Amigo de décadas e o 'oposto' de Sampaoli: conheça o auxiliar que comandará o Atlético contra o Bragantino
Jorge Desio, de 52 anos, acompanha o treinador alvinegro desde 1994 e tem perfil mais sereno. 'É valioso porque é um ponto de equilíbrio', diz jornalista
Basta observar Jorge Sampaoli por alguns minutos para constatar traços muito evidentes de sua personalidade: a inquietude, a agitação e a busca incessante por um modo muito específico de vencer. No banco de reservas, essas características aparecem em sobressalto - e, não raro, resultam em punições disciplinares. Até por isso, o argentino não poderá comandar o Atlético contra o Red Bull Bragantino.
Suspenso por ter recebido três cartões amarelos em oito jogos de Campeonato Brasileiro (número que não é superado por nenhum atleta do elenco), terá como substituto alguém que o conhece muito bem, mas com quem se parece pouco.
À primeira vista, as semelhanças entre Sampaoli, 60, e o amigo Jorge Desio, oito anos mais novo, saltam os olhos. Argentino, o auxiliar é careca e tem porte físico parecido ao do chefe. Mas as similitudes não vão muito além da nacionalidade, a aparência e, naturalmente, o amor pelo jogo ofensivo.
Desio é mais tranquilo, paciente e calmo, como conta o jornalista Pablo Paván, responsável por escrever No Escucho y Sigo, que narra a história do treinador alvinegro. “Sampaoli é mais intenso. Desio, profissionalmente, também é muito exigente, embora tenha caminhos mais pacíficos. Tenta se reconciliar com quem tem diferença. Sampaoli, por outro lado, é mais dominante em seu discurso e em sua posição”, disse, ao Superesportes.
O biografista mantém relação próxima com o treinador e o auxiliar. Desio e Sampaoli se conhecem há décadas e trabalham juntos desde 1994, quando o comandante atleticano iniciou a trajetória profissional no Alumni, de Casilda, na Argentina. De lá para cá, ficaram separados apenas durante a passagem do técnico pelo Juan Aurich, do Peru.
“A relação é de irmãos. Sampaoli e Desio são irmãos em vida, entre si e com Pablo Fernández (preparador físico do Atlético). Os três formam uma família desde meados dos anos 1990. Nunca se separaram, independentemente de poderem ou não coincidir em projetos profissionais. Eles têm uma amizade genuína”, relembra Paván.
‘Ponto de equilíbrio’
A relação talvez tenha se fortalecido justamente pelas diferenças das personalidades dos dois. Desio, muitas vezes, é o ponto de equilíbrio necessário para dosar a intensidade quase sempre acima da média de Sampaoli.
“Desio é valioso porque é um ponto de equilíbrio. É um profissional muito experiente, com comprovados conhecimentos em preparação física e tática técnica. Seu papel é o de planejamento e organização. Sempre esteve em todos os detalhes”, disse Paván.
“É uma pessoa muito gentil. Você atribui grande importância aos seus cuidados pessoais e à sua saúde, tanto física quanto mental. Uma pessoa equilibrada, com muito diálogo e bons modos com todos. Respeitoso e tolerante”, completou.
No Santos
As atitudes de Sampaoli à beira do gramado já o tiraram de partidas em outras ocasiões. Em 2019, foram quatro: uma por expulsão e três por acúmulo de cartões amarelos. Coube a Desio dirigir o Santos.
No banco de reservas, a postura foi completamente diferente da que tem o treinador. Os resultados, porém, foram excelentes. Nas quatro partidas, foram duas vitórias e dois empates, com nove gols marcados e só dois sofridos.
Atlético 0 x 0 Santos - Jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil (Sampaoli foi expulso na fase anterior)
Santos 6 x 1 Goiás - 13ª rodada Campeonato Brasileiro (Sampaoli estava suspenso por acúmulo de três cartões amarelos)
Fluminense 1 x 1 Santos - 21ª rodada do Campeonato Brasileiro (Sampaoli estava suspenso por acúmulo de três cartões amarelos)
Santos 2 x 0 Chapecoense - 36ª rodada do Campeonato Brasileiro (Sampaoli estava suspenso por acúmulo de três cartões amarelos)
Numa das ocasiões em que foi suspenso, Sampaoli demonstrou total confiança no amigo e no grupo de jogadores do Santos. “Ele (Desio) me acompanhou em toda a carreira. Não creio que (ficar fora do banco) seja determinante para o que se passa no campo. De qualquer maneira, será importante para os jogadores. Ele sabe as instruções, mas trabalhamos a semana toda para sabermos o que temos que fazer. No dia, são os jogadores”, disse.
Após a partida, Desio fez coro às declarações do xará. “Concordo com o que Jorge (Sampaoli) falou na sexta-feira que o treinador tem menos participação que os jogadores. Ele é o treinador, ele está autorizado a dar essas opiniões. Falando concretamente da partida, isto é a semana, o treinador é o Sampaoli. É ele quem prepara a partida. Não pôde estar presente nesta daqui, mas ficou claro que os jogadores respeitam o treinador e o que se treinou durante a semana. Eles executaram ao pé da letra o que foi planejado”, afirmou.
No domingo, caberá ao paciente Desio comandar pela primeira vez o Atlético. A equipe vai a campo contra o Red Bull Bragantino, às 18h, no Mineirão, pela 10ª rodada do Campeonato Brasileiro. Dos camarotes do estádio, Sampaoli estará de olho em tudo.