Durante os dias que antecederam a votação, Cadar questionou os resultados financeiros do Atlético. O clube apresentou déficit de R$ 21,8 milhões em 2018, temporada que o presidente Sérgio Sette Câmara classificou, seguidas vezes, como um momento de recolocar as finanças no lugar.
Os questionamentos públicos repercutiram internamente e irritaram a diretoria do Atlético, que se posicionou na reunião dessa segunda-feira. Cadar revelou que teme a possibilidade de ser excluído do Conselho Deliberativo.
“Eles (conselheiros) deixaram claro que vão iniciar um processo disciplinar contra a minha pessoa. Isso foi falado lá dentro. Vamos aguardar, ver o que vai acontecer. Se acharem por bem me expulsar do conselho, que expulsem. É uma pena, infelizmente. Se acharem que esse é o caminho a ser seguido, que seja. Não tenho muito apego a ser conselheiro ou não do Galo. Tenho apego a ajudar ao Galo, estando no conselho ou não. Esse é o meu papel”, disse Cadar.
No entendimento de alguns conselheiros, expor antecipadamente questionamentos que, oficialmente, poderiam ser apresentados na reunião dessa segunda, feriu regras de conduta. Na última quarta-feira, Cadar chegou a protocolar um ofício com os pontos do balanço que gostaria que fossem discutidos antes da votação.
Para que o processo de investigação se inicie, é preciso que o seguinte rito seja cumprido:
1) Algum conselheiro protocolar uma denúncia contra Cadar junto ao presidente do Conselho Deliberativo, Rodolfo Gropen
2) Rodolfo Gropen repassa a denúncia ao presidente do conselho de ética, José Murilo Procópio de Carvalho, responsável por iniciar e comandar as investigações
Presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Rodolfo Gropen também comentou a situação. “Posso dizer que houve algumas manifestações contrárias à atitude do conselheiro Márcio Cadar, que, ao invés de tentar esclarecer aqui e falar depois o que não concordou, ele foi à imprensa. Alguns conselheiros não gostaram disso”, disse.
Na última terça-feira, Cadar explicou ao Superesportes os questionamentos ao balanço financeiro do Atlético. Nessa segunda, ele afirmou que as declarações à imprensa pesaram negativamente e aumentaram as críticas internas dos outros conselheiros.
“Dizem que eu falei em uma live que o Conselho seria uma vaquinha de presépio. Na verdade, eu estava me referindo à minha pessoa, dizendo que não sou vaquinha de presépio, e que não votaria (só) por que todos votaram a favor. Votaria com a minha consciência. Esse balanço não me permitiu votar com a minha consciência a favor da aprovação dele”, disse Cadar, após a reunião.
Presidente do conselho fiscal do Atlético, Sérgio Leonardo explicou os questionamentos feitos a Cadar por outros conselheiros. “O assunto era para ser debatido aqui, havia convocação e pauta. O assunto foi antecipado desnecessariamente na internet. Essa é a única falta. Por ser um assunto sensível o assunto de contas, quando você faz essa exposição pública, você coloca as pessoas que tem a responsabilidade de cuidar do assunto em dúvida. Toda a torcida atleticana ficou em dúvida se havia ou não lisura em procedimentos que eram absolutamente corretos e lícitos. Essa dúvida, essa mancha que se tentou colocar na direção do Atlético vai contra a própria instituição, o Clube Atlético Mineiro”, disse.
Cadar se explicou: “Eu até entendo o momento, o Sérgio (Sette Câmara, presidente do Atlético) está sofrendo pressão da torcida, pressão por resultados. Reafirmo que jamais, em momento algum, questionei a lisura e a integridade do presidente, simplesmente questionei dados técnicos. Em momento algum questionei a integridade de nenhum representante da diretoria e de nenhum conselheiro. Eu simplesmente questionei em números o que já havia questionado anteriormente. A grande questão foi o modo que fiz, uma maneira aberta nas redes sociais”, disse.
Até a falência de uma empresa que Cadar administrava virou argumento contra os questionamentos ao balanço financeiro do Atlético. “Saio daqui com minha cabeça tranquila e erguida, apesar das tentativas de quererem falar comigo de coisas que não têm absolutamente nada a ver, coisas de 20 anos atrás. Falaram que eu não tinha moral para falar de balanço porque minha empresa faliu. Fali, e sou o que sou hoje justamente por ela ter falido, por eu ter aprendido, ter recomeçado minha vida, hoje muito melhor do que a época que fali. Fali pagando todas as minhas dívidas com o maior orgulho. É uma coisa que acontece com todos os empresários brasileiros, se não viveram com isso estiveram perto de viver com isso”, completou.