Divulgados em redes sociais, trechos de um relatório elaborado pela empresa de auditoria Kroll citam o presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, e o vice Lásaro Cândido da Cunha. Antes de assumirem os cargos que atualmente ocupam, os advogados prestaram serviços remunerados à instituição. Em entrevista exclusiva ao Superesportes (leia as respostas completas ao fim desta reportagem), o mandatário confirmou ter sido compensado financeiramente em função de contratos firmados entre o clube e o escritório de advocacia que administra.
“É verdade. Foram sete anos prestando serviços para o clube. O contrato teve variações. Eu lembro que teve uma época em que ele era de R$ 45 mil, depois ele passou para R$ 60 mil. É só você multiplicar pelo número de anos e você vai concluir que o valor que eu recebi é mais do que compatível com o tempo todo de serviço. Eu tenho todas as notas (fiscais), todos os contratos e o relatório de todos os processos que eu advoguei para o clube”, disse.
Segundo trecho dos documentos vazados, a Sette Câmara Advogados recebeu do Atlético R$ 2.996.654,33 em três contratos firmados entre agosto de 2010 e dezembro de 2017. O período engloba o mandato do dirigente na vice-presidência do Conselho Deliberativo alvinegro (2016-2017). A prestação de serviços foi encerrada em 2018, quando o advogado assumiu oficialmente a presidência.
“Esse negócio que vazou aí eu não sei de onde saiu, não tenho a menor ideia. Mas tenho absoluta certeza de que não fui eu e nem (ninguém) do Atlético. É uma coisa que eu não tenho realmente essa informação para dar. O que eu posso dizer da minha parte é que é verdade que nós recebemos esse valor e que foi em decorrência dos serviços prestados ao clube durante acho que mais de sete anos. Se você dividir, vai dar uma média aí de R$ 30 mil? Não vai ser bem assim porque ele já foi menor, já foi maior... Dependia da quantidade de processos”, garantiu Sette Câmara, que destacou: “Eu não vou fazer nenhum comentário sobre as auditorias a não ser sobre a parte que me toca.”
Segundo trecho dos documentos vazados, a Sette Câmara Advogados recebeu do Atlético R$ 2.996.654,33 em três contratos firmados entre agosto de 2010 e dezembro de 2017. O período engloba o mandato do dirigente na vice-presidência do Conselho Deliberativo alvinegro (2016-2017). A prestação de serviços foi encerrada em 2018, quando o advogado assumiu oficialmente a presidência.
“Esse negócio que vazou aí eu não sei de onde saiu, não tenho a menor ideia. Mas tenho absoluta certeza de que não fui eu e nem (ninguém) do Atlético. É uma coisa que eu não tenho realmente essa informação para dar. O que eu posso dizer da minha parte é que é verdade que nós recebemos esse valor e que foi em decorrência dos serviços prestados ao clube durante acho que mais de sete anos. Se você dividir, vai dar uma média aí de R$ 30 mil? Não vai ser bem assim porque ele já foi menor, já foi maior... Dependia da quantidade de processos”, garantiu Sette Câmara, que destacou: “Eu não vou fazer nenhum comentário sobre as auditorias a não ser sobre a parte que me toca.”
Lásaro Cândido da Cunha
Vice-presidente do Atlético, Lásaro Cândido da Cunha foi mencionado em outro trecho do relatório vazado. De acordo com o documento, a empresa do dirigente (Lásaro Advogados) recebeu R$ 495.528,00 do clube em referência a um contrato válido entre 4 de outubro de 2016 e 11 de agosto de 2017.
Lásaro se pronunciou publicamente sobre o vazamento, em postagem no Twitter na noite dessa quarta. "Tive notícia há pouco que parte de um relatório atribuído à Kroll, que insinua que recebi remuneração do Atlético, eventualmente sem contrato. Isso é tudo falso. Não sei se esse trecho que está sendo divulgado em grupos (de aplicativo de mensagem) é verdadeiro, porque não tive acesso ao relatório da Kroll, só a presidência (teve)”, inicia.
De saída do Atlético em dezembro - quando acaba o mandato atual -, Lásaro ocupou diferentes cargos na administração alvinegra. Entre 2012 e 2014, foi diretor jurídico - cargo que acumula com a vice-presidência desde o início da gestão Sette Câmara. Em 1º de setembro de 2016, foi registrado pelo clube como ‘assessor de diretoria’, mas não recebeu, de acordo com os documentos, pagamentos por meio do regime CLT.
“Essa parte que é atribuída a mim é uma coisa lamentável, porque eu já publicizei várias vezes que, nesses 12 anos (de clube), fui remunerado durante um ano e sete meses no Atlético. Fui remunerado, sim, tudo registrado, com contrato, nota fiscal, trabalho. E os outros dez anos e pouco, sem remuneração. Qual o problema que tem nisso? É zero problema. Tenho os contratos. Peguei cópia lá no Atlético. Os contratos estão registrados, sem problema algum”, prosseguiu.
“Outras questões do relatório - ao qual não tive acesso e, se tiver irregularidades, o clube toma as medidas -, eu acho quase uma sacanagem fazer isso. Divulgar e-mails, coisas pessoais. Vou, inclusive, interpelar a Kroll para saber como ela teve acesso aos meus e-mails particulares. Embora lá não tenha nada, mas é minha vida. As coisas não são assim. É lamentável isso. Estou finalizando o meu período de gestão agora em 2020, mas é realmente revoltante isso”, completou.
A Kroll
Diante do vazamento de informações confidenciais, a Kroll se posicionou por meio de uma nota oficial, divulgada no site do Atlético, e garantiu que as conclusões da auditoria foram enviadas exclusivamente para uso interno. “São subsídios para que o cliente busque sanar as vulnerabilidades identificadas, incluindo a falta de documentação para algumas transações”, lê-se (veja na íntegra ao fim da reportagem).
Leia a entrevista com Sérgio Sette Câmara
Superesportes: Ao longo desta quarta-feira, foram vazados trechos de um suposto documento da Kroll que aponta o pagamento de quase R$ 3 milhões ao seu escritório de advocacia. Houve esse pagamento? A que ele se refere?
Sérgio Sette Câmara: “É verdade. Foram sete anos prestando serviços para o clube. O contrato teve variações. Eu lembro que teve uma época em que ele era de de R$ 45 mil, depois ele passou para R$ 60 mil. É só você multiplicar pelo número de anos e você vai concluir que o valor que eu recebi é mais do que compatível com o tempo todo de serviço. Pode parecer grande quando você vê o número isoladamente, mas se você for pensar, por exemplo, que o valor... O último valor... Antes de eu assumir o Atlético, eu devolvi o contrato. Até um advogado que era daqui (do escritório de Sette Câmara) saiu, montou um escritório e continuou tocando os processos, porque ele conhecia muito os processos.
Eu tenho todas as notas (fiscais), todos os contratos e o relatório de todos os processos que eu advoguei para o clube. Esse negócio que vazou aí eu não sei de onde saiu, não tenho a menor ideia. Mas tenho absoluta certeza de que não fui eu e nem do Atlético. É uma coisa que eu não tenho realmente essa informação para dar. O que eu posso dizer da minha parte é que é verdade que nós recebemos esse valor e que foi em decorrência dos serviços prestados ao clube durante acho que mais de sete anos. Se você dividir, vai dar uma média aí de R$ 30 mil? Não vai ser bem assim porque ele já foi menor, já foi maior... Dependia da quantidade de processos.
Tenho todos os contratos, todas as notas fiscais e todos os relatórios dos processos, muitos deles de alta complexidade e que reduziram muito o prejuízo que o clube teria se não fosse a nossa atuação.
O que o relatório faz? O relatório não faz juízo de valor, ele não fala assim: ‘Ah, o cara recebeu sem comprovação’. Não. Ele fala: ‘Isso daqui o cara recebeu durante esse período, ele tinha os contratos tais, tais, tais e tais’. O que você faz? Você verifica se aquilo ali... Por isso se chama auditoria. Ele é, como posso dizer, cartesiano. Ele não faz juízo de valor: ‘Ah, não, esse daqui é o Sérgio e não vou escrever nada. Ah, esse daqui é o João Vítor e também não vou escrever nada’. Não. Ele faz de todo mundo. Todos os pagamentos que o clube fez, até para um motoboy fazer um serviço de gráfica, está tudo lá. O que você faz internamente é, ao ver a auditoria, o batimento, a comparação, do que está na auditoria e o que você tem dentro da sua contabilidade. Não quer dizer que porque a pessoa está no relatório que ela tenha cometido algum ilícito ou que esteja irregular. Aliás, eu diria a você que 95% daquilo que está no relatório não tem absolutamente nenhuma irregularidade. Absolutamente nenhuma”.
Superesportes: No vazamento também há trechos sobre outros dirigentes e ex-dirigentes. O documento é autêntico? O que o senhor tem a dizer?
“Não vou falar do relatório. O relatório é confidencial. Veja bem... Eu não vazei o relatório. Não foi de mim que saiu isso daí. Acho que esse vazamento, inclusive, é grave. Cabe até a quem quer que seja que se sentiu de alguma maneira prejudicado tomar alguma medida se acha que tem alguma inverdade ali, até porque também se pedir providência demais vai acabar parecendo que é (risos)... Eu não vou fazer nenhum comentário sobre as auditorias a não ser sobre a parte que me toca. A parte que me toca eu já te respondi. Eu prestei serviço por muitos e muitos anos ao clube e recebi os valores pela prestação do serviço. O Clube Atlético Mineiro, como qualquer outra entidade - incluindo o seu jornal -, tem que ter escritório de advocacia para poder fazer a defesa dos interesses da instituição. Então, o clube me contratou. Meu escritório é um escritório renomado e, como tal, confiava em mim. Eu advoguei durante muitos anos para o clube. Não tem problema nenhum. Como advogo para a MRV, para o Bradesco, para a Tim, para a Claro e para tantas outras empresas de porte. Então, houve uma prestação de serviço à altura e num valor extremamente compatível com os preços praticados no mercado, que qualquer outro escritório faria. Não tenho absolutamente nada de irregular. O que tem é isso: tenho os contratos, as notas e o relatório dos processos".
Superesportes: Como funciona o processo de investigação do clube nos casos de supostas irregularidades?
Sérgio Sette Câmara: "Você recebe a auditoria... É uma espécie de uma análise de tudo o que efetivamente aconteceu nesse período. Aí você vai na sua contabilidade e verifica se de fato existe o lastro contratual e documental, nota fiscal. Existe? Existe. Então isso está ‘OK’. Apaga. Está OK. Isso daqui fechou. Então, você vai reduzindo aquelas questões chamadas de ‘dúbias’ ou chamadas de ‘irregulares’. E aí, quando chega lá no finalzinho, em que você tem lá o percentual que você não conseguiu encontrar a relação de causa com o pagamento, o que você faz? Você vai atrás das pessoas que estão envolvidas, notifica para que elas, então, esclareçam. Entendeu?
A questão do escritório está aqui. Estou à disposição. Qualquer pessoa que vier pedir uma prestação de contas, estou aqui apto a pegar e entregar. Está tudo relacionado: contratos, relação de processos... Vou falar que é uma pilha de mais ou menos 30 centímetros para mais de relatórios e processos. Tem processo de tudo quanto é jeito, tem processo grande, tem processo pequeno, tem processo médio.
Por exemplo, nós temos lá um escritório trabalhista. O advogado que cuida da parte trabalhista é outro escritório. Ele recebe, sei lá, R$ 30 mil por mês. É mais ou menos isso. Acho que o contrato é de R$ 30 mil ou R$ 40 mil, não sei. Quando você multiplica isso por 12 dá R$ 360 mil. Se multiplicar isso por dez anos dá R$ 3,6 milhão. É simples assim.
Quanto você ganha? Eu não quero que você fale. Pegue o seu salário, multiplique por 12 e depois multiplique pelo tempo que você está aí no jornal. Aí você vai ver que o valor toma um contorno maior. Mas é só isso. O que é preocupante é quando você não encontra um determinado apontamento da auditoria relacionado a um pagamento ou uma prestação de serviços inexistente. Aí é que a gente vai efetivamente tomar providência. Mas isso é internamente, não é assim como está, senão vira uma festa, pegar o relatório da Kroll para ver e tal.
Eu mesmo gostaria de ter essa apuração para saber (quem vazou), porque eu posso chegar lá e falar com todas as letras e tranquilidade que eu sempre tive de encarar as pessoas, os fatos e os problemas: eu não fui e nem ninguém que eu tenha orientado a fazer isso.”
Nota da Kroll
A Kroll afirma que a investigação financeira realizada no Clube Atlético Mineiro teve como objetivo apontar irregularidades e vulnerabilidades, com base em documentos corporativos disponíveis na instituição.
Nossas conclusões, enviadas confidencial e exclusivamente para uso interno, são subsídios para que o cliente busque sanar as vulnerabilidades identificadas, incluindo a falta de documentação para algumas transações.
A Kroll é referência em investigação no segmento esportivo e lamenta a divulgação de informações sigilosas, fora do contexto do trabalho realizado.
Nossas conclusões, enviadas confidencial e exclusivamente para uso interno, são subsídios para que o cliente busque sanar as vulnerabilidades identificadas, incluindo a falta de documentação para algumas transações.
A Kroll é referência em investigação no segmento esportivo e lamenta a divulgação de informações sigilosas, fora do contexto do trabalho realizado.