Dívida, Arena e mais reforços chegando: Rubens Menin passa Atlético a limpo
Em entrevista ao Superesportes, mecenas projeta inauguração do estádio, conta bastidores políticos e admite novas contratações: 'O elenco nunca está fechado'
Financeiramente, o Atlético simboliza com exatidão o paradoxal futebol brasileiro: ao mesmo tempo em que a dívida dispara (e supera R$ 1 bilhão), o elenco é fortalecido com estrelas internacionais. As aparentes contradições, entretanto, são balizadoras de um projeto ousado e que só consegue se sustentar graças aos empréstimos de empresários atleticanos. Maior dos credores do clube, Rubens Menin, da MRV Engenharia, é peça fundamental nessa complexa engrenagem.
“O Atlético não corre risco. Quem (os) corre somos nós, investidores, e de forma consciente”, argumenta, ao Superesportes (veja a entrevista no vídeo acima, ouça no podcast abaixo ou leia a íntegra ao fim do texto). Ao longo dos últimos anos, os investimentos de Menin no clube aumentaram significativamente e vão desde a doação do terreno onde ficará a Arena MRV até empréstimos sem juros para a aquisição de jogadores. E ele garante: se o clube puder pagá-lo, bom; se não conseguir, a dívida será perdoada. “Simplesmente não vamos receber esse dinheiro”, disse.
Nesta entrevista exclusiva realizada na última sexta-feira, o empresário - e dirigente - Rubens Menin passou o Atlético a limpo. Ao longo de 40 minutos, revelou a possibilidade de a inauguração do estádio ser antecipada, deu detalhes da relação com o ex-presidente Alexandre Kalil e da política alvinegra, reforçou a necessidade de sanar as dívidas atleticanas, demonstrou apoio irrestrito ao técnico Cuca, descartou as chances de patrocinar o arquirrival Cruzeiro e afirmou que vê lacunas em duas posições no grupo de jogadores: ‘O elenco nunca está fechado’.
Leia, na íntegra, a entrevista de Rubens Menin ao Superesportes:
Superesportes: Rubens, nesta terça-feira (20 de abril), completa-se um ano do início das obras da Arena MRV. Qual o cronograma daqui pra frente? Quando deve ser a inauguração?
Rubens Menin: “Coincidentemente, eu visitei as obras da Arena na última quinta-feira. Tive a satisfação de ver que os cronogramas estão rigorosamente em dia e que o planejamento da Arena está surpreendendo de forma positiva.
O cronograma original é para que tudo fique pronto em outubro do ano que vem. Existe uma possibilidade não muito certa de que antecipe, mas vamos pensar em outubro de 2022 como o término da Arena.”
SE: Do que depende a antecipação desse prazo?
RM: “A engenharia. É uma obra muito grande, é o maior canteiro de obras, hoje, de Belo Horizonte. E obra é uma coisa complexa. A gente depende um pouco de terceiros, de fornecedores, chuva... Existem os imprevistos.
Mas eu acredito que não vai haver imprevisto. Se tudo correr muito bem, se a engenharia for muito bem, pode até antecipar, mas é coisa de um mês, dois meses. É o cenário ótimo. Vamos pensar no (cenário) bom e no muito bom, que seria entregar no prazo, que é outubro do ano que vem.”
SE: A diretoria do Atlético planeja trazer um grande clube do mundo para inaugurar a Arena. Lembro que já foi falado sobre Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique... Há alguma novidade nesse sentido? O que mais vocês estão planejando?
RM: “A inauguração da Arena, na realidade, é um evento longo. A gente pretende fazer um mês de festividades. Vai ter jogo de veteranos, shows... E o grande final seria um super jogo do Atlético contra um time de destaque mundial.
Não existe nada de concreto, mas nós temos no nosso planejamento trazer um grande time. Não sabemos ainda qual, se será um Barcelona, um Boca Juniors, mas queremos fazer a inauguração contra um time de destaque.”
SE: A Arena é a salvação financeira do Atlético? Quanto vocês planejam arrecadar nesses primeiros anos de Arena?
RM: “Ela não é a salvação, é um passo importante. Nós estamos trabalhando muito para botar o Atlético em dia, como vocês estão sabendo. E a gente vai tentar fazer tudo isso antes de a Arena ficar pronta.
A Arena é aquele fator que vai colocar o Atlético num patamar mais elevado ainda, porque ela vai ser uma fonte de arrecadação adicional a tudo o que o Atlético tem. É para colocar o Atlético entre os maiores times do Brasil definitivamente, com chances, a gente quer isso, que seja um dos grandes times do mundo.
A gente pretende que a Arena dê ao Atlético uma renda adicional de mais de R$ 100 milhões no início. Depois, até um pouco mais do que isso. Então, acho que isso aí vai ser muito importante para o Atlético sonhar grande.”
SE: E qual o retorno calculado para a MRV por ter adquirido os naming rights?
RM: “A empresa é o seguinte: a MRV é uma empresa que investe no esporte há bastante tempo. Ela está investindo no esporte desde 1996. É a empresa no Brasil que investe há mais tempo no esporte, porque a gente entende que o esporte é um belo investimento em marketing.
Quem dera que todas as empresas do Brasil investissem em esporte, assim o esporte estaria maior. A MRV entende que o investimento no marketing esportivo dá retorno. E eu concordo com ela.
No caso da Arena, ela está apostando que os naming rights vão dar retorno. Ela não poderia investir se não achasse que desse retorno. Como também acontece com o marketing na camisa e outros investimentos que a empresa faz no marketing.
O que a MRV gostaria é que as empresas do Brasil ficassem mais atentas para investir mais no marketing esportivo, porque é um bom investimento.”
SE: A dívida do Atlético ultrapassa R$ 1 bilhão e é uma das maiores do futebol brasileiro. Boa parte desse débito é com você e sua família, que têm emprestado dinheiro ao clube. Não te preocupa a possibilidade de não receber essa grana de volta?
RM: “A dívida do Atlético é grande, mas o Atlético, diferentemente de outros times de futebol que têm dívida e não têm patrimônio, o Atlético tem patrimônio.
A gente cuida do Atlético sob todo o ponto de vista econômico. Tem dívidas e patrimônio para contrabalancear as dívidas. A gente sabe que o Atlético tem, e vamos mostrar para todo mundo no Galo Business Day os dois lados, dar uma transparência.
Quando a gente faz empréstimo para o Atlético, a gente espera que o Atlético possa pagar. Como? Vendendo os jogadores nos quais a gente investiu. Se não der certo, foi um mau investimento. Mas a gente tem muito otimismo que todo esse investimento vai dar certo para todo mundo, o Atlético vai ganhar dinheiro e nós vamos ter o nosso dinheiro de volta.
Mas o mais importante que as pessoas têm que entender é que as grandes viradas acontecem através das pessoas. Eu gosto muito de dar o exemplo do Barcelona, que era um time semi-destruído, quando alguns torcedores apaixonados fizeram o que não só eu, mas todos estamos fazendo pelo Atlético.
Os dirigentes do Atlético, o Conselho (Deliberativo) do Atlético... Nós somos apaixonados pelo Atlético, mas a gente é apaixonado com o pé no chão. A gente acha que é possível virar. Se deixar correr solto, não vai virar. Mas com bons conselhos, com boas medidas e austeridade, a gente vira o jogo. Foi o que o Barcelona fez e o que a gente quer que o Atlético faça.
Nós somos otimistas. O mundo vive de otimismo. Aqui no Brasil, se não fosse pelo Barão de Mauá no século XIX, não teria estrada de ferro. E assim por diante. Cada pessoa contribui naquilo que pode, e a sociedade é feita assim. Então, a gente acredita naquilo que pensa, que é o sonho grande do Atlético.”
SE: Quanto o Atlético te deve?
RM: “O Atlético deve um volumezinho bom para mim. Não só para mim, mas deve para o Ricardo (Guimarães, empresário e mecenas do clube) e outras pessoas. Eu até prefiro não antecipar, porque isso vai ser tudo esclarecido no evento que está marcado, que vocês devem ter recebido o convite, o Galo Business Day.
Ali vai estar tudo escrito como que é feito, o que é feito, como vai ser pago. Eu peço para você ter um pouquinho de paciência, mas é um bom volume. É um volume significativo.
SE: Tudo será passado a limpo no Galo Business Day? Todas as dívidas, com empresários, clubes, Fifa, quanto pagou por cada jogador, tudo será mostrado?
RM: “Transparência total é o que a gente quer. O Atlético será transparente. Quanto mais transparência, mais cobrança. Será fundamental. Transparência é o nome do jogo.”
SE: Essas dívidas com você e outros empresários têm juros baixíssimos, mas em algum momento o clube vai ter que pagar. E é um empréstimo de risco, já que, para pagar, o clube vai ter que conseguir sucesso esportivamente, para vender os jogadores e repassar para vocês, os credores. Qual o nível desse risco? Se esse time não vingar, quais são as saídas em que essa diretoria está pensando?
RM: “Primeiro, vou te corrigir: os juros não são baixos, não. Os juros são zero. Nós não estamos cobrando juros. Qualquer time de futebol gostaria de um investimento desses. Segundo, é importante (afirmar) que o Atlético não corre risco. Quem (os) corre somos nós, investidores, e de forma consciente.
Se os jogadores não forem vendidos, se os jogadores não vingarem, simplesmente nós não vamos receber esse dinheiro. Simples assim. Então, para o Atlético, é uma boa aposta. Ele está apostando um investimento em jogadores que, se não vingarem, ele não conseguirá pagar, mas nós não iremos cobrar.
Se vingarem, ele vai ter lucro e vai nos pagar tranquilamente. Acho que é uma posição confortável para o Atlético, é uma posição de risco para os investidores. Mas os investidores sabem o que estão fazendo e topam correr esse risco. É simples o raciocínio. Não é difícil de entender.”
SE: No caso dos atletas mais experientes, como Hulk e Nacho, que não tem tanto potencial de revenda, como fica a situação dos empréstimos? Como seria o ressarcimento desses valores?
RM: “Não, nós não seremos (ressarcidos). Um time de futebol... O Hulk não teve luvas, é só salário. A comissão técnica achou que era um bom salário a ser pago, que ele acrescenta. Em relação ao Nacho e outros mais, muitos jogadores têm que vir para não serem vendidos, para ficarem aqui o quanto mais, melhor. Não são jogadores para você ter lucro.
Jogador para você ter lucro é um jogador novo, que ‘arrebente a boca do balão’, que ‘exploda’. Esse é o jogador para ter lucro. O Atlético tem vários perfis de jogadores: aqueles que compõem o plantel; jogadores que somam ao plantel, mas não são para serem vendidos; e os jogadores que estão sendo preparados para serem vendidos.
O planejamento do Atlético é que tem que fazer este ano R$ 100 milhões em venda [R$ 120 milhões, segundo o orçamento para 2021]. Então, não é todo o plantel. A gente tem que vender aquele jogador que não vai ser reciclado. Eu gostaria muito que o Nacho ficasse os quatro anos de contrato, que pudesse ajudar muito pelos próximos quatro anos. Essa é a ideia.”
SE: Nesse processo de tentativa de reajustar financeiramente o Atlético, uma proposta muito falada é a venda dos 49,9% que o Atlético detém do Diamond Mall, um shopping de Belo Horizonte. É momento para isso ou não?
RM: “Agora, não. Agora, acho que não. Acho que a gente tem outros planos, que vamos também apresentar no Galo Business Day, sobre aproveitar melhor o patrimônio do Atlético. Também não vou antecipar, mas existem outros movimentos que devem ser feitos prioritariamente.
O Diamond Mall é outra coisa, outra conversa, que tem que ser feita a nível de Conselho, e não agora. Acho que não está na hora. Os shoppings agora estão vazios, estão desvalorizados, infelizmente. Não diria que passa pela nossa cabeça, agora, qualquer movimento com o Diamond, não. Mas passa por reestruturação patrimonial do Atlético, que tem alguns imóveis que podem render mais dinheiro para o clube. Mas o Diamond Mall, não.”
SE: Como?
RM: “Tem outros patrimônios imobiliários. O Atlético é um time... Não vou falar que é um time rico, não, mas é um time que tem o Diamond Mall, tem a Cidade do Galo, que é um terreno enorme, vale muito dinheiro e tem uma estrutura gigante, tem os dois clubes - o Labareda e a Vila Olímpica -, tem o terreno de Lourdes, a sede, que vale.
Acho que a gente tem que aproveitar esses patrimônios. E terá a Arena, que vai valer muito dinheiro. O Atlético talvez seja um dos clubes mais ricos do Brasil em termos de patrimônio. Então, a gente tem que aproveitar e potencializar esse patrimônio, usar todo o potencial imobiliário desses terrenos e aumentar a receita. É isso o que o Atlético quer fazer, que essa diretoria quer fazer.”
SE: Em quantos tempo o senhor acha que o Atlético consegue equacionar a dívida?
RM: “Se eu for te responder quanto vai demorar para pagar toda ela, vai demorar... O Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) vai demorar muitos anos para ser pago, mas já está equacionado. Para mim, Profut está equacionado. É um programa de incentivo aos clubes, e o Atlético foi lá e se habilitou ao Profut para pagar em muito tempo. Mas uma grande parte da dívida do Atlético está equacionada.
O que a gente quer fazer com todas as dívidas do Atlético é equacionar, renegociar. Não vamos pagar isso num ano, vamos pagar em alguns anos. Mas que equacione. E o que sobrar, depois de equacionada, seja suficiente para que o Atlético tenha um time de futebol competitivo. É uma dívida a ser paga ao longo dos anos. Não tem nenhum time de futebol no Brasil que não deva um tostão. O Atlético vai continuar devendo. Só que vai dever de forma organizada, consciente, tendo um plano de negócios.”
SE: O Atlético é dirigido pelo órgão colegiado, composto pelo presidente Sérgio Coelho, o vice José Murilo Procópio e os quatro empresários (você, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador). Qual o papel do senhor no grupo?
RM: “O Sérgio Coelho e o José Murilo, que são os presidentes executivos, fazem a gestão do Atlético. Eu estou, como atleticano e conselheiro, muito satisfeito com o que eles têm feito até agora, apesar de terem pouco tempo (de mandato). Eles têm três meses que estão no comando do Atlético, mas a gente tem visto que eles têm trabalhado muito, muito, muito.
Mas como a gente... Como o mundo está muito dinâmico, cada um de nós, desses quatro (empresários), conhece um detalhe, o presidente conhece outros, o José Murilo (outros). Então, a gente sempre senta e discute o Atlético. E saem boas ideias desse colegiado. Excelentes ideias saíram desse colegiado. Muitas das que serão apresentadas no Galo Business Day saíram do colegiado. Um dá uma ideia, outro dá outra... A gente soma esforços.
Se vocês querem saber de futebol, eu não participo de futebol. Dos seis, sou o que menos conhece de futebol. Então, sou o que menos participa. Agora, todos eles, o Rafael, o Renato e o Ricardo, que conhecem de futebol, ajudam a tomar as decisões sobre contratações, orçamentos, que tira daqui e põe para lá, eles são bem ativos nisso.
Eu, de todos nós, fico mais na parte financeira e econômica, ajudo o Rafael na parte da construção da Arena. A gente divide, cada um faz uma parte do negócio neste colegiado.”
SE: Como faz para te convencer a contratar um jogador? O que o diretor de futebol do Atlético tem que fazer para conseguir o investimento?
RM: “Na realidade, quem toma a decisão do investimento não sou eu, é o presidente do Atlético e o diretor de futebol. Quando precisa de algum recurso, aí leva para o comitê de investimento - do qual eu faço parte -, e a gente analisa e toma a decisão se vale a pena ou não.
Mas essa decisão é posterior, só depois do conhecimento técnico feito pelo presidente do Atlético e, no caso, quem olha mais isso são o Renato e o Rafael. Se eles acham que está de acordo o investimento, levam para o comitê, que apoia ou não o investimento.”
SE: Você já sugeriu algum nome a ser contratado?
RM: “Eu não. Futebol é o que eu menos participo. Quem participa mais ativamente é o Renato Salvador, Rafael Menin, um pouco o Ricardo, e o presidente Sérgio Coelho, ao lado do nosso diretor Rodrigo Caetano, que tem, aparentemente, feito um trabalho muito bom.”
SE: O que você sabe sobre os planos do Atlético para investir em reforços? O clube está em busca de um zagueiro, um centroavante, ou o elenco está fechado para o restante da temporada?
RM: “O elenco nunca está fechado. A obrigação do presidente e do diretor de futebol é sempre melhorar o elenco. O elenco não está fechado nem para compra e nem para venda. Pode chegar a oportunidade de venda de jogador e oportunidade de compra.
Eu, como torcedor, acho que o Atlético tem um time forte, mas tem posições carentes. Fala-se de defesa, mas tem que aparecer um negócio interessante. O elenco não está fechado nunca, está sempre aberto para boas compras e boas vendas.”
SE: No seu entendimento, como torcedor, o que está faltando no elenco?
RM: “Eu, como torcedor, ‘torcedorzão’, acho que precisa de um beque, mas quem sabe melhor disso é o presidente e o Rodrigo Caetano. Acho que, talvez, alguma coisa em termos de ataque. Vamos disputar três campeonatos (Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Libertadores), talvez precise de mais um ‘9’. A gente vai disputar jogos difíceis, um já na quarta-feira (contra o Deportivo La Guaira, da Venezuela, pela Libertadores). O técnico tem que ter opções. O Cuca sabe o que mexe, ele conhece o Atlético. Tem a oportunidade de trabalhar a base sempre que possível, é importante.”
SE: Quanto vocês pretendem investir na aquisição de jogadores até o fim da temporada?
RM: “O Atlético tem um orçamento anual, que é aprovado pelo Conselho. O orçamento mostra quanto tem que investir e quanto tem que vender. O Atlético prevê vendas de R$ 100 milhões (R$ 120 milhões, na verdade), mas ainda não vendeu. Tem que vender para adquirir mais. Se a gente fizer uma venda que supere R$ 100 milhões, você faz mais investimentos. Se não, você faz menos. Tem que ter disciplina financeira.
Se chegar uma proposta de 10 milhões de euros por alguém, vamos vender se o técnico achar que tem que ser vendido, sem tem algum reserva à altura. Tem que pensar no dia a dia, a gente não pode prever. E outra coisa, a gente pode comprar com um ‘sinal’ (primeira parcela à vista) e o restante para pagar em outros anos. Ninguém compra de ninguém para pagar tudo de uma vez. Parcelando a compra para os anos seguintes, a gente fica com mais apetite para comprar.”
SE: Vocês do colegiado têm a liberdade de propor vender algum jogador para ressarcir um pouco do investimento feito ou a decisão é da diretoria de futebol?
RM: “A decisão, primeiro, é do técnico com o Rodrigo Caetano. Eles precisam conversar, eles conhecem. A gente não pode desfalcar um time que está disputando três competições. Se aparecer uma proposta para vender um jogador importante, o técnico e o diretor de futebol têm que tomar essa decisão. A decisão final é do Sérgio Coelho. O dia em que a gente der palpite nisso vai atrapalhar. Não podemos fazer isso, não.”
SE: Quais os jogadores do elenco atual têm maior potencial de venda?
RM: “O Atlético tem muito jogador com potencial de venda, graças a Deus. O Atlético, hoje, tem um plantel. No passado, o jogador do Atlético não pegava preço. Hoje, o Atlético tem mais de dez jogadores sendo observados por times do exterior, do Brasil, com potencial de preço. Mas agora não tem janela de transferência. Quando abrir a janela, pode ser que aconteça alguma oferta.”
SE: O que aconteceu no período do segundo semestre nos bastidores do Atlético para a desistência do Sérgio Sette Câmara da reeleição no clube?
RM: “O Sérgio Sette Câmara nunca falou que seria candidato à reeleição, ele nunca deu essa declaração. Ele seria se não tivesse outro. Ele estava cansado, esgotado, com problemas pessoais e de negócios. Ele não poderia se dedicar ao Atlético como ele gostaria.
O Sérgio Coelho tem mais disponibilidade que o Sérgio Sette Câmara. Então, foi uma transição muito amiga, muito amena. O mais importante, hoje, é que o Atlético está pacificado. Não existem grupos no Atlético. Existe um grupo só, que é o grupo do Atlético.
Todo mundo, todo o Conselho, toda a torcida, todo mundo querendo o bem do Atlético. A pior coisa que poderia existir no Atlético são dois grupos. Pode ver que não tivemos oposição na eleição do Atlético, o Sérgio foi candidato único. Tudo o que a gente quer é que o Atlético continue pacificado. Assim, a gente vai poder trabalhar melhor, acaba sendo bom para o desempenho do time.”
SE: O Alexandre Kalil teve alguns atritos com o Sérgio Sette Câmara no passado, com algumas pessoas no clube. Como é a sua relação com o ele, se é que ela existe?
RM: “Existe e é muito respeitosa. Conheço o Alexandre há bastante tempo, desde antes de ele ser político, desde o Atlético. Conheço desde antes de ele ser presidente do Atlético, já fizemos negócios com ele, quando ele era presidente e eu já era patrocinador do Atlético. É uma relação bastante respeitosa. E continua assim.
