato Mineiro.
O Superesportes ouviu alguns comentaristas do Brasil sobre o início da segunda passagem de Cuca no Atlético. Veja, a seguir, as opiniões desses profissionais sobre a questão.
Celso Unzelte
O comentarista Celso Unzelte, da ESPN, destacou que Cuca assumiu uma equipe que não montou. Apesar disso, segundo o jornalista, esse fator não deve servir como 'desculpa' para justificar o desempenho do time.
“Essa é uma situação anômala. Ninguém esperava por isso, que o Atlético tivesse que ir atrás de um outro técnico para trabalhar com um time montado para o Sampaoli. Apesar do Cuca também ter alguns dos seus desejos satisfeitos - e o Tchê Tchê é o principal deles -, evidentemente não é o time que ele montou. Isso não serve de desculpa. Aliás, tudo que envolve o Cuca - e eu acho que essa, mais uma vez -, a chave vai ser uma conversa franca com ele. Se ele está a fim ou não”, pontuou Unzelte.
Celso reafirmou enxergar a necessidade de uma 'conversa franca' entre diretoria e treinador. Na visão do comentarista, Cuca precisa estar em bom estado emocional para conduzir o projeto.
“Nos últimos trabalhos do Cuca - e a gente percebeu isso muito de perto aqui em São Paulo -, quando ele está bem 'de cuca', tudo vai bem. Foi assim no Santos, nessa última vez; foi assim no Palmeiras, na primeira vez, no título de 2016. E quando ele não está a fim, não adianta insistir. Foi assim na volta ao Palmeiras, foi assim na passagem muito rápida pelo São Paulo. Eu acho que a diretoria tem que ter uma conversa franca com ele e perguntar qual é a do Cuca”, afirmou o comentarista.
Por fim, Unzelte relembrou uma promessa feita por Cuca no Palmeiras, em 2016. O comentarista acredita que o hábito de criar compromissos aumenta a pressão sob o trabalho do treinador.
“Se ele acha que 'dá caldo', tudo bem. Se ele acha que não, que tenha autocrítica e saia antes para não prejudicar o Atlético. Acho também que, dessa vez, ele cometeu um erro estratégico. Em outras oportunidades, prometeu aquilo do 'podem me cobrar mais para frente'. Quando estava no Palmeiras, logo depois de uma goleada para o Grêmio Osasco Audax, ele disse: 'Podem me cobrar o título brasileiro'. E, daquela vez, em 2016, ele cumpriu. Dessa vez, ele prometeu um Atlético jogando melhor em coisa de dez dias. E isso já não aconteceu. Isso só aumenta as pressões sobre ele, que já não são pequenas. Acho que é uma questão da diretoria do Galo cobrar do Cuca uma autocrítica, e cobrar agora. Não deixar o tempo passar, né? Porque o Atlético também não pode esperar”, completou Unzelte.
Paulo Vinícius Coelho (PVC)
O jornalista Paulo Vinícius Coelho, do grupo Globo, relembrou trabalhos em que Cuca enfrentou dificuldades nas primeiras semanas. Para o comentarista, é 'inacreditável pensar em pressão depois de sete partidas'.
“Não dá para perder de vista que o Cuca, muitas vezes, demorou um pouquinho para dar certo. No Atlético, em 2011, ele perdeu os seis primeiros jogos e foi campeão da Libertadores. No Palmeiras, ele perdeu os quatro primeiros jogos e foi campeão brasileiro. No Botafogo, ele ficou no bloco intermediário em 2006, e depois fez um time que está na memória da torcida em 2007. É inacreditável pensar em pressão depois de sete partidas”, opinou PVC.
O comentarista também apontou os principais desafios de Cuca no Atlético. Segundo o jornalista, o Atlético carece de um 'artilheiro'.
“Adaptar o meio de campo para criar, como conseguiu fazer no Santos. E ter homens decisivos na frente. Falta um artilheiro”, completou ao Superesportes.
Raphael Prates
O comentarista Raphael Prates, da ESPN, avalia que Cuca costuma se destacar em momentos de pressão, com ambientes conturbados. Para o jornalista, a cobrança ao treinador, no Atlético, está quase que exclusivamente focada na 'questão campo'.
“Talvez, os trabalhos mais marcantes do Cuca nos últimos anos tenham sido em ambientes caóticos administrativamente. Trabalhos em que ele acumulou a função de técnico de campo, de gerente, de diretor e, às vezes, até de presidente. No Atlético, a exigência em relação ao trabalho do Cuca é quase que exclusiva no campo. O Atlético tinha um treinador que tinha um plano de jogo, um plano de analisar futebol completamente diferente. Agora, dificilmente algum técnico tem o plano do Cuca”, disse Prates.
Segundo Raphael, a sensação de 'desconfiança' sob o trabalho de Cuca pode fazer com que o processo evolua no Galo. O comentarista analisa que o time passa por uma adaptação, com uma mudança no estilo de jogo.
“O Cuca gosta de um jogo em que os jogadores se mexam muito, não gosta de por exemplo: o ponta-esquerdo vai ficar sempre parado ali na esquerda, ou esperando para jogar quando a bola for para o lado esquerdo. Eu acho que é uma questão de adaptação. Nem acho ruim esse começo de desconfiança, porque tenho a impressão que o Cuca cresce muito mais em momentos assim, de desconfiança, às vezes até caóticos, de bagunça, desorganização, de todo mundo querendo a cabeça dele, do que em momentos mais tranquilos. É a maneira que ele tem para trabalhar. Ele preza muito pelo ambiente, o lado paternal de lidar com os jogadores”, afirmou o comentarista.
Por fim, Prates disse acreditar na possibilidade de que o trabalho de Cuca evolua no Atlético. O jornalista classificou o processo do treinador no clube mineiro como um 'desafio'.
“Acredito que ele tem possibilidade de fazer o trabalho crescer, mas esse começo acho que tem muito a ver com o fato de ele estar totalmente voltado apenas ao campo. E apenas ao campo, ele vai ter alguns problemas, algumas limitações, e é um desafio para ele. Capacidade ele tem, elenco ele tem, mas tenho a impressão que em ambiente caótico ele consegue trabalhar melhor, porque também cuida de outras coisas. No Atlético, tem de cuidar do time. É um desafio para ele, mas acho que tem condição de reagir sim”, completou Raphael.