A montagem de um time competitivo e a construção do estádio particular, a Arena MRV, não são suficientes para garantir paz política ao Atlético. Com eleições marcadas para dezembro, o clube viu se acentuar esta semana a divisão entre o presidente executivo Sérgio Sette Câmara e o presidente do Conselho Deliberativo, Castellar Modesto Guimarães Filho. Tudo indica que os dois vão se enfrentar no pleito do fim de 2020. Não bastassem divergências quanto à data mais adequada para a votação do balanço financeiro de 2019 (julho ou agosto), Sérgio e Castellar agora também trocam acusações.
O racha entre os chefes dos dois poderes do Atlético não é recente. Mas, na quinta-feira, ele se acirrou. Tudo porque o vice-presidente do Conselho, Rafael Menin, muito ligado à gestão de Sette Câmara, tomou a iniciativa de convocar os conselheiros para votar o balanço da temporada passada no dia 31 de julho.
Em função da pandemia, Castellar se mostrou contrário. Ao tomar conhecimento do documento feito por Menin, o presidente do Conselho enviou um novo ofício tratando a convocação como “apressada e equivocada”.
No mesmo ofício, Castellar se resguardou o direito de alterar a data e a forma da reunião. A resposta imediata do presidente do Conselho gerou uma reação dura de Sette Câmara. O presidente executivo quer a votação em 31 de julho, pois teme que a apreciação em agosto leve o Atlético a ser excluído do Profut.
Quer privilégios
Para Sérgio Sette Câmara, Castellar Guimarães Filho tentou postergar a votação para prejudicar sua gestão e colocar o Atlético em risco. “Com absoluta certeza ele fez isso para prejudicar a minha gestão pouco importando se isso também prejudicaria o clube. Ele foi extremamente irresponsável”.
O presidente executivo disse ainda que Castellar não agrega nada e só está no Atlético para ter privilégios, como viagens e ingressos. “Eu acredito que ele deveria, no mínimo, depois de todo esse desgaste, repensar a condição dele dentro do clube, já que ele nunca deu nada assim de importante, nunca se dedicou ao clube, ele só se aproximou do clube para poder estar ali tendo privilégios de camarote, viagens e etc. Porque, de fato, eu não me lembro de uma coisa prática que ele pode ter nos ajudado. Então, ele é uma pessoa que, diferentemente do Rafael Menin (vice do Conselho), não vai fazer diferença nenhuma se ele permanecer no clube ou não”.
Ausente do clube, presente na PBH
Sette Câmara ainda acusou Castellar Modesto Guimarães Filho de ‘sumir’ do Atlético durante o período da pandemia do novo coronavírus. Por outro lado, o possível concorrente nas eleições estaria atuante em reuniões na Prefeitura de Belo Horizonte, onde é procurador-geral, indicado pelo prefeito Alexandre Kalil.
“Eu tenho a impressão que ele não passa na porta do Atlético deve ter mais ou menos uns quatro meses. Ele nunca mais voltou na sede, nunca mais passou no CT e não é dizer que o problema é do coronavírus, porque eu tenho notícia que ele andou participando de algumas reuniões presenciais na prefeitura”, disse.
“Ele está no clube para poder fazer política, e o Atlético não se presta a isso. Eu não estou aqui para fazer política e eu não vou aceitar, nem a grande maioria dos conselheiros que são sérios, vão aceitar que alguém prejudique o Atlético, prejudique a torcida por conta de benefício próprio para que ele possa, de alguma maneira, beneficiar de algum problema que o clube possa vir a ter e se lançar candidato. Isso não é correto, isso não é a forma, isso é coisa de gente que não é atleticano”, disparou Sérgio Sette Câmara contra Castellar.
Castellar também sobe o tom
Procurado pelo Superesportes, Castellar Modesto Guimarães Filho se defendeu das acusações de que está no Atlético para tirar vantagens. “Acompanhar o time, eventualmente, em viagens e receber ingressos é algo comum em qualquer clube. É uma cortesia. Viajei algumas vezes, ele também. Isso é normal”.
Em seguida, Castellar contra-atacou: “Só há uma grande diferença entre nós dois: ao longo de todos esses anos, sempre prestei serviços de forma gratuita. Nunca recebi um centavo do clube. Meu escritório nunca recebeu um real. Já ele foi muitos anos remunerado pela prestação de serviços. Deixou de ser remunerado poucos meses antes da sua eleição, quando, em sua substituição, contratou-se um ex-associado que passara a advogar, naquela mesma época, de forma unipessoal. Eu não teria coragem de cobrar um centavo do clube, mas isso é de cada um. Talvez ele possa aproveitar a auditoria que está fazendo para levantar todas as notas fiscais que já apresentou. Seria muito transparente”.
Ironiza falta de títulos
Castellar Guimarães disse admirar Rafael Menin, vice-presidente do Conselho, e atribui a ele e ao pai, Rubens Menin, presidente da MRV e parceiro do Atlético, decisões acertadas tomadas recentemente na gestão de Sette Câmara.
“No tocante ao Rafael, repito o que já disse anteriormente: tanto ele, quanto o pai, Rubens, têm feito um trabalho abnegado, competente e voluntário em prol do Atlético. São mesmo figuras fundamentais ao clube. Com eles, de fato, não busco me comparar e admiro profundamente. E fico feliz com o fato de que hoje conduzem as principais decisões. Tomara que ajudem essa gestão a faturar o seu primeiro título”, ironizou.
Isolamento social
Já em relação ao seu afastamento do clube, Castellar se posicionou: “De fato me encontro, nos últimos meses, em isolamento social. É o recomendado na minha idade. E, tal como eu, temos muitos conselheiros na mesma situação. Essa foi, como disse, a razão pela qual defendi a realização posterior da reunião (para votação do balanço financeiro de 2019)”, concluiu o presidente do Conselho.
Castellar Guimarães Filho é pai de Castellar Guimarães Neto, ex-presidente da Federação Mineira de Futebol, atual vice-presidente da CBF e integrante do Comitê ‘Players Status’, da Fifa.