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Entenda como a líder política Eva Perón foi fundamental na ascensão do Colón, rival do Atlético

Clube se firmou no cenário nacional com ajuda da atriz, que é símbolo da Argentina

João Vitor Marques
Momento em que Eva Perón dá o pontapé inicial do clássico de Santa Fe - Foto: Reprodução/El Litoral
Na tarde de 7 de dezembro de 1947, Eva Perón colocava fim à ansiedade de jogadores do Colón-ARG pela disputa do aguardado clássico de Santa Fé contra o Unión-ARG. A atriz e líder política, principal responsável pela lei que garantiu às mulheres argentinas o direito de votar, deu o pontapé inicial no estádio para o qual ‘emprestaria’ o nome anos mais tarde. Mas as ligações de Evita com o adversário do Atlético na semifinal da Copa Sul-Americana não param por aí.

A relação com o peronismo - movimento baseado nas ideias do ex-presidente Juan Domingo Perón, com quem Eva foi casada - data de tempos antes. O Colón-ARG, fundado em 1905, lutava nos bastidores para conseguir se filiar à Associação de Futebol Argentino (AFA) e disputar torneios em âmbito nacional. Para isso, os dirigentes do clube recorreram a líderes governistas.

“As barreiras das equipes de Buenos Aires, da própria Liga Santafesina e do jornalismo tornaram a situação muito difícil. Por isso, através de Waldino Suárez, então governador de Santa Fé, os dirigentes conseguiram se reunir com representantes do governo. Em 30 de maio de 1947, a AFA aceitou o pedido, e o Colón-ARG foi habilitado a participar da Segunda Divisão”, conta ao Superesportes o jornalista Diego Meloni, da Equipe de Investigação Histórica do Colón-ARG, que não tem vínculo oficial com o clube.

Aparece, então, a figura de Eva Perón, que já havia apoiado a filiação do clube à AFA. A atriz e então primeira-dama deixou a capital Buenos Aires e viajou mais de 400 quilômetros rumo a Santa Fé.
Lá, cumpriu extensa agenda de compromissos políticos antes de ser recebida como heroína no estádio do Colón-ARG, inaugurado oficialmente em 9 de julho de 1946.

Multidão recepcionou Eva Perón na Praça 25 de Maio, em Santa Fé - Foto: Reprodução/El Litoral

Rodeada de jogadores e árbitros, Eva era a protagonista de um espaço que historicamente excluiu mulheres. Com ela nas tribunas, Colón-ARG e Unión-ARG disputaram um clássico que nunca terminou. Por falta de iluminação artificial no estádio, a partida precisou ser interrompida. “Naquele dia, Eva trouxe subsídio de 150 mil pesos para que o clube pudesse pagar por iluminação artificial, inaugurada em 1949. As torres permaneceram até a remodelação do estádio em 2001”, relembra Meloni.

Estádio Eva Perón


A relação dos torcedores do Colón-ARG com Eva Perón se estreitou nos primeiros anos da década de 1950. Com raízes populares, a torcida ‘sabalera’ se via, de algum modo, representada por Evita, que passou parte da vida com projetos dedicados a ajudar os mais pobres.

“Eva Perón, como figura feminina, foi muito carismática e muito importante, porém o peronismo, em geral, não reconhece toda a trajetória socialista, anarquista, radical anterior. Eva Perón era uma mulher absolutamente carismática, com uma energia muito forte, com uma implícita, eu diria implícita, reivindicação de classe, por pertencimento próprio”, disse a filósofa feminista argentina María Luisa Femenías, em entrevista às pesquisadoras brasileiras Carmen Sílvia Moraes Rial e Miriam Pillar Grossi.

Quando se aproximava da morte, Eva foi homenageada por torcedores do Colón-ARG. “Em 1952, nas tribunas do clube se organizaram missas para rezar pela saúde dela. Depois da morte, em 26 de julho daquele ano, a diretoria decidiu perpetuar seu nome, e o estádio foi chamado Eva Perón”, conta Meloni.

'El Litoral', periódico de Santa Fé, deu destaque à visita de Eva - Foto: Reprodução/El Litoral

Nome proibido


Pouco durou o período de homenagem a Eva. Em 1955 - ano em que militares derrubaram Juan Domingo Perón do poder -, todos os nomes que faziam alusão ao peronismo foram proibidos na Argentina. A partir daí, o estádio passou a se chamar Brigadier General Estanislao López, nome que permanece até hoje.

Estanislao López foi um caudilho argentino e governador da província de Santa Fé entre 1818 e 1838. “Em tempos de banimento de tudo o que era vinculado ao peronismo, e que isso poderia ocasionar problemas ao clube, os dirigentes decidiram que o nome de López gerava consenso na sociedade e não receberia nenhum questionamento”, diz Meloni.

Cemitério dos Elefantes?


O estádio, porém, é mais conhecido pelo apelido “Cemitério dos Elefantes”, que faz referência a grandes esquadrões do futebol mundial que foram batidos pelo Colón-ARG no local. Equipes como o Santos de Pelé, a Seleção Argentina, o Peñarol-URU, então campeão mundial, e os poderosos River Plate-ARG e Boca Juniors-ARG sucumbiram diante dos donos da casa.

E é lá onde o Atlético jogará nesta quinta-feira, a partir das 21h30.
As equipes fazem o jogo de ida da semifinal da Copa Sul-Americana. A volta será na quinta seguinte, no mesmo horário, no Mineirão. O time que avançar enfrentará o vencedor do duelo entre Corinthians e Independiente Del Valle-EQU.

Transmissão exclusiva do DAZN


Atlético e Colón-ARG se enfrentam nesta quinta-feira, a partir das 21h30, pela partida de ida da semifinal da Copa Sul-Americana. O jogo no Estádio Brigadier General Estanislao López, em Santa Fé, interior da Argentina, terá transmissão exclusiva do DAZN, plataforma de streaming esportivo. Clique aqui para ter acesso!

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