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Aliados de Sette Câmara, patrocinadores do Atlético doam valor milionário a rivais de Kalil na eleição em BH

Movimentações financeiras na política municipal escancaram divergências no ambiente do clube, que tem eleição agendada para dezembro

postado em 28/10/2020 17:10 / atualizado em 28/10/2020 17:17

(Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Por alguns alguns anos, o ambiente político do Atlético - que se acostumou a ser dos mais agitados do futebol brasileiro - viveu tempos de serenidade. Centralizado pela figura do ex-presidente e atual prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), o Conselho Deliberativo se mostrou unido nas pautas de maior relevância, como as eleições e a votação pela venda de parte do shopping Diamond Mall, efetuada com o objetivo de conseguir recursos para a construção da sonhada Arena MRV. Os últimos meses, porém, foram de fortes divergências no grupo que se fortaleceu a partir de 2008. E os reflexos do racha político ultrapassam a sede alvinegra e alcançam a disputa eleitoral pela prefeitura da capital mineira.

Atual mandatário alvinegro, Sérgio Sette Câmara não esconde mais a insatisfação com ex-aliado Kalil, que o ajudou a se eleger em 2017 para o mandato que acaba em dezembro. O presidente tem ao seu lado os empresários Rubens Menin, Rafael Menin e Ricardo Guimarães - principais mecenas do clube ao lado de Renato Salvador.

(Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Apesar de ainda ser nome forte entre os conselheiros, o prefeito de BH se afastou do clube nos últimos meses e viu alguns desses patrocinadores atleticanos financiarem candidatos da oposição na corrida pela PBH com doações que totalizam R$ 1,1 milhão.

Quem bancou a maior parte desse valor foi Ricardo Guimarães, ex-presidente do clube alvinegro e dono do Banco bmg - que estampa logo no espaço mais nobre da camisa de jogo alvinegra.

Aliado de Sérgio Sette Câmara e rival histórico de Kalil, o empresário investiu R$ 600 mil em doações a três candidatos diferentes: R$ 300 mil para o bolsonarista Bruno Engler (PRTB); R$ 200 mil para o presidente licenciado da Câmara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL-BH), Marcelo Souza e Silva (Patriota); e R$ 100 mil para o deputado federal Lafayette Andrada (Republicanos), que utiliza o fato de torcer para o Cruzeiro, arquirrival do Atlético, como sustentação para a campanha.

Os outros R$ 500 mil saíram da conta de Rafael Menin, vice-presidente do Conselho Deliberativo atleticano e presidente da MRV Engenharia. Filho de Rubens, o empresário contribui diariamente com a gestão de Sette Câmara, tanto com aportes financeiros, quanto com opiniões em decisões administrativas.

O valor foi direcionado integralmente à campanha do jornalista João Vítor Xavier (Cidadania), crítico ferrenho de Kalil e principal adversário na busca do prefeito pela reeleição. Segundo pesquisa divulgada nesse sábado pelo Instituto Paraná, o ex-mandatário do Atlético tem 59,5% das intenções de voto, ante 8% do radialista. Áurea Carolina (Psol) aparece na terceira colocação, com 4,6%.

O que dizem os envolvidos?


Após sofrer com críticas da torcida em função dos maus desempenhos do time em 2018 e 2019, Sérgio Sette Câmara vive o momento de maior aprovação desde que assumiu o Atlético, apesar do embate com Kalil. Há um ano e meio, como publicou o Superesportes, o atual mandatário já havia confidenciado a amigos que tinha a intenção de se candidatar à reeleição em dezembro deste ano.

O desejo se fortaleceu em 2020, quando o presidente estreitou a relação com os quatro empresários mais influentes no clube (Guimarães, Renato Salvador e os Menin) para aumentar o investimento e, com isso, melhorar o time. A candidatura, porém, depende justamente do aval dessas figuras proeminentes na política atleticana. Por um tempo, houve a intenção de encontrar uma alternativa de convergência, que selasse a paz no clube, mas o cenário segue indefinido a pouco mais de um mês do pleito.

Depois de negar por um tempo qualquer tipo de rivalidade com Kalil, o presidente Sérgio Sette Câmara deixou as divergências ainda mais evidentes ao fazer críticas públicas à gestão da prefeitura de BH por dois motivos: as contrapartidas exigidas para a construção da Arena MRV e a cobrança retroativa de R$ 40 mil no IPTU da sede do clube. Ao longo desta quarta-feira, o vazamento de documentos produzidos pela empresa de auditoria Kroll voltou a esquentar a disputa política interna.

(Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

A reportagem conversou com o mandatário alvinegro sobre os reflexos dos bastidores do Atlético na eleição municipal. “Isso eu respondo com a maior tranquilidade. Eu detesto política, não me envolvo com política, nunca serei político e não quero saber desse papo”, disse. Procurada, a assessoria de comunicação do prefeito informou que ele não se pronunciará sobre o tema.

Responsável por mais da metade do R$ 1,1 milhão doado a adversários políticos de Kalil na eleição, Ricardo Guimarães se posicionou por meio de nota: “Ricardo Annes Guimarães esclarece que as doações por ele realizadas para campanha eleitoral de 2020 têm caráter estritamente pessoal, não encontrando qualquer vínculo com a política no Clube Atlético Mineiro ou indicando qualquer relação com cargo por ele desempenhado no Grupo Bmg”.

Rafael Menin, que, além de ter investido R$ 500 mil na campanha de João Vítor Xavier, já declarou publicamente apoio ao candidato, preferiu não falar sobre o tema.

Os candidatos


O meio milhão doado por Rafael Menin corresponde a quase 29% do total investido na campanha de João Vítor Xavier, que tem feito seguidas críticas à administração de Kalil na PBH. Em entrevista ao Superesportes, o jornalista disse ser amigo do ‘mecenas’ atleticano, rechaçou a possibilidade de o racha no clube ter motivado a doação de R$ 500 mil e cogitou que o prefeito possa ter se utilizado da máquina pública para interferir na eleição presidencial que se aproxima.

“O Rafael é meu amigo pessoal, uma pessoa que gosto muito. Nós precisamos entender o contrário. Não é se o Rafael Menin está me apoiando por causa do Atlético. Nós temos que entender é se o prefeito de Belo Horizonte está usando a máquina da prefeitura para os interesses dele políticos no Atlético”, declarou.

Candidato da extrema direita nas eleições municipais, Bruno Engler não tem a prestação de contas detalhada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Porém, a reportagem apurou o recebimento dos R$ 300 mil provenientes de Ricardo Guimarães - valor confirmado posteriormente pelo candidato.

“Foi extremamente importante para que pudéssemos estruturar. Não sei o que motivou o Ricardo a fazer essa doação. Estive com ele e o agradeci muito, ele se mostrou insatisfeito com a gestão de Kalil na prefeitura, demonstrou vontade de mudança e acredita que nossa campanha pode representar isso. Não cabe a mim questionar a motivação dele, se foi pelo Galo ou por outro motivo”, disse, em entrevista ao Estado de Minas.

Marcelo Souza e Silva frisou que não possui relação formal com nenhum clube de futebol. O candidato relatou ter procurado uma série de empresários em busca de apoio financeiro para a eleição, entre eles Ricardo Guimarães, que efetuou a doação de R$ 200 mil.

“Eu não tenho ligação nenhuma com o Atlético ou o Cruzeiro. Tenho relação profissional (com Ricardo Guimarães), de eu, como liderança de entidade empresarial, e ele como grande empresário. Eu preciso disso (doação), a campanha precisa receber recursos, é legítimo, é legal, não tem ilegalidade nenhuma nisso”, disse.

Outro crítico ferrenho de Kalil, o deputado Lafayette Andrada, que recebeu R$ 100 mil de Guimarães, curiosamente tem como um dos motes de campanha o fato de torcer para o Cruzeiro. Em propagandas difundidas na internet, o político posa ao lado de integrantes de torcidas organizadas e fala em agir para fortalecer o clube celeste nos bastidores.

“Quando a ajuda vem em benefício do bem e a fonte é honesta, nós aceitamos. Trata-se de doação legal, cuja aplicação é a busca de uma Belo Horizonte melhor. BH não é do Cruzeiro ou do Atlético, BH é do povo belo-horizontino e a camisa que nós vestimos no dia a dia é a da cidadania. Por outro lado, parece que o Kalil tem oposição até mesmo dentro do Atlético”, afirmou.

Pleito indefinido


(Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Se nas eleições municipais tudo indica que Kalil se reelegerá - com possibilidade de consegui-lo ainda no primeiro turno -, no pleito atleticano tudo segue indefinido. Nos últimos meses, vários nomes foram cogitados pelas lideranças do clube como possíveis candidatos.

O ex-vice-presidente de futebol Sérgio Batista Coelho é uma das possibilidades aventadas pelo grupo que atualmente comanda o Atlético como alternativa a Sette Câmara. Durante um tempo, o presidente do Conselho Deliberativo, Castellar Modesto Guimarães Filho, ganhou força como possível candidato do prefeito de BH.

No âmbito municipal, as disputas têm data limite para, ao menos, serem amenizadas: 29 de novembro, quando será realizado, se necessário, o segundo turno. O primeiro está marcado para o próximo dia 15. No Atlético, porém, o clima de tensão tende a se estender até a primeira quinzena de dezembro, quando os conselheiros elegerão o presidente para o triênio 2021-2023.

Colaborou Guilherme Peixoto/Estado de Minas

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