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Banco aponta 'má gestão' e diz que Atlético tem maior dívida do Brasil

Analistas do Itaú BBA avaliam que clube teve 'péssimo desempenho econômico' em 2019 e projetam o cenário financeiro de 2020 como uma 'incógnita'

Redação
Presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, no Mineirão - Foto: Alexandre Guzanshe/EM
Ponto central de desavenças políticas no Atlético, as finanças da temporada 2019 voltaram a ser criticadas por especialistas. Em relatório divulgado nesta terça-feira, analistas do Itaú BBA afirmam que o clube alvinegro tem a maior dívida do futebol brasileiro, apontam “má gestão do presente” e classificam caso como “grave”.


Veja a análise completa na galeria abaixo (se não aparecer para você, clique aqui para acessá-la):


Segundo o banco, a dívida total do Atlético passou de R$ 614 milhões em 2018 para R$ 746 milhões no ano seguinte, um aumento de R$ 132 milhões. O segundo colocado no “ranking” de maiores devedores é o Botafogo (R$ 708 milhões). Corinthians (R$ 652 milhões), Cruzeiro (R$ 631 milhões) e Vasco (R$ 567 milhões) fecham a lista dos cinco primeiros.

A reportagem entrou em contato com o presidente Sérgio Sette Câmara, às 16h46, e a assessoria de comunicação do Atlético, às 17h09. Às 23h55, o clube informou que não se posicionaria sobre o relatório publicado pelo Itaú BBA.

O estudo foi liderado pelo consultor de gestão e finanças do esporte Cesar Grafietti e contou com a colaboração do analista de crédito Pasquale Di Caterina. O Superesportes também publicou reportagens com avaliações específicas sobre América Cruzeiro.



Na avaliação, os analistas pontuam que “nem todas as dívidas são ruins”. “Há aquelas que servem ao investimento em formação de patrimônio, ou as que financiam aquisições de atletas. O problema é quando a dívida serve a cobrir buracos eternos de má gestão ou tem perfil de vencimento que sufoca o fluxo de caixa do clube. Logo, boa dívida é aquele que tem propósito justo e prazo adequado”, frisam.

Porém, o estudo não exime o Atlético de culpa. Muito pelo contrário: para os analistas, o clube vive situação “grave” e demoraria mais de uma década para sanar as dívidas se hipoteticamente reverterem 20% das receitas para esta finalidade.

“Os casos realmente graves são os do Botafogo, Atlético, Vasco e Cruzeiro, que levariam mais de 11 anos para pagar suas dívidas caso utilizassem 20% das receitas para isso. Mas como o exercício não considera custos financeiros, isso significa que o prazo certamente seria pelo menos três ou quatro anos acima disso. A solução vem através de aporte de recursos, seja virando empresa, seja vendendo ativos (sedes sociais e atletas), controlando gastos e investimentos. Ou o processo levará a um estrangulamento em algum momento”, lê-se na análise.



‘Má gestão’


Sede administrativa do Atlético, no bairro de Lourdes, Centro-Sul de BH - Foto: Bruno Cantini/Atlético

Os especialistas incluíram o Atlético como exemplo de “má gestão do presente”, ao lado de outros quatro clubes. “A força da gestão ocupa espaço de clubes que já não suportam o peso da dos erros do passado - como Vasco, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro – nem da má gestão do presente – casos de Corinthians, São Paulo, Internacional, Atlético, Santos – que a cada ano cavam um pouco mais a vala que se forma no círculo vicioso dos gastos excessivos, das dívidas que se acumulam e não são pagas. Dívidas que são efeito das más gestões e não causa delas”, pontuaram.

Na avaliação, o banco lista três fatores que “não funcionaram” em 2019 para o Atlético (custos cresceram acima das receitas; aumento das dívidas; investimentos acima das possibilidades) e um que “funcionou” (crescimento de receitas).

Bancos


Recorrer a empréstimos bancários está entre as alternativas encontradas pelo Atlético para tentar manter as contas em dia. A saída, porém, não é vista com bons olhos pelos analistas. “Entre os clubes que optaram por buscar ajuda em bancos estão muitos dos que tiveram péssimo desempenho econômico em 2019 (São Paulo, Atlético e Corinthians) ou possuem situação já bastante debilitada (Vasco e Santos)”, escreveram.



Futuro?


O banco também apontou uma possibilidade para o Atlético reduzir significativamente a dívida: vender os 49,9% a que tem direito do Diamond Mall, shopping center localizado no bairro de Lourdes, Centro-Sul de Belo Horizonte. No começo deste ano, a comercialização dos outros 50,1% por R$ 296,8 milhões com a empresa Multiplan foi oficializada. O clube receberá o valor em parcelas divididas em três anos e o aplicará na construção da Arena MRV.

“Se fizer a venda do restante do shopping pelo mesmo valor, poderia reduzir a dívida a níveis mais razoáveis, mas ainda altos (214% das receitas recorrentes se considerarmos a dívida total e 84% de considerarmos apenas as onerosas e operacionais)”, salientaram os especialistas.

A curto prazo, a análise aponta incertezas. “Uma grande incógnita o Atlético de 2020”, escreveram. “O ideal nesses casos é que o patrocinador entre, aporte recursos para garantir a operação do clube, organização corporativa e assim os impactos financeiros positivos chegam no médio/longo prazo. Há caminhos mais seguros para o futuro. O Atlético parece ter escolhido um cheio de riscos, guiando olhando o retrovisor”, concluíram.