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A caminho do Atlético: relembre a trajetória de Rodrigo Caetano no Inter

Dirigente chega a Belo Horizonte nesta quarta-feira para uma reunião com a diretoria alvinegra, que deve oficializar o acordo entre as partes

João Vitor Marques
Rodrigo Caetano chegou ao Inter em maio de 2018 e ficou até dezembro de 2020 - Foto: Ricardo Duarte/Internacional
Rodrigo Caetano deverá ser oficializado em breve como novo diretor de futebol do Atlético, após reunião agendada para esta quarta-feira, em Belo Horizonte. No clube alvinegro, o gestor terá pela frente um desafio bem diferente em relação ao que encontrou no Internacional, quando assumiu o cargo em maio de 2018.



Em Porto Alegre, Caetano foi incumbido da missão de reconduzir a equipe ao protagonismo perdido nos anos anteriores. O Inter havia sofrido um inédito rebaixamento em 2016; em 2017, conquistou o acesso como segundo colocado, atrás do campeão América. Os meses que antecederam a chegada do dirigente em 2018 também não foram dos melhores, com eliminações precoces no Campeonato Gaúcho e na Copa do Brasil, além de um início mediano no Brasileirão.

“É óbvio que o torcedor fica desconfiado. Não resta a menor dúvida que o torcedor tem esse direito. Cabe a todos nós aqui, todos os engajados, recuperar essa autoestima, para que o torcedor perceba que estamos em um dos maiores clubes do futebol brasileiro e mundial”, disse Rodrigo Caetano durante a entrevista de apresentação no clube gaúcho.

Ao longo da trajetória de dois anos e sete meses, concluída em dezembro de 2020, o dirigente ajudou o Internacional a retomar o posto de protagonista no futebol nacional. Os resultados não demoraram a aparecer, e o time terminou o Campeonato Brasileiro de 2018 na terceira posição - melhor desempenho da história de uma equipe que acabara de voltar da Série B.



Longevidade de Hellmann


Entre os trunfos de Caetano esteve a manutenção do técnico Odair Hellmann mesmo em momentos turbulentos. O comandante havia assumido a equipe ainda na Série B de 2017 (antes da chegada do dirigente), permaneceu no cargo até outubro de 2019 e teve papel fundamental na reconstrução colorada.

Além do terceiro lugar no Brasileiro de 2018, a parceria Caetano-Hellmann ajudou o Inter a chegar à final da Copa do Brasil de 2019. Na decisão, a equipe foi batida pelo Athletico-PR de Tiago Nunes. O insucesso no mata-mata e uma sequência negativa na Série A aumentaram a pressão sobre o treinador, que foi demitido.

Depois de Hellmann, a diretoria colorada apostou num projeto que seria, novamente, a longo prazo: Eduardo Coudet, vitorioso à frente do Racing. Antes da chegada do argentino, marcada para o início de 2020, Zé Ricardo assumiu interinamente o Inter na reta final do Brasileirão de 2019.



Relação com Coudet


Relação com Coudet desgastou imagem de Caetano no Inter - Foto: Liamara Polli/AFP

Tecnicamente, a escolha por Coudet se mostrou acertada. Apesar dos insucessos nos clássicos com o Grêmio e da frustrante campanha no Campeonato Gaúcho, a equipe colorada rapidamente ficou competitiva e se colocou na briga pelo título do Campeonato Brasileiro.

Porém, fora de campo, desentendimentos com Coudet, relatados pela imprensa gaúcha, minaram a credibilidade de Rodrigo Caetano com a torcida colorada. A gota d’água foi a saída do argentino para assumir o Celta de Vigo em novembro. Em entrevista ao jornal As, da Espanha, o treinador se mostrou chateado pela forma como deixou o clube colorado, mas não deu maiores detalhes.

"Nada me frustrou no trabalho, mas a saída sim. Foi uma frustração porque é difícil para um técnico se apresentar como líder de algum lugar e, às vezes, quando você não se sente acompanhado, essas coisas costumam acontecer. São decisões pessoais que se analisa internamente", afirmou.



Quando anunciou a saída do Inter, em 23 de dezembro de 2020, Caetano negou ter rusgas com o treinador. “Minha relação com o Coudet sempre foi excelente. A gente troca mensagens, nos falamos várias vezes desde que ele chegou lá. Mas ele teve um desejo pessoal, eu tentei que ele ficasse. Creditar à diretoria a não permanência de um profissional quando ele propõe a saída não traduz a realidade”, disse.

Após a saída de Coudet, a diretoria fez uma aposta bastante criticada: a contratação de Abel Braga. Ídolo colorado, o treinador acumula maus trabalhos recentemente. A nova diretoria do clube gaúcho o manterá até fevereiro, quando Miguel Ángel Ramírez assumirá o cargo.

Construção do elenco


Apresentação de Paolo Guerrero, principal reforço do Inter na 'era Rodrigo Caetano' - Foto: Ricardo Duarte/Internacional

Ao longo de 2020, a imprensa gaúcha noticiou que um dos fatores dos supostos embates entre Coudet e Caetano foi a falta de reforços desejados pelo treinador argentino. Apesar das críticas, o elenco do Internacional é considerado um dos melhores do futebol brasileiro.



O grupo colorado ainda é formado por muitos destaques do time da Série B. Porém, algumas aquisições feitas sob o comando de Rodrigo Caetano foram fundamentais. A principal delas foi a do centroavante Paolo Guerrero, em 2018. Em 2020, chegou Thiago Galhardo, artilheiro do Campeonato Brasileiro.

