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Culpa do goleiro? No G8, Atlético é o que mais dá grandes chances a rivais

Críticas e até ameaças a Everson ganharam espaço nas redes sociais, mas números mostram: problema não se resume a quem fica debaixo das traves

João Vitor Marques
- Foto: Everson tem sido muito criticas, mas números mostram: culpa de o time levar tantos gols não é só do goleiro
Nas últimas semanas, o goleiro Everson tem recebido críticas severas - e até ameaças - de uma parcela da torcida do Atlético. Nas redes sociais, a esposa do arqueiro, Rafaela Vieira, desabafou contra o tom descabido de parte dos questionamentos. O próprio clube protegeu publicamente o jogador de 30 anos, que virou centro das discussões a respeito do fraco desempenho defensivo alvinegro no Campeonato Brasileiro. Mas será que ele pode mesmo ser apontado como o principal motivo para a alta quantidade de gols sofridos pela equipe (42 em 34 jogos) na competição?

Para responder a pergunta, o Superesportes analisou a fundo informações geradas pelo SofaScore, plataforma especializada em estatísticas de futebol. A reportagem consultou e compilou números de 336 dos 342 jogos disputados pelos 20 clubes nesta edição da Série A até essa segunda-feira*. A avaliação levou em conta um dado classificado como “grandes oportunidades”.



Embora carregue certo grau de subjetividade, essa variável ajuda a entender que Everson não é o único - e talvez nem seja o principal - culpado pelo alto número de gols sofridos pelo Atlético.

A análise mais profunda sobre o tema indica que o problema é sistêmico, num time que, após quase um ano sob comando do técnico Jorge Sampaoli, ainda não encontrou os melhores antídotos para se defender de contra-ataques, lançamentos e, eventualmente, lances originados em bolas paradas.

Atlético se equipara a times que lutam contra o Z4


De acordo com o levantamento, o candidato ao título Atlético tem números semelhantes aos do Fortaleza, que sofre na luta para escapar do rebaixamento. Em média, o time alvinegro oferece 1,82 grandes oportunidades ao adversário por jogo - número ligeiramente pior que o 1,81 da equipe cearense, 15ª colocada do Brasileirão com apenas um ponto à frente do Z4.



Nenhum integrante do G8 da Série A possui desempenho tão ruim quanto o Atlético no quesito. As melhores equipes são Palmeiras (1,19) e, curiosamente, Flamengo (1,22), que, assim como o time mineiro, tem sido criticado pelo alto número de gols sofridos. Em seguida, aparecem Grêmio (1,26) e o líder Internacional (1,27).

O Atlético é só o 11º no ranking, que mede a eficiência no quesito. O 12º lugar da lista, por exemplo, é dividido entre Vasco - ameaçado de rebaixamento, assim como o Fortaleza - e Atlético-GO, que ocupa o meio da tabela de classificação do Brasileiro. Os times carioca e goiano cedem, em média, 1,97 grandes oportunidades ao adversário por jogo.

Dos 34 jogos disputados até aqui, o Atlético só não cedeu grandes chances ao adversário cinco vezes:

  • Rodada 13: Atlético 4 x 1 Vasco
  • Rodada 15: Atlético 3 x 0 Goiás
  • Rodada 18: Atlético 0 x 0 Sport
  • Rodada 31: Grêmio 1 x 1 Atlético
  • Rodada 34: Goiás 1 x 0 Atlético

É um número ruim se comparado a outras equipes da parte de cima da tabela. O líder no ranking é o Grêmio (13), seguido de Palmeiras (12), Flamengo (11), São Paulo (11) e Internacional (nove). O Atlético é o 11º da lista, com a mesma quantidade que o Bahia - mais um time que luta contra o Z4.



Número de jogos em que o time não cedeu grandes oportunidades ao adversário

1º Grêmio - 13
2º Palmeiras - 12
3º Flamengo e São Paulo - 11
5º Internacional - 9
6º Athletico-PR e Fluminense - 8
8º Red Bull Bragantino - 7
9º Corinthians e Coritiba - 6
11º Atlético e Bahia - 5
13º Atlético-GO, Ceará e Vasco - 4
16º Botafogo, Goiás e Santos - 3
19º Sport - 2
20º Fortaleza - 1

Everson é, sim, passível de críticas. Mas não só ele


Parte da torcida deseja que Sampaoli escolha Rafael no lugar de Everson - Foto: Pedro Souza/Atlético

Outras variáveis mostram que Everson pode, sim, ser questionado (desde que o tom das críticas seja adequado). Por exemplo: entre os goleiros com ao menos 50% de jogos disputados no Brasileirão, o camisa 31 alvinegro é apenas o 18º em defesas difíceis (foram 13 em 24 partidas).

Diante da adversidade de precisar parar uma grande oportunidade rival, Everson tem, de fato, números piores que o concorrente Rafael no Campeonato Brasileiro.

Em média, o adversário precisa de 1,25 grandes oportunidades para fazer um gol em Everson. Os números de Rafael são significativamente superiores, embora a amostra seja bem menor (dez jogos, sendo um deles incompleto, contra 24).

Os rivais precisam de 2,62 grandes oportunidades para marcar contra o ex-cruzeirense. Não quer dizer, porém, que o desempenho de Everson nesse sentido seja terrível. O titular da meta alvinegra tem números comparáveis aos de outros goleiros da elite nacional.



A escolha de Sampaoli no gol diz respeito ao modelo de jogo. Para ter uma equipe propositiva e com qualidade de construção pelo chão, o treinador opta por Everson. E, nesse ponto, o goleiro não decepciona. Ele é o melhor da Série A em acerto no passe (83%) e no passe longo (53%).


Também não é possível acusar Everson de deixar passar bolas fáceis ou cometer outros equívocos cruciais. Ele não registrou nenhum erro defensivo no Campeonato Brasileiro. É o melhor no quesito.

Problema sistêmico


O alto número de grandes chances cedidas pelo sistema defensivo mostra que o goleiro atleticano - independentemente de qual for - muitas vezes será exposto a situações desfavoráveis. Na linguagem boleira: precisa fazer “milagres” para evitar que o time sofra gol.



Historicamente, porém, as melhores defesas em pontos corridos não são necessariamente aquelas com o arqueiro de intervenções espetaculares, mas as que evitam que o adversário crie muitas oportunidades.

É compreensível o ponto de vista de quem sugere uma mudança no gol alvinegro. Afinal, quando acionado, Rafael foi bem. Porém, assim como Everson, o ex-jogador do Cruzeiro também sofreu - e continuaria sofrendo - com as falhas sistêmicas na defesa atleticana.

Culpar exclusivamente o goleiro ou atribuir a um jogador a maior parcela de culpa, nesse caso, é simplificar um problema muito maior. Ao menos de acordo com os números.

*O levantamento do Superesportes não considerou seis partidas do Campeonato Brasileiro que não tinham dados de “grandes oportunidades” disponibilizados pelo SofaScore:

Palmeiras 1 x 1 Goiás (3ª rodada)
Fortaleza 1 x 0 Internacional (11ª rodada)
Ceará 0 x 0 Sport (20ª rodada)
Goiás 1 x 0 Palmeiras (22ª rodada)
Fluminense 0 x 0 Red Bull Bragantino (23ª rodada)
Goiás 1 x 0 Sport (27ª rodada)