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Sette Câmara repete que Atlético não vai 'cruzeirar': 'O que aconteceu lá foi um crime'

Questionado sobre crescentes gastos em contratações, presidente alvinegro rechaçou qualquer tipo de comparação com processo que ocorreu no principal rival, rebaixado à Série B e em grave crise financeira e institucional

Bruno Furtado João Vitor Marques Roger Dias Túlio Kaizer
Presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara, e ex-presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press Com uma das maiores dívidas do futebol brasileiro e envolto em problemas financeiros que atingem todo o país em meio à pandemia do novo coronavírus, o Atlético continua ativo no mercado. Nos últimos meses, contratou nomes renomados, como o técnico Jorge Sampaoli e o diretor de futebol Alexandre Mattos, e abriu os cofres - auxiliado por patrocinadores - em busca de reforços. O crescente investimento em um cenário tecnicamente adverso fez surgir comparações com o Cruzeiro, rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro e imerso numa profunda crise econômica e institucional. Porém, para o presidente alvinegro, Sérgio Sette Câmara, os paralelos com o arquirrival não fazem sentido.



No fim de fevereiro, o mandatário disse a célebre frase ‘aqui no Atlético não vamos cruzeirar’, em menção ao momento financeiro do adversário local. Em entrevista exclusiva ao Superesportes e ao Estado de Minas, Sette Câmara voltou a falar sobre o tema. Desta vez, o presidente atleticano fez uma análise mais profunda sobre o que aconteceu no Cruzeiro em 2019, quando denúncias de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, falsidade ideológica e outras irregularidades atingiram a gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do então vice de futebol Itair Machado.

Sette Câmara classificou como ‘crime’ o que se passou no Cruzeiro. “Não, o Atlético não vai ‘cruzeirar’. Até porque, quando eu fiz essa menção, eu quis dizer o seguinte: o que aconteceu lá, vamos e convenhamos, foi um crime”, disse. “Respeito tem que haver, até por conta da história do clube. E ali não houve respeito por quem estava lá. O que aconteceu ali não foi só uma questão de fazer investimento. Fazer investimento irresponsável é diferente do que nós estamos fazendo. Muito diferente”, analisou.

Segundo Sette Câmara, integrantes do Conselho Gestor do Cruzeiro, responsáveis pelo processo de transição política no clube até que o atual presidente Sérgio Santos Rodrigues fosse eleito, contaram-lhe detalhes dos motivos que geraram tamanha crise. “O que aconteceu lá foi, e eu posso dizer isso, porque tenho muitos amigos que estiveram ali no grupo que assumiu o Cruzeiro logo depois, o grupo gestor. E são empresários sérios, competentes, gente qualificada para poder me dizer o que efetivamente ocorreu ali. Eles falaram que foram tantas as aberrações que clube nenhum estaria de pé diante daquilo que aconteceu”, afirmou.


Rebaixamento

As crises financeira e administrativa refletiram em campo. Ao fim da última temporada, o Cruzeiro foi rebaixado pela primeira vez à Série B do Brasileirão. O descenso do maior rival gerou uma série de comemorações de torcedores, jogadores e dirigentes atleticanos. Passados mais de seis meses da queda, Sérgio Sette Câmara disse que ‘sempre torce contra’, mas admitiu que o futebol mineiro perde com a presença de apenas um grande clube na Primeira Divisão.

“O Cruzeiro é uma instituição muito respeitada e com uma torcida enorme, um clube que é nosso rival, mas que eu, que me considero um dirigente da nova geração, uma pessoa que olha para o futebol como um todo... Quem disser que foi bom para o futebol mineiro como um todo que o Cruzeiro fosse para a Série B, como o Atlético também anos atrás ou que o América continue na Série B, como desportista, esta pessoa não está falando sério. Agora, é claro que, como atleticano que sou, a gente vai estar sempre torcendo contra, sempre fazendo aquelas alfinetadas, aquelas brincadeiras, mas sempre com o cunho de manter essa cultura da rivalidade, mas num alto nível, num bom tom”, disse.