Falta de títulos


Não há dúvidas que o Inter reconquistou o desejado protagonismo durante a passagem de Rodrigo Caetano. Porém, faltaram títulos na trajetória do dirigente à frente do departamento de futebol do clube. A única conquista foi a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2020, que teve destaques como os jovens Praxedes e Caio Vidal.

“Saio com sentimento de ter honrado o compromisso proposto lá em 2018. Saio com a consciência tranquila de ter preservado os interesses do clube. Tenho certeza que o Inter seguirá sua evolução. Com a base desse elenco, mais os jovens, tem totais condições de seguir lutando até o final pelo Brasileirão”, defendeu-se Caetano, na entrevista de despedida.



No Atlético...


5 metas do Atlético para 2021

1 - Conquistar título de expressão: Após um frustrante início de 2020, o Atlético mudou radicalmente o planejamento do futebol a partir de março. Para isso, contou com apoio administrativo e financeiro dos empresários Renato Salvador (Materdei), Ricardo Guimarães (Banco Bmg), Rafael Menin e Rubens Menin (ambos da MRV). O incremento significativo nos investimentos na comissão técnica e no elenco aumenta a pressão por um título de maior expressão, que não é conquistado pelo clube desde 2014 (quando ganhou a Copa do Brasil sobre o arquirrival Cruzeiro). Nos dois primeiros meses de 2021, o time terá pela frente as 11 rodadas finais do Campeonato Brasileiro, em que ocupa a segunda posição - a sete pontos do líder São Paulo. Na próxima temporada, o nível de disputa aumentará, com o provável retorno à Copa Libertadores. - Bruno Cantini/Atlético
2 - Dar continuidade ao trabalho de Sampaoli: Cuca, em 2013, foi o último técnico a ficar uma temporada inteira no comando do Atlético. Em 2015, Levir Culpi deixou o cargo dois jogos antes do fim do ano. A expectativa para 2021 é dar continuidade ao promissor trabalho de Jorge Sampaoli, contratado em março de 2020. A nova diretoria já explicitou que deseja renovar o contrato do argentino, que vai até dezembro, por mais 12 meses. Naturalmente, tudo dependerá do desempenho da comissão técnica, que tem como desafios a melhor implementação do estilo de jogo, conquistas de títulos e o melhor aproveitamento de jovens da base. - Bruno Cantini/Atlético
3 - Organizar finanças: O Atlético deve mais de R$ 700 milhões (uma das maiores quantias do futebol brasileiro). Para 2021, o Conselho Deliberativo aprovou um orçamento com R$ 401 milhões de receitas e superávit de R$ 5 milhões. Mais do que os números previstos - que quase nunca se concretizam ao fim do ano -, o clube precisa se atentar para a alta de despesas com contratações de atletas (geralmente sustentadas por empréstimos de parceiros). O próximo triênio precisa, sim, ser de fortalecimento do time, mas também de organização das devastadas finanças alvinegras. - Bruno Cantini/Atlético
4 - Avançar nas obras da Arena MRV: Em setembro de 2017, o Conselho Deliberativo do Atlético liberou a venda de parte do shopping Diamond Mall como forma de viabilizar o sonhado estádio alvinegro. Em abril de 2020, as obras finalmente começaram. Para 2021, a meta é ultrapassar os 50% do processo de construção. A expectativa atual é inaugurar a Arena MRV em outubro de 2022. - Alexandre Guzanshe/EM D.A Press
5 - Manter bastidores políticos apaziguados: Em 2020, o Atlético viveu um período de caos político, com um racha protagonizado pelo então presidente Sérgio Sette Câmara e o ex-mandatário e atual prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). Nos últimos meses do ano, porém, o grupo de empresários (Renato Salvador, Ricardo Guimarães, Rubens Menin e Rafael Menin) tomou a frente de um processo que serviu para apaziguar as disputas internas. O resultado foi a escolha de Sérgio Coelho (presidente) e José Murilo Procópio (vice) como candidatos da chapa única na eleição de dezembro. A meta em 2021 é manter a calmaria nos bastidores para que o time não seja afetado por eventuais desavenças. - Bruno Cantini/Atlético

À frente do Atlético, Rodrigo Caetano chega com a missão de conquistar títulos. O projeto da diretoria recém-empossada, que conta com altíssimo investimento financeiro de patrocinadores, passa diretamente pela recondução do clube alvinegro aos principais troféus em disputa nos cenários brasileiro e sul-americano.

Até fevereiro, o Atlético concentra todas as atenções no Campeonato Brasileiro. Se realmente assumir o posto, Caetano precisará gerir elenco e comissão técnica, além de já pensar no planejamento para a próxima temporada - que tende a ser mais desafiadora. Afinal, a equipe provavelmente estará de volta à Copa Libertadores.

A busca por reforços será uma constante no trabalho de Rodrigo Caetano. Por aí passa a relação com o temperamental Jorge Sampaoli, que é incansável na pedida por novas contratações.



Nesse processo, o dirigente terá, ainda, que se relacionar com o presidente Sérgio Coelho, o vice José Murilo Procópio e o chamado “grupo dos quatro R’s”, formado por empresários que participam da administração do clube: Ricardo Guimarães, Renato Salvador, Rubens Menin e Rafael Menin.