Cazares foi do início empolgante a um final melancólico no Atlético. Quando entrou em campo pela primeira vez com a camisa alvinegra, o armador conseguiu ofuscar o brilho da estreia de Robinho, em 2016. A torcida se empolgou e acreditou que nasceria ali uma relação de idolatria. Entretanto, a decepção não tardou. Sumiço sem motivo, festas e pouco empenho nos treinamentos minaram a confiança no jogador, que espera o contrato vencer para deixar o clube pelas portas dos fundos.
Em contato com o Superesportes, o agente André Cury disse que não recebeu novas propostas pelo jogador. "Não há nada. Se receber, entraremos em contato com o Atlético", resumiu. O Santos chegou a conversar com o Galo em agosto, mas as tratativas não evoluíram em função do alto salário do armador.
Com o técnico Jorge Sampaoli, Cazares não terá espaço. O argentino já deixou claro que não pretende contar com o equatoriano. O histórico e a percepção negativa nos primeiros contatos com o atleta foram suficientes para Sampaoli descartá-lo.
A diretoria do Galo também já jogou a tolha. Em contato, um dirigente do clube foi direto: "Este assunto (Cazares) nem falamos mais (com o Sampaoli)". O clube já admite que 'perderá' o atleta.
Em janeiro deste ano, o Galo rejeitou proposta de 3 milhões de dólares (R$ 12,7 milhões na cotação da época) do Al-Ain pelo meia. O clube queria mais. Em julho, o Al Ittihad Kalba, dos Emirados Árabes, fez uma oferta menor, mas que seduziu o Atlético. Desta vez, foi o atleta que não quis, já que recusou o salário oferecido.
O contrato de Cazares com o Atlético vence no fim da temporada, momento no qual ele deverá encerrar seu ciclo no Galo.
Início
Cazares estreou pelo Galo em fevereiro de 2016, em vitória por 1 a 0 sobre o Independiente del Valle, pela fase de grupos da Copa Libertadores. O meia mostrou muita habilidade e técnica, com dribles e passes certeiros. Ele foi substituído no segundo tempo para a entrada de Robinho, também debutante da noite. Como o equatoriano era o melhor em campo, a torcida vaiou fortemente o técnico Diego Aguirre.
Cazares encheu os olhos do torcedor na estreia pelo Atlético - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
A primeira temporada de Cazares pelo Atlético foi positiva, com dez gols em 40 jogos. Entretanto, em 2016, ele já pisava na bola. Em 13 outubro daquele ano, o armador era esperado em Belo Horizonte durante o período da manhã, depois de atuar pela Seleção do Equador. Contudo, ele simplesmente não embarcou no voo reservado pela diretoria e não deu notícias. Foi punido, mas voltou a se envolver em episódios controversos.
Em campo, Cazares chegou a fazer golaços, como o do empate em 1 a 1 com o Grêmio pelo segundo jogo da final da Copa do Brasil, em 2016. Ele arriscou de antes do meio-campo e surpreendeu o goleiro Marcelo Grohe. Por outro lado, em determinadas partidas parecia sonolento.
No ano passado, o armador chegou a dizer que se fosse mais regular jogaria no Real Madrid. "Se eu consigo manter 70 jogos do mesmo nível, estou no Real Madrid", disse Cazares, em coletiva de imprensa. O armador tem 203 jogos pelo Galo e 41 gols marcados. Ele é o estrangeiro com mais partidas e o segundo maior artilheiro, atrás apenas do argentino Lucas Pratto, com 42.
Críticas
Não faltam críticos ao modo de agir de Cazares. O técnico Levir Culpi comandou o atleta em 2019 e disparou contra ele, em entrevista após deixar o clube. "Ele é quem precisa resolver o que quer fazer. Se ele acha que é bom sair na zona e chegar bêbado para treinar, ele vai fazer isso. Agora, tem um preço. Tudo tem um preço", declarou Levir em entrevista ao jornalista Afonso Alberto, no YouTube.
O próprio presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, detonou Cazares em maio deste ano. “O Atlético investiu um dinheiro quando o trouxe do Banfield. O Jorge Marino (empresário) levou um percentual na negociação, o Cazares deve ter levado luvas na época, salário elevado, teve problemas aqui durante o período em que ele estava. Enfim, não preciso nem dizer. Ele vai para o jornal utilizando a camisa do clube com nossos patrocinadores por conta de mau comportamento, e isso denigre a imagem do Atlético. Isso tudo pesou na carreira do Cazares. E ele não se valorizou como poderia. É uma pena, nós conhecemos esta história e sabemos como vai terminar”, disse o mandatário alvinegro ao jornalista Afonso Alberto.
“Eu tenho o direito de tê-lo aqui até o último dia do contrato e, neste tempo, se aparecer alguma proposta iremos tentar negociar e repor aquilo que gastamos. Fez grandes partidas aqui? Sim, mas também fez péssimas. Teve um comportamento não condizente com um atleta de futebol e o salário que ele recebe. Eu lembro que conversei com um clube árabe que tinha interesse, e o dirigente me deu a ficha completa do Cazares. Hoje em dia, o cara entra no Google e fica sabendo de tudo. Se o jogador é um profissional exemplar ou se o extracampo é complicado. No caso do Cazares, o extracampo dele é, no mínimo, questionável”, completou o dirigente.
Polícia
Em 2019, o jogador foi acusado de estupro e lesão corporal por duas mulheres. A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu o inquérito e informou que não houve indícios suficientes de autoria ou mesmo materialidade para indiciamento do jogador. A decisão foi tomada após a polícia colher depoimento de diversos envolvidos.
Festa na quarentena
Neste ano, Cazares voltou a se envolver em polêmica. Desta vez, ele foi multado por promover uma festa em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte durante a pandemia de Covid-19. Ele foi multado em R$ 130 mil, já que, segundo a assessoria de imprensa do município, não era a primeira vez que Cazares foi autuado neste tipo de infração durante a pandemia.
Pelada durante a pandemia
Em maio deste ano, Cazares e Rómulo Otero, atualmente no Corinthians, foram flagrados jogando uma 'pelada' em Santa Luzia. Os jogadores, que estavam em quarentena por causa da pandemia do novo coronavírus, furaram o isolamento social. O Galo disse que orientou os jogadores a ficarem em casa.