Terceira opção no gol alvinegro, Michael herdou a posição em momento peculiar. O ídolo Victor foi preservado da viagem para o Triângulo por ainda não apresentar boas condições de jogo, pois se recuperou recentemente de tendinite no joelho esquerdo. Já o jovem Cleiton, de 22 anos, muito elogiado pelas atuações na última temporada, está com a Seleção Brasileira Sub-23 na Colômbia para a disputa do Torneio Pré-Olímpico.
Michael teve infância humilde, seus pais viveram longo tempo da agricultura. O talento para a bola surgiu a partir dos 8 anos. Mesmo tendo nascido no Paraná, jamais jogou no estado natal. Um teste no São Paulo em 2010 levou o então menino que havia recém-completado 15 anos para atuar num dos clubes mais tradicionais do país. Na maior cidade do Brasil, no entanto, ele conviveu com críticas, viveu momento difícil e custou a se firmar como titular nas categorias inferiores. Acabou sendo mandado embora. Em 2013, o jovem goleiro teve um baque quando o seu melhor amigo, Diego Luiz, de 18 anos, com quem mantinha contato desde criança, morreu depois de um acidente de carro no Paraná.
O panorama começou a mudar quando surgiu a chance de fazer um teste no Atlético. O responsável direto pela sua vinda para Minas foi o preparador de goleiros Willian de Castro, hoje no Cuiabá, duas décadas como profissional e experiência na Seleção Brasileira Sub-17. Ele passou por um teste. Na época, o técnico era o Rogério Micale. “Dos profissionais, na época havia apenas o Victor e o Giovanni, pois os demais estavam machucados. Logo, puxaram nossos atletas do Sub-20 e eu fiquei sem goleiro. Foi aí que surgiu o Michael, que apareceu para o teste. Então decidi ficar com ele. Algumas pessoas até questionaram por causa da parte técnica dele. Mas o tempo foi passando, ele amadureceu, mostrou personalidade e nos ajudou muito na base. O Chiquinho também abraçou a causa e puxou o Michael para o profissional”.
De acordo com Willian, Michael sofreu certa resistência no Galo por não ter os fundamentos bem trabalhados: “Quando ele chegou, havia sido dispensado do São Paulo. Era um goleiro que não tinha a parte técnica tão apurada. Mas nós no Atlético sempre mantivemos a paciência e vimos qualidade nele. Por causa de sua capacidade, ele continuou com a gente. E hoje ele está bem”.
De acordo com o preparador, Michael mantém uma personalidade calma, que o ajuda nos gramados: “É um jogador muito tranquilo, do bem, que se cuida bem, de família, profissional e responsável. Não tem como não ter orgulho pela estreia dele. Você tira o Victor hoje, o restante dos goleiros é da base. Pena que não posso dar um abraço, como fiz com o Cleiton, quando se tornou titular”.
De lá para cá, Michael esteve no Guarani (Divinópolis), Novorizontino e atuou pelo extinto time de aspirantes do Galo. A chance de jogar pelo time principal do Atlético nunca veio de fato. Desde 2017, ele passou a treinar com o grupo principal. Quando poderia ser o início de uma trajetória no Galo, Michael passou por outro momento difícil: teve fratura no ombro esquerdo e ficou quatro meses sem atuar.
Com as ausências de Victor e Cleiton, Michael recebeu apoio de ninguém menos que o técnico Rafael Dudamel, que atuou por quase duas décadas debaixo das traves. O recém-chegado treinador elogia a boa safra de goleiros do clube: “Temos Victor, Michael, Fernando e em projeção também o Matheus Mendes. Quatro goleiros em etapas diferentes em suas carreiras, mas que têm capacidade para ser garantia no gol do Atlético. O mais importante é que eles possam estar saudáveis, bem preparados e desenvolver no gol”.
Cobrança
A estreia de Dudamel é vista com expectativa pela torcida. Mas a tendência é que o time que entre em campo ainda esteja longe do ideal, seja pela falta de preparo físico dos atletas ou pelos desfalques. O treinador chega ao Galo para implantar um novo estilo de jogo e rejuvenescer a equipe titular, que no ano passado tinha média de idade de quase 30 anos. Durante as quase duas semanas de trabalho na Cidade do Galo, o treinador pouco mostrou o que colocará em campo hoje. No contato diário no CT de Vespasiano, ele se acostumou a cobrar muita intensidade dos atletas. “O jogador tem que demonstrar o maior desejo de triunfar. Senão, pode ir para outro lugar”, afirmou o treinador.
Além de Victor e Cleiton, o Galo não contará com Guga, que serve à Seleção Sub-23 na Colômbia. O armador Cazares, em negociação com o Al-Ahli, da Arábia Saudita, ficou de fora da estreia. O Atlético teria recebido uma proposta de R$ 11 milhões pelo jogador, que tem vínculo somente até o fim do ano e poderá assinar pré-contrato a partir de julho.
Dos reforços, o volante Allan (ex-Fluminense) e o armador Hyoran (ex-Palmeiras) são os que mais têm chance de estrear nesta noite. O armador Dylan Borrero viajou com o grupo, mas depende de regularização na CBF para entrar em campo.