Ainda bem que ele não mistura a política com o Atlético. A política ele faz do jeito dele lá, é prefeito de Belo Horizonte. Ele separa as coisas, não leva para dentro do Atlético. Acho que ele não faria isso e está certo de fazer isso. Ele pode ter tido algum problema com o Sette Câmara, mas apoia o Sérgio Coelho. Ele é conselheiro do Atlético, uma pessoa muito respeitada no Atlético, por tudo que ele faz. Ele faz parte desse grupo de consenso. A pacificação do Atlético passa por ele também.”
SE: O nome do Sérgio Coelho foi levado ao Kalil pelo órgão colegiado antes da eleição?
RM: “O Sérgio Coelho não foi um candidato desse colegiado. Nós tínhamos um grupo de 30 pessoas que discutia a política no Atlético, atleticanos que participam ativamente, conselheiros que querem o bem do Atlético. Entre eles, o Alexandre Kalil. O Sérgio não foi do colegiado, foi do consenso desse grupo enorme, que o apoiou. Todos nós apoiamos o Sérgio. Não foi o colegiado que lançou o Sérgio, o Sérgio foi lançado por esse grupo de atleticanos conselheiros.”
SE: Falando agora um pouco do time, qual o peso da derrota para o Cruzeiro no ambiente e no planejamento?
RM: “Ela não pode atrapalhar em nada. Futebol é bom porque é assim mesmo. Eu acho o time do Atlético bem superior ao do Cruzeiro, mas o Cruzeiro entrou e ganhou. Clássico é clássico. O primeiro jogo que vi no Mineirão foi Atlético e Formiga, na década de 60, e o Formiga ganhou por 2 a 1. Isso acontece.
O Real Madrid vai perder para um time menor. O Bayern de Munique perde para time menor. Acontece. Não estou falando que o Cruzeiro é um time menor não, longe disso. Só disse que o Atlético, hoje, tem mais chance de ganhar, mas o Cruzeiro ganhou. Isso é do futebol. Se você já tivesse a certeza do resultado não teria graça.”
SE: Como o órgão colegiado tratou essa derrota no clássico? Houve algum tipo de cobrança?
RM: “Zero cobrança. Faz parte do futebol. Nas horas difíceis, a gente tem que apoiar, não cobrar. É apoio total.”
SE: Depois da derrota no clássico, houve muita cobrança sobre o trabalho de Cuca, que começou há pouco tempo. Você entende que esse clássico perdido coloca pressão além da conta no treinador, ainda mais considerando que o Renato Gaúcho deixou o Grêmio, sendo que ele era alvo do Atlético após a saída do Sampaoli?
RM: “Vou falar como torcedor: eu nunca quis o Renato Gaúcho, sempre quis o Cuca. A partir do momento da saída do Sampaoli, o Cuca, para mim, era o que tinha de melhor. E continuo achando isso. Julgar um treinador por duas, três semanas de trabalho, é brincadeira. O problema do futebol brasileiro é que a torcida cobra, o clube cede e demite o treinador.
Treinador tem que ficar dois, três, quatro, cinco anos no clube, senão não faz. Tem que cuidar da base, que tem que interagir com o time principal, conhecer a base, conhecer o clube, os jogadores que estão bem, que não estão.
O Cuca é competente? Com certeza, tem um currículo excepcional, inclusive no Atlético. Vamos apoiar o Cuca, gente, porque ele é bom. Tem sempre um torcedor mais exaltado que quer demitir o treinador depois que perde um jogo. O torcedor tem que ter um pouco de calma nessa hora.”
SE: Quais as suas expectativas para a estreia na Libertadores? Se tivesse que escolher um título para o Atlético ganhar nesta temporada, qual seria?
RM: “Na realidade, a gente vai disputar três títulos importantes: Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil. Evidentemente, a Libertadores é o mais importante dos três, porque dá uma vaga no Mundial. O Brasileiro é muito difícil, mas tem muito tempo que a gente não ganha. Eu fico entre Libertadores e Brasileiro, com a Copa do Brasil em terceiro lugar.