Pressão

Eleito em 2017, Sérgio Sette Câmara passou os primeiros anos do mandato pressionado por falta de bons resultados no Atlético e também pelos bicampeonatos mineiro (2018 e 2019) e da Copa do Brasil (2017 e 2018) conquistados pelo Cruzeiro. O presidente admitiu que o sucesso desportivo e os altos investimentos - que se provariam equivocados - do maior rival aumentaram a pressão sobre a gestão alvinegra.



“Durante um tempo, sofri muito por conta disso. Eles (Cruzeiro) fazendo lá uma gastança sem responsabilidade e, mais do que isso, não quero entrar no mérito, mas muitas coisas erradas aconteceram nesse período, envolvendo categorias de base, envolvendo comissões, envolvendo aumentos salariais inadequados, premiações absurdas como foi a da Copa do Brasil (2018), em que era um momento do clube jogar (o dinheiro) para dentro e tentar recuperar o investimento, mas praticamente distribuiu tudo ali entre as pessoas. Isso não acontece no Atlético. Nossa senhora! Está longe de acontecer”, disse.

Auditoria

Para Sette Câmara, a garantia de que o Atlético não vai ‘cruzeirar’ é o envolvimento de quatro empresas no processo de auditoria financeira do clube alvinegro. “O Atlético tem hoje quatro empresas de alto gabarito nos auditando e dando consultoria: a Ernst & Young, a ICTS, a Falconi, a Kroll. Essas empresas jamais entrariam num clube ou numa empresa para poder auxiliar na gestão se esse clube ou essa empresa não fosse séria, não tivesse transparência, não fosse séria, não estivesse fazendo movimentos corretos, ajustes internos”, disse.

“O Atlético de hoje tem controle de tudo, no nosso sistema SAP (sigla para o alemão Systeme, Anwendungen und Produkte in der Datenverarbeitung, cuja tradução livre é Sistemas, Aplicativos e Produtos para Processamento de Dados). Todas as compras e vendas - e vai de um papel higiênico até um jogador - passam pelo nosso sistema, estão todas registradas. O Atlético não tem nada a esconder, tudo é feito com a maior transparência possível. Nós ainda não lançamos nosso Portal da Transparência porque tivemos esse problema do coronavírus, mas é uma ideia que ainda será implementada este ano. Embora seja uma instituição privada, um clube de futebol tem uma conotação quase de uma instituição pública. O clube pertence aos sócios, aos conselheiros, mas, sobretudo, aos torcedores. Eu acho que quem não deve não teme. Nós vamos deixar tudo muito às claras”, garantiu.


Investimentos

Só durante o período de pandemia, o Atlético se reforçou com cinco jogadores: o zagueiro Bueno, os volantes Alan Franco e Léo Sena, além dos atacantes Marrony e Keno. Como tem sido praxe no clube, a maioria das contratações contou com aporte de patrocinadores, como o Banco BMG e a construtora MRV.

No acordo com os empresários responsáveis por administrar o BMG e a MRV, o Atlético deverá devolver o dinheiro investido depois que vender os jogadores adquiridos. “Esses valores são entregues ao Atlético sem juros e sem correção monetária. O Atlético sequer tem que dar garantia”, disse Sette Câmara.

“Tudo isso me parece que não tem nada de próximo de ‘cruzeirar’. Muito pelo contrário. Estamos procurando e encontrando alternativas muito interessantes e viáveis para que o clube possa sair desta situação em que estamos. Só vamos conseguir sair desta situação financeira ruim em que nós estamos em relação ao nosso dia a dia se nós encontrarmos soluções criativas, como, por exemplo, essa última da camisa, o ‘Manto da Massa’. Você não tenha dúvida nenhuma que o sucesso da camisa está atrelado ao amor e à paixão que a torcida tem pelo clube e também porque ela está enxergando que o nosso trabalho está sendo sério, competente e que vai dar retorno, até por conta das contratações que estamos fazendo”, finalizou.



A entrevista

Sérgio Sette Câmara concedeu entrevista exclusiva ao Superesportes e ao Estado de Minas. Na conversa, o presidente falou sobre finanças, contratações, política, relação com o técnico Jorge Sampaoli, Arena MRV, rivalidade com o Cruzeiro e vários outros temas. As reportagens serão publicadas ao longo dos próximos dias. Veja o que já publicamos: