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Atlético rebate acusação e diz que representante de Ricardo Oliveira pediu para diretoria não 'incomodar' o jogador

Ao comentar saída conturbada do clube, centroavante cobrou 'dignidade' do presidente Sérgio Sette Câmara e do diretor de futebol Alexandre Mattos

postado em 25/09/2020 15:45 / atualizado em 25/09/2020 16:17

(Foto: Bruno Cantini/Atlético)

Por meio da assessoria de comunicação, o departamento de futebol do Atlético rebateu uma declaração em que o centroavante Ricardo Oliveira critica a postura do presidente Sérgio Sette Câmara e do diretor de futebol Alexandre Mattos. O jogador de 40 anos disse que os dirigentes não o procuraram diretamente para comunicar a dispensa do clube, em maio, e cobrou 'dignidade' da dupla.

Segundo o departamento de futebol do Atlético, "tudo foi comunicado ao representante e advogado dele". Na nota, o clube ainda afirma que um dos dois "inclusive disse que não precisava incomodar o atleta, que estava na fazenda".

Nesta sexta-feira, Ricardo Oliveira quebrou o silêncio e, após quase cinco meses, finalmente falou sobre a conturbada saída do clube alvinegro. Ele foi incluído numa lista de dispensa produzida pela diretoria e o técnico Jorge Sampaoli. O atacante eximiu o treinador de culpa e responsabilizou Sette Câmara e Mattos pela condução conflituosa do caso.

“Como assinamos um contrato e eu, sabedor dos meus direitos, não tive nenhum profissional do clube à minha disposição, muito menos a dignidade do diretor de futebol e até mesmo do presidente, para me ligar, de homem para homem, e falar assim: ‘O Ricardo, o treinador ou nós da diretoria não contamos com você. Vamos buscar uma saída, o que for melhor para você e para o clube. Mas você sabe como é o futebol, o treinador não quer, nós não queremos, vamos fazer uma reformulação no elenco’. Enfim, falar alguma coisa. Mas ninguém fez isso comigo”, disse ao SporTV.

Diante desse cenário, o atacante acionou o clube alvinegro na Justiça do Trabalho, em ação para cobrar valores atrasados (no total de R$ 3.737.450,00) e pedir a rescisão contratual (conseguida por meio de liminar).

Ricardo Oliveira foi contratado pelo Atlético no fim de 2017, após três anos defendendo o Santos. Pelo clube mineiro, marcou 37 gols em 110 jogos e participou da campanha do título estadual desta temporada. Atualmente, não tem contrato com nenhuma equipe.

Leia a declaração de Ricardo Oliveira na íntegra

"O futebol é muito dinâmico. A gente sabe que, no mundo do futebol, as coisas são muito rápidas. Quando o Sampaoli chegou, eu treinava normalmente com ele, ele estava avaliando o elenco. Eu fazia os treinamentos que eram aplicados. Eu acabei sendo o escolhido para ser titular, fiz os treinos que ele passou. O relacionamento com ele nunca foi muito próximo, porque ele tem esse perfil, dá o treino e acabou. Não é um cara que se aproxima muito do atleta, conversa bastante. Pelo menos foi assim no tempo que fiquei com ele. Nós fizemos o primeiro jogo juntos e, logo depois, veio a pandemia. 
 
Depois, por intermédio do nosso grupo, a gente foi recebendo informações de datas possíveis de reapresentação, eu fui surpreendido com a comunicação de que eu não deveria me reapresentar. Quando você não está nos planos do treinador, isso faz parte do futebol, tenho 20 anos de carreira profissional e sei que é assim. Mas a forma que eu fui tratado né. A gente tem diretor de futebol, presidente, que poderia ligar para mim diretamente, não sou nenhum garoto, nenhum menino, sou um cara realizado, com 20 anos de profissional, cara de sucesso, sempre fui muito querido por todos por onde eu passei, isso é uma marca que carrego comigo, de um cara sério, de trabalho, de grupo, que se doa, que trabalha, que é exemplo. Eu não recebi uma ligação do diretor de futebol, não recebi uma ligação do presidente para falar assim: ‘Ricardo, nós não contamos com você e não queremos que você se reapresente’. Não recebi nenhuma ligação. Fizeram contato com meu advogado, dizendo assim: ‘Olha, o Ricardo não está nos planos do treinador e vamos buscar uma saída’. Até aí tudo bem, não vejo problema nenhum. Mas, me proibir de treinar, foi o que mais me chateou. Até porque eu não fiz nada, não dei motivo nenhum para ser excluído assim desse jeito. Não usar as instalações do clube para fazer os treinamentos… meu contrato me dá esse direito, de ter um profissional do clube para me dar um treino físico, mesmo que tivesse que treinar em um horário diferente dos meus companheiros. Mas como assinamos um contrato e eu, sabedor dos meus direitos, não tive nenhum profissional do clube à minha disposição, muito menos a dignidade do diretor de futebol e até mesmo do presidente, para me ligar, de homem para homem, e falar assim: ‘O Ricardo, o treinador ou nós da diretoria não contamos com você. Vamos buscar uma saída, o que for melhor para você e para o clube. Mas você sabe como é o futebol, o treinador não quer, nós não queremos, vamos fazer uma reformulação no elenco’. Enfim, falar alguma coisa. Mas ninguém fez isso comigo. 
 
Como se não bastasse, eu fui excluído do grupo de WhatsApp do time, ninguém me deu nenhum respaldo nesse sentido para eu fazer meus treinamentos, ninguém me ligou neste período todo. A informação que chegava para mim era: ‘Você fica aí treinando, fazendo o que foi passado antes da pandemia, quando anunciamos que todo mundo ia para casa. Passamos um cronograma de treinamentos. Você continua fazendo esses treinamentos, você fica aí’. Ou seja, passaram um áudio, depois que todo mundo seria reapresentado, 23 jogadores se não me falha a memória, no dia 7 de maio a gente recebeu isso daí. No dia 11 se reapresentou. A orientação era para eu ficar em casa, treinando em casa, e aguardando uma segunda ordem. Essa segunda ordem nunca veio por parte de ninguém.

E aí, como se não bastasse isso, eu fui excluído da folha salarial. Os meus companheiros recebiam os seus vencimentos, e eu não recebia os meus. Fui cortado o direito de imagem, fui cortado a CLT. Ou seja, não recebi absolutamente nada. Então, eu me senti desrespeitado, porque eu sempre respeitei as pessoas e gosto de tratar olhando no olho. Quando eu era útil, eu me dediquei, dei o meu melhor, ajudei dentro do campo, ajudei fora do campo, fiz tudo o que estava ao meu alcance. A única coisa que eu gostaria era só ou uma ligação do presidente - como ele fez para mim muitas vezes - ou do diretor esportivo, para pelo menos falar comigo: ‘Olha, não contamos com você’. Ele não fez, não me ligou, não falou isso para mim, entendeu? E muito menos falou para mim que não era para eu não se reapresentar. Nesse sentido, eu fui esperando. Não tomei nenhuma decisão de cabeça quente. Fui fazendo o que o clube tinha me passado, fazendo os meus treinos em casa. Fazia questão de postar nas minhas redes sociais que eu estava cumprindo o que me foi passado, dando o meu melhor, me preparando, até que, infelizmente, eu não podia mais esperar e acabei correndo atrás dos meus direitos. Essa foi a real situação que aconteceu, e eu estou tendo a oportunidade aqui de falar com vocês sobre essa história toda. Para mim, é algo que me deixa muito decepcionado, porque eu acho que, não só comigo, mas com qualquer profissional, quando você tem um contrato assinado, principalmente quando você pega um profissional que, se você for puxar a minha carreira, tem um histórico vencedor, de exemplo, de um cara dedicado naquilo que faz, pelo menos ter um trato de homem para homem, de olhar no olho, respeitar o profissional. Acho que é isso. Eu não recebi. Esperei pacientemente para a gente chegar a um acordo. O que eles me propuseram estava totalmente longe daquilo que era o ideal. Eu não aceitei esse acordo. Por tudo o que aconteceu, acabei indo atrás dos meus direitos."

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