Mas não pode ter salto alto. Qualquer um que a gente ganhar vai ser uma vitória, porque vamos disputar com clubes fortes, Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Internacional, Grêmio. Se ganhar um, acho que nosso projeto é vencedor. Eu gostaria de Libertadores ou Brasileiro. No coração, eu fico com o Brasileiro, mas com a razão eu fico com a Libertadores, porque é um título que vale mais.”
SE: Como você avalia o grupo do Atlético na Libertadores (com La Guaira-VEN, Cerro Porteño-PAR e América de Cáli-COL)? Acha que o Atlético tem condição de passar em primeiro e fazer boa campanha?
RM: “Acho que sim, mas sem salto alto. Não tem grupo fácil na Libertadores. É uma guerra, você vai para um lugar, outro… Não vamos colocar salto alto não, vamos ganhar, temos que ganhar, cada jogo é uma batalha. Não sei se lembra do jogo contra o Tijuana-MEX, no México, o Atlético empatou aos 46 do segundo tempo. Era uma guerra, não tinha jogo perdido. Vamos tentar ganhar uma, depois a segunda. Não tem nada fácil em Libertadores. Cada jogo desse é uma encrenca.”
SE: Rubens, uma situação curiosa… No fim do mês passado, o cantor Samuel Rosa, do Skank, cruzeirense, usou as redes sociais para sugerir que a MRV também patrocinasse o maior rival do Atlético. Existe alguma possibilidade disso acontecer ou está totalmente fora de cogitação?
RM: “Não é que está descartado. A MRV pensa assim: no Rio, patrocinou o Flamengo. Um time no Rio basta. Cada hora um. Não tem necessidade de ter dois patrocínios aqui, uma visibilidade basta. Evidentemente, a gente opta pelo Atlético do que o Cruzeiro, porque a gente é atleticano. Mas com todo respeito.
Temos que respeitar os patrocinadores, todo patrocinador para o esporte é bem-vindo. O esporte precisa de patrocínio para ficar grande. Vamos aplaudir os patrocinadores. O pessoal brinca com o Samuel, do Skank. O atleticano compra disco dele. É a mesma coisa que o atleticano deixar de comprar porque ele é cruzeirense. Ou então: ‘Ô Samuel, você não compra Galo na Veia, e a gente compra o seu disco’. Isso é brincadeira. Mas acho que os patrocinadores do esporte têm que ser aplaudidos.”
SE: Falando ainda de Cruzeiro, o rival do Atlético vive uma situação complicada. Queria uma avaliação do Rubens empresário e do Rubens torcedor sobre o rival.
RM: “Primeiro que o Cruzeiro é rival do Atlético, mas ainda bem que tem o Cruzeiro, porque a rivalidade é boa. Quanto a gente já ganhou com bilheteria? Isso é importante. Essa rivalidade é muito positiva, apesar de ser uma rivalidade. O Cruzeiro, infelizmente, está numa situação difícil, como o Atlético também estava, mas um pouco menos. O Cruzeiro tem que fazer o dever de casa - e acho que está fazendo.
Não só o Cruzeiro, mas vários clubes do Brasil, inclusive o Atlético. Quando um faz, obriga o outro a fazer. Os clubes que estão devendo precisam fazer o dever de casa, precisam ajustar.”
SE: Como você recebe o apoio da torcida do Atlético?
RM: “É lógico que a gente fica satisfeito. A torcida do Atlético é diferente, quem cobre o futebol sabe que é. É bacana, mas aumenta a responsabilidade, porque na hora em que eles fazem isso, a gente tem que ter mais compromisso. Eu estou doido para entregar para a torcida alguma coisa: a Arena, um clube organizado, um título. Dá uma ansiedade grande. Espero que a gente tenha essa competência grande para devolver todo esse carinho.”
SE: Para finalizar, deixe um recado para a torcida do Atlético…
RM: “Vamos ver se a gente esse ano apoia o Atlético. Por enquanto, a gente só pode apoiar, não pode estar no campo. A pandemia é um negócio muito sério. Vamos ver se a gente consegue vencer a pandemia e, quem sabe, a gente não vê o Atlético decidindo um título no campo, com todo mundo junto fazendo aquele caldeirão. Esse seria o nosso grande sonho. Essa torcida é fantástica, sempre apoia. Ela está apoiando muito pelo Galo na Veia. O Galo na Veia é importante, já que não temos bilheteria. Que a torcida apoie muito o Atlético, porque é importante.”